O violonista, compositor, arranjador e professor carioca Patrick Angello, 40, lança nesta sexta-feira (2), nas plataformas de streaming, “Violão Afro-Brasílico” (Kuarup), seu primeiro álbum solo, embora pareça ser o trigésimo oferecido o eminente texto de maturidade existente no registro do instrumentista que acumula 22 anos de sólida curso.
Exímio violonista de 6 e 7 cordas, Patrick de Oliveira Angelo nasceu no Méier, bairro da zona setentrião do Rio de Janeiro, sítio onde cresceu criando fortes elos com a música. Elos tão significativos que o levaram a tornar-se músico profissional e adotar mais um “l” ao sobrenome para usá-lo porquê nome artístico, Patrick Angello.
O convívio com chorões da velha guarda porquê o seu avô Altair, espargido porquê o Azedinho do Bandolim, varão que organizava rodas de pranto frequentadas por músicos do Rio e de outros estados do Brasil, porquê o bandolinista Rossine Ferreira (1919-2001) e o compositor Claudionor Cruz (1910-1995), levaram o garoto Patrick a tomar sabor pela arte de matrimoniar os sons e iniciar a aprender violão.
Foi seu tio Cloves do Violão -violão de 7 cordas da Escola de Samba Primeira Estação de Mangueira- quem preparou o pupilo que depois passou pelas mãos e ouvidos dos mestres Horondino José da Silva, espargido porquê Dino 7 Cordas, (1918-2006), e Valdir Silva, o Valdir 7 Cordas, irmão gêmeo de Valter Silva, dois craques do seguimento quando o tema é pranto ou samba.
Ao atingir a maior idade, com 18 anos, Patrick passou a integrar o tradicional conjunto de pranto “Chapéu de Palha”, acompanhando, entre vários artistas, Elza Soares (1930-2022), Beth Roble (1946-2019), Roberto Silva (1920-2012), Pery Ribeiro (1937-2012) e Miltinho (1928-2014).
Dos 28 aos 30 anos, Patrick Angello atacou na orquestra de Elza Soares acompanhando-a em diversos shows. Gravações em álbuns foram muitas, figurando em discos de Altamiro Carrilho (1924-2012), Almir Guineto (1946-2017) e no CD, lançado em 2019, com obra de Geraldo Pereira (1918-1955) gravado pela Velha Guarda da Mangueira.
A novidade geração também reconheceu o talento de Patrick Angello e o escalou para registrar o som límpido de seu violão no álbum “O Que Vai Permanecer Pelo Salão” (2019), do cantor e cavaquinista Gabriel Cavalcante, 38, o Gabriel da Muda, além do álbum “Depois das Cinzas” (2011), do violonista e bandolinista Luis Barcelos, 37.
Porquê sideman de alguns mestres do samba, Patrick Angello fez muito som com Nelson Sargento (1924-2021), Dona Ivone Lara (1921-2018), Ataulfo Alves Junior (1943-2017) e Zeca Pagodinho, entre outros.
Experiências musicais que só acrescentam talento e bom sabor não lhe faltam. No teatro atuou porquê diretor músico de diversos espetáculos ligados à espalhamento da história do samba e do pranto, porquê o “Projeto Sambando e Chorando”, apresentado no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, em 2005.
Em 2004, o músico esteve na China, onde excursionou com o conjunto Samba Tipo Exportação. Durante os anos 2012, 2013 e 2014 realizou turnês pela Europa com seu trio formado por seu violão de 7 cordas, um cavaquinho e um pandeiro, instrumentos que soaram com muito sucesso no Festival de Jazz de Ancona, na Suíça, além de apresentações na Itália e Alemanha. Em 2020, o instrumentista fez uma turnê solo em Israel.
Recentemente o artista se apresentou na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, realizando a performance músico “Valongo – Afro-Brazilian Guitar” ao lado da artista e sua mulher Anita Ekman, responsável pela direção e retrato do vídeo “Mistérios de Exu”, que traz uma das belas composições de Patrick às telas. Assista ao vídeo no final do texto.
