Peça De Leilah Assumpção Dá Voz A Mulheres Com Mais

Peça de Leilah Assumpção dá voz a mulheres com mais de 70 – 16/10/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Eu virei uma velhinha chique”, diz Leilah Assumpção ao penetrar uma imensa gaveta na mesa de meio da sala de sua vivenda e mostrar que está lotada de bijuterias. Os acessórios enfeitam os braços, os dedos e o pescoço da dramaturga, pioneira em retratar no teatro a requisito feminina, com suas conquistas e dilemas.

Aos 81 anos, ela não é somente chique, mas também intelectualmente ativa. Passa horas no computador escrevendo e lendo jornais, atenta ao mundo e particularmente interessada no segundo vez da eleição para a Prefeitura de São Paulo.

Vota em Guilherme Boulos (PSOL) por justificação da vice, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), amiga desde a quadra da FNM (Fenemê), a Frente Vernáculo da Mulher, que reunia intelectuais na dez de 1970.

Leilah acaba de comemorar 55 anos de curso com a estreia de sua peça teatral mais recente, “Mergulho no Mistério Dela”, a primeira inédita em cinco anos, em papeleta no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, desde segunda-feira (14).

A obra está inserida no repertório temático da representação feminina, dessa vez com o protagonismo de duas mulheres na fita dos 70 anos, Cibele, uma filósofa aposentada, e Maiara, uma ex-atriz. Elas são interpretadas por Kate Hansen, 68, e Nicole Puzzi, 66.

No espetáculo, enquanto esperam o parto da primeira neta de Maiara, as amigas conversam sobre casamentos, cuidados com a saúde, cirurgias plásticas, solidão, sexo. É um diálogo sem moralismo ou pudor, entrecortado por disputas e afetos.

“Eu quis ir fundo na relação de duas amigas que se amam e se odeiam. Eu me joguei e não sabia onde isso ia dar”, conta Leilah.

A peça foi escrita antes da pandemia e oferecida a Kate Hansen quando a atriz procurou a escritora interessada em montar alguma coisa de sua autoria. Leilah indicou Marcelo Drummond, do Teatro Oficina, para a direção. Ela o conheceu por justificação da convívio com o companheiro Zé Celso Martinez Corrêa, com quem “quase” namorou.

O fundador do Oficina, morto em julho de 2023, estimulou o marido a concordar o invitação para guiar a peça e sempre perguntava sobre os preparativos.

“Ela sabe falar muito muito com o espírito da classe média, coloca personagens muito interessantes nesse sentido”, analisa Drummond.

O diretor gostou da experiência de trespassar por um período do Oficina e realizar um trabalho dissemelhante do que está habituado a fazer no teatro de grupo: são somente duas atrizes no palco e o espetáculo é mais convencional do que o realizado no teatro localizado no Bixiga.

Drummond acredita que o vestuário de ser gay e não ter uma visão machista do mundo ajudou na transporte das duas mulheres. E tem o vestuário de Leilah ser fã dele.

“Ela diz assim: você está um gato, está lindo”, revela. “É permitido porque ela é muito sexual, traz à tona isso”. Na peça, uma das personagens afirma que, na quadra em que era jovem, fazer sexo era um ato político.

Além da sensualidade, o diretor levou para a montagem também características do Oficina. Isso aparece, por exemplo, nas referências à contracultura e na celebração ao teatro.

Na apresentação para convidados, na quinta-feira (10), Kate e Nicole encerraram o espetáculo na plateia, ao lado de Leilah, em uma noite em que a dramaturga estava rodeada de amigos. Artistas ligados ao Oficina também marcaram presença.

A dramaturga aborda o envelhecimento das mulheres sem preocupação com as mensagens positivas sobre a “melhor idade”. Apesar disso, as protagonistas mantêm o gosto pela vida, o charme e, também, a rivalidade que as alimenta.

“É uma comédia de costumes, trabalhada de forma inteligente e com humor”, diz Kate.

As duas atrizes conviveram pouco ao longo das trajetórias profissionais, mas têm em generalidade o pretérito de musas do cinema vernáculo, da TV e do teatro e o vestuário de os filhos terem ficado amigos pela internet.

“Eu tenho orgulho de ter a minha idade. Sou feliz do meu jeito, indo a shows de rock, lutando politicamente”, afirma Nicole ao comentar o tema do espetáculo.

A atriz vivia um período sabatino, em vivenda, cuidando dos seus cachorros. Porém, não resistiu ao invitação para interpretar uma personagem de Leilah.

Entre os sucessos da escritora estão marcos do teatro brasiliano, uma vez que “Fala reles senão eu grito” (1969), a peça de estreia, e “Intimidade Indecente”, em papeleta há 22 anos, um grande sucesso de público que faz dela uma dramaturga muito remunerada.

“Fala reles”, vencedora dos prêmios Molière e APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), tinha Marília Pêra no papel de Mariazinha, uma mulher que mora em um pensionato de freiras e revela suas frustrações a um ladrão.

“Intimidade Indecente”, protagonizada por Marcos Caruso ao lado de atrizes uma vez que Irene Ravache, Vera Holtz e Eliane Giardini, mostra as afinidades e desavenças de um parelha até o envelhecimento. O espetáculo vai virar filme dirigido por Bruno Barreto.

Leilah é feminista e diz ter orgulho do pioneirismo uma vez que escritora que não imita estilo e os temas masculinos. Mas não gosta do ativismo radical. Rejeita os grupos de mulheres que querem “tirar o varão de campo”.

“O varão é nosso companheiro, pai de nossos filhos. Acho que o feminismo é lutar pela paridade de oportunidades”.

O trajectória de resistência incluiu enfrentar a exprobação durante a ditadura militar. Em “Fala reles”, os censores queriam que o personagem masculino substituísse a vocábulo gozar por orgasmo. A escritora não aceitou, explicou que a vocábulo ficaria deslocada na boca do ladrão invasor do pensionato. Com o argumento, conseguiu liberar o texto original.

Em outra ocasião, implicaram com a vocábulo brigadeiro, uma vez que se fosse uma provocação aos militares. Leilah perguntou sobre o gulosice preposto do censor e aceitou trocar brigadeiro por baba de moça.

“Eu vestia uma roupa do Dener e ia litigar. Ia a Brasília para discutir meus textos, insistia até conseguir”, conta a ex-modelo do famoso costureiro.

Leilah segue irreverente, na dramaturgia e na vida. Coleciona bengalas que a ajudam na mobilidade e combinam com as roupas e terminou a entrevista à Folha falando sobre a boa relação que mantém com o ex-marido, Walter Appel, e com a namorada dele. “É um matrimónio a três”, brincou.



Folha

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