Paulo Cesar Pereio, Gigante Do Cinema, é A Cara Do

Paulo Cesar Pereio, gigante do cinema, é a cara do Brasil – 13/05/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Paulo Cesar Pereio é uma instituição do cinema brasílio. É a face do Brasil, nossa imagem primordial, o retrato da galhofa e do descompromisso, brilhantemente encerrados em suas interpretações quase sempre impecáveis.

Se tivermos que pegar um único exemplo de sua imensa filmografia porquê ator, seja no protagonismo, seja porquê coadjuvante, essa imagem seria a de “Bang Bang”, de 1971, a estreia de Andrea Tonacci em longas, símbolo do chamado cinema marginal brasílio, ou “udigrudi”, ou de invenção. Todas essas denominações contêm falhas. O importante é que Pereio, que morreu neste domingo, simbolizou todas elas.

Mas esse gaúcho de Alegrete, nascido em 1940, estreou no cinema com “Os Fuzis”, de 1964, a obra-prima de Ruy Guerra. Ali nascia a mito, um dos muitos símbolos do cinema novo.

Com “O Indómito Guerreiro”, 1968, de Gustavo Dahl, tem seu primeiro protagonista. É um dos filmes fundamentais do cinema dito político, completando uma trilogia informal com dois outros filmes que mostram crises de personagens envolvidos com o poder: “O Duelo”, 1965, de Paulo Cesar Saraceni, e “Terreno em Transe”, 1967, de Glauber Rocha. Neste último, Pereio também atua, porquê coadjuvante.

É também de 1968 outra exemplar importante de seu talento: o de narrador. É dele a voz-off em “Viagem ao Término do Mundo”, de Fernando Coni Campos. Pereio será um narrador manente no cinema brasílio, geralmente quando se quer alguma coisa irônico ou crítico, em documentários ou curtas.

Ligando duas modernidades fortes do cinema brasílio, Pereio protagoniza um filme no meio do caminho, um policial belo e hoje esquecido: “Pedro Diabo Patroa Rosa Meia-Noite”, 1969, de Miguel Faria Jr.

Com participações importantes em filmes ligados ao segundo grupo de modernos, Pereio se torna também identificado com a subida fardo de invenção desse cinema. “Gamal, O Delírio do Sexo”, 1970, de João Batista de Andrade, e “Sagrada Família”, 1970, de Sylvio Lanna, são belos exemplos da explosão do cinema da idade. Lanna, por sinal, faleceu no mesmo dia de Pereio, numa dessas conjunções do rumo.

Posteriormente “Bang Bang”, já tendo participado de séries de TV, atua no primeiro filme do ótimo Antônio Calmon, “Capítão Bandeira Contra o Dr. Moura Brasil”, de 1971.

Seguiram-se muitas participações secundárias, mas em diferentes níveis de valimento. Em “Os Inconfidentes”, 1972, de Joaquim Pedro de Andrade, tem uma participação marcante, assim porquê em “Toda Nudez Será Castigada”, 1973, de Arnaldo Jabor, e “Vai Trabalhar Vagabundo”, 1973, de Hugo Carvana.

Pereio acompanha, assim, um desenvolvimento da produção brasileira motivado pelo estabelecimento da Embrafilme também porquê produtora, não só porquê distribuidora.

Mas é porquê distribuidora que a Embrafilme impulsiona “Iracema, Uma Transa Amazônica”, 1975, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, com uma tradução magnífica do ator no papel principal do caminhoneiro Sebastião. É um dos marcos do cinema brasílio da idade.

Em longas porquê “Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia”, 1977, de Hector Babenco, ou “Chuvas de Verão”, 1978, de Carlos Diegues, a participação do ator não é grande, mas a presença, por menor que seja, porquê sempre é marcante.

É de 1978 um dos melhores longas de Walter Lima Jr., “A Lira do Delírio”, espécie de retomada do espírito do cinema novo no auge da Embrafilme. Esse ano, aliás, é meio que escravizado pela presença de Pereio na tela grande.

Ainda em 1978, participou de dois outros filmes de muita valimento: “Se Segura Malandro”, retomada do personagem do vagabundo interpretado e dirigido por Hugo Carvana, e “A Senhora do Lotação”, de Neville D’Almeida.

Sem olvidar, obviamente, da prolongação de “Os Fuzis”, que renderia a Ruy Guerra um novo grande filme: “A Queda”. Mas sua participação nele é pequena, ao contrário de outro filme de 1978, em que Pereio novamente brilha porquê protagonista: “O Bom Marido”, de Antônio Calmon.

Para sobresair só os melhores trabalhos, não podemos deixar de falar de “Eu Te Senhoril”, de 1981, segundo longa da famosa “trilogia do apartamento”, de Arnaldo Jabor. Pereio se entrega totalmente, numa trama hedonista, contracenando com Sônia Braga e Vera Fischer em cenas de subida tensão erótica.

O primeiro longa dessa trilogia de Jabor, “Tudo Muito”, também de 1978, traz Pereio no papel engraçadíssimo de um americano chamado Bill Thompson. Salgo ilusão, é dele a frase: “Pelé chuta globo em New York Cosmos, gol em Copacabana”, que traduz muito muito o espírito irreverente do filme.

Ainda no início dos anos 1980, teve papeis importantes em “Tensão no Rio”, 1982, de Gustavo Dahl, “Ao Sul do Meu Corpo”, 1982, de Paulo Cesar Saraceni, “Bar Esperança”, 1983, de Hugo Carvana, “Rio Babilônia”, 1983, de Neville D’Almeida.

Brilhou na TV durante a grande crise do cinema brasílio, mas ainda teve papeis de qualquer destaque em “Natal Portela”, 1988, de Paulo Cesar Saraceni, “Navalha na Mesocarpo”, 1997, de Neville D’Almeida, “O Viajante”, 1998, também de Paulo Cesar Saraceni, e “Harmada”, 2003, de Maurice Capovilla.

Arnaldo Jabor, que o dirigiu em três longas, o chamou de John Malkovich brasílio, a saudação de sua versatilidade. Mas a verificação mais justa, penso, seria com o ator Orson Welles, outro que brilhava mesmo quando sua aparição nos filmes durava menos que um minuto.

Folha

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