Leia, a seguir, a entrevista exclusiva que Patrick Angello concedeu ao blog Música em Letras.
Você aprendeu a tocar violão de 6 e 7 cordas com Cloves do Violão” (violão de 7 Cordas da Escola de Samba Primeira Estação da Mangueira), com Dino 7 Cordas e com Valdir Silva, o Valdir 7 Cordas. Quais foram as maiores lições que cada um desses mestres lhe ensinaram?
Todos esses foram meus mestres de violão de 7 cordas. Tive aulas formais com Dino 7 Cordas e Valdir Silva e com meu tio Cloves do Violão. Estudei com Dino nos últimos anos da vida dele, de 2000 até 2002. o Dino morreu em 2005 e com ele aprendi muito sobre repertório e técnicas específicas do violão de 7 cordas. Todavia o que Dino realmente me ensinou foi com sua convívio, pois dela absorvi os ensinamentos de porquê se deve portar um violão de 7 cordas numa roda de pranto, ter ensino, um reverência ao solista. O Valdir Silva foi meu rabi durante a vida toda. Comecei a estudar violão de 7 cordas com ele, quando tinha 18 anos. Ele me ensinou toda a sabedoria do instrumento. Com ele aprendi na prática porquê executar esse instrumento, através dos bailes e do regional “Chapéu de Palha”. Valdir foi um dos violões de 7 cordas mais importantes da música brasileira, na minha opinião, por ter gravado músicas antológicas com Gonzaguinha, Roberto Ribeiro e Elza Soares. A genialidade do contraponto que Valdir criou na música popular brasileira é alguma coisa que me inspira e que faz secção da minha música. Meu tio, Cloves do Violão, foi uma espécie de griô [indivíduo sábio capaz de preservar e transmitir canções, histórias e conhecimentos] na minha vida, pois foi ele que me apresentou todas essas pessoas. Tive aulas particulares no morro da Matriz, onde ele morava, e também frequentava a escola de música que ele fundou, na Penha Circunvalar, zona da Leopoldina do Rio de Janeiro. Ele me carregava para o morro da Mangueira e para todos os lugares que ia tocar, me formando não só porquê instrumentista, mas porquê pessoa. Foi meu primeiro professor de violão, aos 17 anos.
Porquê o violão de 6 cordas apareceu para você?
Já o violão de 6 cordas entrou na minha vida ouvindo Raphael Rabello. Eu era aficionado pelo Raphael desde os 16 anos. Escutei e tenho toda sua discografia. Comecei a estudar sozinho a escola do violão clássico para aprender a fazer o que ele fazia, estudando desde Tarrega até Bach e Villa-Lobos. Mas também tinha minha paixão pelo violão flamenco. Sou autodidata no violão de 6 cordas e só depois fui estudar formalmente com o violão de 7 cordas.
Porquê você avalia o pranto tocado atualmente em relação ao pranto do pretérito?
Muito, eu cresci escutando pranto, as rodas autênticas feitas no subúrbio do Rio de Janeiro pelos velhos chorões. Isso faz de mim, de certa forma, um saudosista, pois a genialidade daqueles velhos estava na simplicidade de executar uma música tão complexa porquê o pranto criando uma improvisação singela, sem exageros de notas. Essa maneira de se tocar o pranto no subúrbio do Rio de Janeiro expressa uma delicadeza, uma magia de uma quadra. Aquelas pessoas viviam e expressavam, na música instrumental, uma maneira humilde de se colocar no mundo. Atualmente está faltando um pouco mais de originalidade em manter as tradições do violão de 7 cordas, do violão de 6 cordas e do “violão pé de boi”, o violão que conduz as levadas.
Porquê você avalia o samba tocado atualmente em relação ao samba tocado anteriormente?
