Peça De Jandira Martini Segue No Tucarena Até Domingo (8)

Peça de Jandira Martini segue no Tucarena até domingo (8) – 05/12/2024 – Mise-en-scène

Celebridades Cultura

Termina neste termo de semana a temporada de “Jandira – Em Procura do Bonde Perdido”, um relato autobiográfico bem-humorado e poético sobre a tomada de consciência da finitude. O espetáculo está em papeleta no Tucarena até domingo (8).

A peça escrita por Jandira Martini marca um momento profundamente significativo na curso da atriz e dramaturga, sendo seu último texto para teatro escrito antes de seu falecimento em janeiro de 2024. Trata-se de uma obra que traz reflexões pessoais, memórias e questionamentos existenciais, que ganham vida por meio da versão da atriz Isabel Teixeira, escolha que só reforça o poder emocional e artístico deste relato.

No texto, Martini construiu um diálogo íntimo com seu pretérito e suas inquietações sobre tempo, memória e identidade. O título, com sua referência ao “bonde perdido”, dá uma sensação de nostalgia, remetendo a uma procura por um tanto importante que parece ter ficado para trás — seja uma oportunidade, um sonho ou uma versão de si mesma. O “bonde” não é exclusivamente um símbolo de deslocamento, mas também de conexão com os ritmos e espaços da vida que, muitas vezes, escorregam por entre os dedos.

A dramaturgia transita entre o autobiográfico e o universal. Jandira apresenta fragmentos de sua trajetória pessoal e profissional, mas os expande para dialogar com o público, transformando questões individuais em reflexões coletivas. É uma obra que questiona porquê nos refazemos diante das perdas e do inexorável passar do tempo, mas também celebra o legado deixado por aqueles que vivem de maneira autêntica e apaixonada.

Isabel Teixeira transforma essa dramaturgia em uma experiência sensorial, quase tátil, que consegue produzir uma ponte entre a plateia e a psique de Jandira Martini. Sua performance intensifica o impacto emocional do texto, levando o público a rir, se emocionar e se colocar dentro das questões que a autora coloca em sua narrativa.

Três perguntas para…

… Isabel Teixeira

Porquê foi trabalhar em parceria com o Marcos Caruso nesse projeto sabendo que ele e Jandira Martini eram amigos muito próximos?

É uma alegria participar disso. Duas pessoas tão importantes para mim no meu tirocínio teatral. Eu sempre os observei. Eu estou no meio dessa celebração onde a escrita cênica do Caruso se encontra com a escrita dramatúrgica da Jandira. Eu também possuo uma escrita do meu corpo em cena, da minha voz. O teatro, para mim, se trama nessas dramaturgias expandidas. Existe uma escrita do gesto, da luz, da roupa. Acho que estamos ali celebrando essa escrita. Não conheci pessoalmente a Jandira. Logo, o Caruso foi me apresentando a Jandira que ele conheceu. E ele a conheceu muito muito.

Ouço muitas vezes, de pessoas que a foram próximas dela, que, de alguma maneira, tem um harmônico da personalidade dela ali em cena. Nunca foi nossa intenção, do Caruso principalmente, em mimetizar a Jandira em cena. A gente usou porquê setentrião o texto. Logo, muitas vezes, eu falo porquê ela fala porque o texto foi ela que escreveu.

Li em uma entrevista sua que você acha interessante galgar as palavras do responsável, ser afetada por elas e transformar em um tanto que seja verdadeiramente seu? Isso aconteceu também em “Jandira”?

Eu acho que a termo do responsável tem que, de alguma maneira, estar em mim, porquê se eu estivesse dizendo aquilo pela primeira vez. O texto está ali, mas o jeito que eu faço também é uma maneira de redigir nascente texto no ar da cena. O testemunha também é um dramaturgo, porque ele faz as suas sinapses a partir de sua própria experiência e reflete a partir de si sobre o texto que ele está lendo. Logo acredito muito que o trabalho seja realmente trazer esse texto para mim. Estou honrando a termo da Jandira, eu não mudo o texto, eu tento trazê-lo para a minha boca e para o meu coração ao mesmo tempo. Logo, simples que ele se torna meu de alguma maneira, mas não de minha autoria. Sou cocriadora ali do movimento na cena, mas uso porquê setentrião a termo escrita pelo responsável, pela autora, no caso.

Nos momentos difíceis os atores sempre “pedem socorro” aos deuses da escrita, porquê Shakespeare, Molière, Wilde…?

Eu sempre me volto para o Hamlet, por exemplo, para o Shakespeare, assim porquê a Jandira. A Jandira traz o Molière, o Shakespeare, o Machado de Assis, imagina! Vocábulo, termo… Para mim, cá no meu ateliê, na minha editora, estou rodeada de palavras e, sim, sempre para os clássicos a gente pede socorro. Nem acho que é socorro. Para mim, não é ajuda que peço para os clássicos, não. Acho que faz segmento da minha formação, sabe? Eu penso no Tchekhov, no Beckett, no Shakespeare. Quando estou perdida, quando perco um pouco o solo, principalmente.

A gente sempre vai voltar para o Molière, a gente sempre vai voltar para o Tchekhov, porque é termo viva em movimento. Eu ainda tenho muito a desenredar nesses autores porque acredito que ainda tenho muito a desenredar sobre a vida. Não que eles soubessem tudo, mas a escrita é viva, vai além dos seus autores. Tchekhov faz segmento da minha formação celular. E é engraçado porque tenho uma mistura de Tchekhov com Beckett na minha formação, logo, fica uma coisa muito louca. Mas essas palavras que perduram e que faço vivas no meu presente, compõem o meu porto seguro, para onde eu volto, onde eu crio raiz, onde eu finquei minhas raízes. É mais ingénuo que um pedido de socorro. É um reconhecimento da existência mesmo. Logo pode até ser um pedido de socorro, não é? Porque, às vezes, quando a gente se perde, é muito bom ter para onde voltar.


Teatro Tucarena – r. Bartira, 347. Perdizes, região oeste. Sex. às 21h, sáb. às 19h e dom.às 17h. A partir de R$50 em sympla.com.br

Folha

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