Com a proximidade do primórdio das Olimpíadas de Paris, e com o número de participantes do Brasil definido (serão 276, com 153 mulheres e 123 homens), uma questão é pertinente: o que se espera deles na maior competição multiesportiva do mundo?
Em Tóquio 2020, Jogos realizados unicamente em 2021 devido à pandemia de coronavírus, o Brasil teve 301 competidores e amealhou 21 medalhas, sua melhor marca histórica. Foram sete ouros, seis pratas e oito bronzes.
A quantidade de láureas douradas (sete) igualou o recorde das Olimpíadas anteriores, a do Rio-2016, quando o totalidade de conquistas parou em 19 (com seis pratas, seis bronzes).
As 21 condecorações serviram para posicionar o Brasil na 12ª colocação no quadro de medalhas, seu melhor desempenho, superando o 13º lugar no Rio de Janeiro.
E agora? Nos Jogos franceses, cuja cerimônia de rombo será na sexta-feira (26), é factível que a delegação vernáculo supere a performance vista no Japão?
Qual a expectativa do COB (Comitê Olímpico do Brasil)? Em quais atletas e modalidades a entidade aposta? Quais serão as surpresas positivas? Em que posição espera-se que o Brasil fique? O top 10 é verosímil?
Fiz essas perguntas ao comitê, e elas foram respondidas por email pelo diretor-geral do COB e dirigente da Missão Brasileira nos Jogos Olímpicos de Paris, Rogério Sampaio, 56.
“O COB tem sempre por objetivo evoluir em suas participações nas principais competições em que organiza a delegação brasileira”, diz o ex-judoca, medalhista de ouro nas Olimpíadas de Barcelona-1992. “Nosso resultado é medalha.”
A asseveração dele é reforçada pelo presidente do comitê, Paulo Wanderley, 73, ex-comandante da Confederação Brasileira de Judô e mandatário do COB desde 2017.
“A cada duelo, a cada edição de um evento multiesportivo, temos porquê meta suplantar os resultados anteriores”, escreveu na apresentação do “Guia Time Brasil Paris 2024”, publicação que traz informações sobre os esportistas do país que estarão nos Jogos franceses.
Se ter desempenho superior ao de Tóquio é propósito pronunciado do COB, Sampaio não estipula, entretanto, o número de medalhas esperadas ou a posição que o comitê tem em mente para o Brasil nesta edição olímpica.
“A evolução não é medida unicamente pelo número de medalhas. O COB leva em conta também o número de finais disputadas, a quantidade de modalidades que chegam a uma disputa de final e até mesmo a evolução de atletas e equipes durante a Missão.”
O dirigente do Time Brasil não mencionou um único esportista em que se deposita esperança de pódio, nem mesmo a ginasta Rebeca Andrade ou o canoísta Isaquias Queiroz, ambos medalha de ouro em Tóquio e nomes fortes e respeitados em seus esportes. Não citou também possíveis surpresas.
O dirigente prefere traçar um quadro universal do que espera do Time Brasil baseando-se em uma risca evolutiva em relação a Jogos anteriores e tendo porquê base resultados registrados em 2023.
No ano pretérito, de concordância com ele, destacaram-se ginástica (artística, principalmente, e rítmica), atletismo, boxe, judô, surfe, skate, taekwondo, tiro com círculo e vôlei de praia. “Essas modalidades estão se projetando porquê candidatas a medalha em Paris.”
“Medalha a gente sempre quer, mas eu palato sempre de pensar que o resultado é consequência do que eu faço [nos treinos] todos os dias e muito do que eu vou fazer na competição também. Mas eu espero que venham muitas medalhas” disse à Folha Rebeca Andrade.
A ginasta de 25 anos, que ganhou um ouro (salto) e uma prata (individual universal) nas Olimpíadas em 2021 e é dona de nove medalhas em Mundiais, buscará seis pódios (cinco em provas individuais e um com a equipe) na capital francesa.
Caso a principal estrela do Brasil em Paris seja muito bem-sucedida, ultrapassar a marca de 21 pódios ficará muito menos difícil.
Se não, com a suposição de que tanto a ginástica porquê os outros esportes que “medalharam” em Tóquio repitam suas performances, o país possivelmente dependerá de modalidades que nunca ganharam ouro, prata ou bronze em Olimpíadas.
Em sua projeção, Sampaio deu a entender que uma melhora na classificação olímpica brasileira virá se o país conseguir medalhas em mais modalidades –em Paris, haverá brasileiros em 39 das 48– do que em edições anteriores.
De concordância com o ex-judoca, “o Brasil vem incrementando o número de modalidades com medalhas olímpicas a cada edição de Jogos Olímpicos, de maneira gradual e perene”.
Até Atenas 2004, o país havia ido ao pódio em 11 modalidades: atletismo, basquete, boxe, futebol, hipismo (saltos), judô, natação, tiro esportivo, vela, vôlei e vôlei de praia.
Desde portanto, o progresso mostrou-se evidente.
“A partir daí, em todas as edições de Jogos Olímpicos, o país subiu ao pódio em alguma modalidade novidade”, afirma Sampaio. “Em Pequim 2008, foi o taekwondo; em Londres 2012, ginástica artística e pentatlo moderno; na Rio 2016, águas abertas e canoagem velocidade; e em Tóquio 2020, skate, surfe e tênis.”
Agora, em Paris, os esportes mais cotados para “perder a virgindade” de pódio são tiro com círculo (o equipamento são o círculo e a flecha), ginástica rítmica (apresentações com fita, maças, círculo, esfera e corda) e tênis de mesa (raquete mais bolinha, o popular pingue-pongue).
Marcus D’Almeida é o líder do ranking mundial de tiro com círculo; a equipe de ginástica rítmica terminou em quinto e sexto lugar nos dois Mundiais mais recentes; e Hugo Calderano ocupa a sexta posição no ranking do tênis de mesa.
“Nas últimas sete edições de Jogos Olímpicos”, conclui Sampaio, recorrendo à estatística para falar sobre o quadro de medalhas, “58% dos países que ficaram do quarto ao décimo lugar tiveram de 10 a 15 modalidades no pódio”.
Em Tóquio 2020, o Brasil “medalhou” em 13 (atletismo, boxe, canoagem velocidade, futebol, ginástica artística, judô, maratona aquática, natação, skate, surfe, tênis, vela e vôlei), num pretérito olímpico recente que faz do top 10, teoricamente, um sonho não tão distante.