Parkour Espreita Jogos Olímpicos Dos Telhados De Paris 05/08/2024

Parkour espreita Jogos Olímpicos dos telhados de Paris – 05/08/2024 – Esporte

Esporte

A cerimônia de sinceridade dos Jogos Olímpicos deste ano teve a presença manente de uma misteriosa figura que aparecia carregando a labareda sagrada pelos icônicos telhados de Paris. Ela usava técnicas de parkour, prática desenvolvida na França, nos anos 1990, que envolve corridas, escaladas e saltos em obstáculos urbanos.

Esse foi o lugar solene da atividade na edição 2024 do megaevento. Porquê uma referência cultural do país que a recebe, não uma vez que um esporte. Agora, seus praticantes tentam se entender a reverência da possibilidade de integrar de traje o programa olímpico, que abraçou outras modalidades tidas uma vez que transgressoras, uma vez que o skate e o breaking.

A tradicional Place de la Concorde, que abriga o milenar Obelisco de Luxor, virou um parque urbano devotado especificamente aos esportes radicais e ao basquete 3×3, também ligado à cultura de rua. Montado com estruturas temporárias para os Jogos, o espaço foi provisoriamente rebatizado de Parc Urbain La Concorde.

Estão longe dele os praticantes do parkour, afastados por um reforçadíssimo esquema de segurança –evitar ameaças terroristas, em um país com vasto histórico de atentados, tem sido prioridade. Mas isso não quer proferir que eles não estejam na cidade, escalando, saltando e cumprindo sua vocação de testar limites.

“O parkour nasceu nos subúrbios de Paris”, lembrou à Folha o suíço Caryl Cordt-Moller, 24, membro da La Frappe Society, grupo que vem explorando a capital francesa durante os Jogos. “Existem alguns pontos bastante icônicos. E os telhados de Paris são extremamente acessíveis. Você sobe ao último caminhar e lá há alçapões que você pode perfurar.”

O alçapão que ainda não foi crédulo é o das próprias Olimpíadas. O parkour passa hoje pelo dilema que já viveu o skate: manter a pureza do movimento, com a teoria de rompimento, de ocupação de espaços não autorizados, ou buscar destaque uma vez que modalidade esportiva, enquadrando-se nas inescapáveis regras desse tipo de atividade.

Não há consenso entre os praticantes. Cordt-Moller, por exemplo, é um entusiasta da possibilidade de lucrar o caráter solene, pela exposição e pelas possibilidades de patrocínio que isso traria. Sua namorada, a francesa Orane Florinda, 25, acha que o salto seria prematuro neste momento, sem um sistema de pontuação muito estabelecido.

“Mal um esporte entra nas Olimpíadas, ele explode, as marcas ficam interessadas. É uma coisa boa, pode levar o esporte longe, pode permitir que pessoas uma vez que nós se profissionalizem e sejam levadas a sério. Muitas vezes, somos vistos uma vez que crianças fazendo qualquer coisa na rua. Meu objetivo é viver do esporte, e os Jogos são claramente uma porta de ingressão”, disse Cordt-Moller.

“Mas o problema, talvez, seja a imagem que será passada ao público”, respondeu Florinda. “É isso o que mais tememos. Qual é a imagem que vamos passar? Portanto, não queremos que chegue assim, tão cedo. Você precisa ter desvelo para que seja bem-feito”, acrescentou, referindo-se às dificuldades para o estabelecimento de um critério técnico para as notas.

O parkour teve competições organizadas pela FIG (Federação Internacional de Ginástica), com resultados insatisfatórios. Houve em 2022 a realização de um primeiro Mundial, em Tóquio, com uma série de questionamentos sobre os critérios adotados, sobretudo na categoria freestyle. Em vez de explorar ao supremo o envolvente, alguns competidores simplesmente repetiram movimentos que valiam pontos.

Tem sido manente a procura de um formato mais interessante e mais leal aos princípios do parkour. Porém, enquanto modalidade esportiva, ele está sob o guarda-chuva de uma federação internacional, com todas as suas burocracias. São lentos os processos e as votações para a implementação de mudanças e um padrão ideal ainda parece distante.

E, de novo, além da questão prática do estabelecimento de um parâmetro para as avaliações, existe o debate a reverência da própria existência das avaliações. Os atletas –são atletas, geralmente muito muito preparados, estando ou não em um esporte instituído– transitam no que chamam de dimensão cinza, alguma coisa que muitas vezes borda a ilegalidade e não cabe em uma disputa com regras rígidas.

“Na grande maioria das vezes, estamos em espaços públicos acessíveis e totalmente legais. Mas, obviamente, às vezes subimos nos telhados. A legislação varia de conformidade com o país, o chegada aos telhados é uma zona meio cinzenta, ainda incomoda as pessoas. Quantas vezes não fomos abordados por policiais?”, afirmou Cordt-Moller.

“Sempre tentamos explicar às pessoas o que estamos fazendo. Não estamos no modo bandido, não vamos dar um pulo e fugir da polícia. Aliás, diversas vezes, os policiais foram superlegais com a gente. A maioria conhece, alguns até praticam. Não nos é vantagoso fazer isso ilegalmente. Acontece de fazermos coisas ilegais, mas não vamos destruir zero, somos super-respeitosos”, acrescentou.

É buscando um estabilidade nessa risco que os praticantes do parkour vivenciam os Jogos Olímpicos. Espreitam-no dos característicos telhados de zinco da capital francesa, enquanto skatistas e ciclistas BMX se apresentam em arenas montadas pela organização de Paris-2024, são aplaudidos e recebem medalhas. Um mundo distante, ainda que próximo.

“São dois mundos complementares”, observou o franco-suíço Quentin Säuberli, também membro da La Frappe Society. “Por um lado, você tem o parkour uma vez que atividade esportiva, a técnica, tudo o que é apresentado do ponto de vista físico. Por outro, tem a cultura da exploração do envolvente, de buscar desafios em espaços que podem ser perigosos, arriscados, no limite da ilegalidade.”

Há, simples, distinções entre as modalidades, porém os defensores da inclusão do parkour nos Jogos lembram que não houve prejuízos ao skate com seu ingresso no programa olímpico. O padrão de competição –com vasto sucesso do Brasil, possessor de três medalhas– não sufocou a “cultura de rua”, frase repetida a todo momento, protegida com afinco pelos puristas.

“Entendo perfeitamente que queiram manter um pouco a cultura de rua, entendeu? Não vai extinguir. O skate hoje está nas Olimpíadas, mas é uma minoria que participa de competições oficiais, de competições internacionais. O que temos uma vez que tecido de fundo é uma comunidade enorme com a mesma cultura que existe há anos”, disse Cordt-Moller.

“Isso não vai ser desvanecido. A origem nunca desaparecerá.”

Folha

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