Assim porquê o pranto, é a mesma resposta que eu lhe dou. Os bambas do samba expressavam através da música alguma coisa que vai muito além de notas musicais, de uma melodia interessante ou de um ritmo quente. É a sentença da maneira de viver e da resistência das comunidades do morro e do subúrbio cariocas. Cheguei a seguir Nelson Sargento, Dona Ivone Lara, Tantinho da Mangueira e tanto sambista do morro, Velha Guarda da Mangueira, Velha Guarda do Estácio, até a “Vó Maria” (esposa do Donga), o Xangô da Mangueira, Rubens Confete e Zédi do Salgueiro. A força verdadeira do samba sempre esteve com eles. É um duelo que enfrentamos, nós da novidade geração, manter a memória desses mestres viva.
Descreva sua última experiência tocando nos Estados Unidos.
Foi uma experiência incrível, porque foi a primeira vez que pude tocar minhas próprias composições e me apresentar solo. Proteger a espírito da música brasileira através do violão e sentir que as pessoas se identificam com a mensagem que está sendo passada através da música é muito gratificante. Toquei recentemente, em maio de 2024, no consulado do Brasil em Boston. Foi um concerto para as florestas brasileiras, mesclando um repertório de composições próprias, porquê “Mistérios de Exu”, e releituras de peças de João Pernambuco (“Graúna”) e arranjos próprios de composições porquê “Passarim”, de Tom Jobim. Foi gratificante ver, por exemplo, a emoção do público brasiliano que chegou a trovar junto com o violão. A linguagem da música instrumental alcança essa façanha, o público é capaz de sentir a linguagem do invisível. Quando tocamos, transmitimos uma mensagem que transborda, está para além da termo, nos atravessa e alcança uma espécie de sentimento, a própria maneira do sentir o dia a dia do Brasil, de ser brasiliano. Na Universidade de Indiana, em 2023, apresentei para um público formado principalmente por músicos da Jacobs School of Music minhas próprias composições. O que experimentei foi uma sensação de identificação dos ouvintes com o que eles estudavam na universidade, mas também com a surpresa da levada do violão brasiliano, que faz uma fusão privativo com os ornamentos da música clássica e dos afro-sambas.
O que isso lhe acrescentou?
Me acrescentou a vontade de continuar compondo, pois senti que não preciso ocupar unicamente o lugar de seguimento. Me mostrou que ainda existe lugar para leste tipo de música que libido produzir.
Defina o álbum “Violão Afro-Brasílico”.
Se eu fosse definir musicalmente, eu poderia expor que o álbum apresenta composições de um violão solo, uma fusão entre os gêneros porquê pranto, afro-sambas, maxixe com ornamentos de música clássica e flamenco. Mas existem algumas das composições que eu mesmo não enquadro em nenhum gênero espargido, sinto que é uma elaboração instrumental, criada a partir de memórias sonoras e afetivas que dizem reverência, ao mesmo tempo, às raízes do morro da Matriz, o ijexá no caso do “Mistérios de Exu” ou a vivenda de reza guarani de Carlos Papa, que participou na tira “Oxossi Cabloco” , é uma espécie de paisagem sonora da minha maneira de sentir o oceano Atlântico e a Mata Atlântica.
Quais dificuldades encontrou ao gravar leste álbum?
Eu gravei esse álbum em unicamente um dia no estúdio Araras, em Teresópolis, com o engenheiro de áudio Sérgio Lima Netto. Embora tenha gravado centenas de músicas em discos de outros músicos, nunca encontrei tempo e recursos para fazer o meu próprio álbum. Considero leste o grande duelo, confiar que é provável para um compositor brasiliano de música instrumental e para o violão ocupar um lugar.
Faça um tira a tira do álbum “Violão Afro-Brasílico”.
As composições são todas de minha autoria. “Mistérios de Exú” foi composta em 2023, no cemitério de Williantown, nos Estados Unidos. Ela é uma peça para violão onde expresso minha própria conversa com Exu. Traz numa só música toques de ijexá e outros gêneros porquê flamenco, música clássica e pranto. Ela foi a música de buraco da performance “Valongo – Afro-Brazilian Guitar” em releitura das gravações de Lorenzo Dow Turner feitas nos candomblés da Bahia, entre os anos de 1940 e 1941.
“Tiê-Sangue” é uma valsa composta também em 2023, em homenagem ao meu fruto Tiê e ao mesmo tempo ao pássaro que é símbolo da Mata Atlântica.
“Baleias” é uma música instrumental anterior às outras, de 2022, composta em Ubatuba, São Paulo, em homenagem ao oceano Atlântico.
“Pau-Brasil” é um maxixe que fiz em 2023 em homenagem a árvore que dá nome ao Brasil, e traz uma espécie de conversa entre um colonizador e os povos indígenas.
“Lágrimas de Iemanjá” é um pranto de 2023 criado durante minha estadia na Universidade de Indiana para a performance “Valongo – Afro-Bbrazilian Guitar” e é uma homenagem a Iemanjá e aos cabelos de minha mulher Anita, que lembram as ondas do mar.
“Oxóssi Mestiço”, também de 2023, é uma música instrumental para violão, uma espécie de mantra criado para a Reza de Carlos Papa (líder místico Guarani Mbyá).
“Mainó” significa colibri em Guarani. Eu a compus em 2023, e a peculiaridade dessa música é o trêmulo da mão direita, que remete às peças para violão de Tarrega e que se assemelham ao maltratar das asas de um pica-flor. Originária das Américas, essa ave é sagrada e considerada um mensageiro para os Guarani.
“Tatá” significa incêndio em Guarani. Também foi composta em 2023, na lugarejo guarani, onde se acende as fogueiras e se escuta o que o incêndio tem a nos expor. Foi essa música que eu escutei na minha primeira visitante a essa lugarejo.
“Pedra de Xangô”, minha avó Jacira, em sua vivenda, tinha uma pedra. Todas as vezes que ela saía de vivenda, ela batia continência para essa pedra e pedia proteção. Essa música, composta em 2023, faz secção das minhas lembranças mais profundas do subúrbio de onde vim. Nascente é um afro-samba e também integrava a performance “Valongo:Afro-Brazilian Guitar”.
O que as pessoas devem ter em mente quando escutarem o álbum “Violão Afro-Brasílico”?
O álbum é meu autorretrato. Um disco de violão solo que foi construído com as influências de Baden Powell, Hélio Delmiro, Raphael Rabello… É um violão que tem a escola informal das rodas [de choro e samba], mas que ao mesmo tempo também traz a formalidade dos estudos técnicos do instrumento. As composições revelam tanto minhas conversas com Exu porquê o que aprendi a escutar do incêndio em uma lugarejo guarani. É um álbum que homenageia o Atlântico e os povos da floresta (afro-brasileiros e indígenas).
Complete as frases a seguir.
Gravar um disco de violão solo é…um duelo enorme.
Ser violonista no Brasil é… é dura a vida honesta.
Ser artista brasiliano é…quebrar pedra todos os dias e compartilhar a mais carinhosa verso.
Se eu pudesse melhoraria a vida do artista brasiliano…com mais recursos para projetos, leis de incentivo à música, espaço na mídia e principalmente o reconhecimento dos nossos velhos mestres da música popular brasileira.
Se eu pudesse colocaria o pranto…no mais eminente patamar da música instrumental mundial.
Se eu pudesse colocaria o samba…num álbum que sempre sonhei em gravar com os velhos para mostrar o velho molho da batucada do samba.
A música brasileira é definitivamente…para mim, a melhor do mundo.
A maior prelecção que posso passar para quem está começando a tocar violão é…estudar sempre e saber profundamente a história dos mais velhos desse instrumento.
Assista, a seguir, ao vídeo “Mistérios de Exú” e faça o pré-save selecionado em para a plataforma de streaming de sua preferência para ser uma das primeiras pessoas a ter o privilégio de ouvir o álbum “Violão Afro-Brasílico”, de Patrick Angello, um exímio violonista.