Peça Em Cartaz No Sesc Pinheiros Explora A Vida E

Peça em cartaz no Sesc Pinheiros explora a vida e a obra de Tennessee Williams – 28/11/2024 – Mise-en-scène

Celebridades Cultura

A peça “Tennessee Williams Deve Morrer”, encenada pela companhia Filhos do Dr. Alfredo, é uma obra que se destaca pela abordagem provocativa e pelo diálogo com a tradição teatral. Inspirada na obra e no universo do dramaturgo norte-americano Tennessee Williams (1911-1983), a peça não somente homenageia, mas também questiona os limites do teatro e a relevância de temas porquê identidade, traumatismo e decadência, recorrentes nos textos de Williams.

A dramaturgia de Marcelo Braga e Luís Filipe Caivano mistura referências explícitas à obra de Tennessee Williams com uma visão contemporânea e sátira sobre a sociedade e o próprio fazer teatral. Transitando entre elementos da vida do noticiarista – porquê sua relação com a sexualidade, os traumas familiares e o alcoolismo – e os personagens que povoam suas peças, principalmente os marginalizados e os que vivem à borda do colapso emocional.

Apoiada no concepção de metateatro, a encenação toma corpo quando os dois intérpretes entram no espaço de jogo, ou seja, quando atuam na “peça dentro da peça”. Essa sobreposição de camadas permite uma leitura multifacetada, onde a biografia e a ficção se encontram e se transformam mutuamente.

Os atores Luciano Schwab e Vivian Bertocco entregam performances intensas, oscilando entre o melodrama e a ironia. Essa dualidade é importante para a proposta da peça, que parece querer desconstruir as expectativas do público em relação ao teatro clássico e, ao mesmo tempo, prestar tributo ao trabalho de Williams.

A escolha do título é, por si só, um manifesto que incita à reflexão: o que significa “matar” Williams? Seria uma ruptura com os paradigmas estabelecidos pelo dramaturgo ou uma tentativa de reinventá-lo para um público e uma estética contemporâneos? Esse tensionamento é médio na peça, que explora a dicotomia entre o saudação reverencial aos clássicos e a urgência de subvertê-los.

Três perguntas para…

… Marcelo Braga

A trilogia metateatral que começa com “Serra-Russa” abordando o transtorno bipolar e inspirada em seu pai e “Quem Fica Com Quem”, que trata principalmente da solidão, se encerra com “Tennesse”. O que te levou a essa escolha?

O metateatro segmento da autorreflexão. Em “Serra-Russa”, o meu olhar de dramaturgo estava focado nas minhas próprias e próximas vivências; já em “Quem Fica Com Quem”, esse olhar se ampliou para os dramas do meu cotidiano e em “Tennessee”, o foco recaiu sobre minha estudo acerca do processo criativo no teatro e de porquê Tennessee Williams foi, e ainda é, capaz de radiografar a espírito humana. Essa particularidade me fascinou e me impulsionou a reprofundar na sua vida e obra, a partir da curiosidade que eu nutria sobre a relação dele com sua mana Rose.

O ator Luciano Schwab está muito parecido com Tennessee Williams em cena, pensou nisso na hora de escolhê-lo porquê protagonista?

Conheci Luciano Schwab quando éramos alunos da EAD-ECA-USP (Escola de Arte Dramática). Sempre admirei seu trabalho no teatro e de porquê ele construía, porquê um arquiteto minucioso, seus personagens nos diversos trabalhos que ele fez tanto dentro porquê fora da escola. A proximidade física com Tennesse faz segmento do trabalho frágil que Luciano fez durante o processo, optando por usar bigode que o tornou bastante parecido com o dramaturgo estadunidense.

Uma vez que está sendo para a companhia o processo de fazer teatro no momento político atual?

Posteriormente a pandemia, as pessoas parecem ter ficado sedentas pelo “encontro com o outro” e o teatro é campo fértil para esses encontros. Estamos felizes por propiciar esses encontros para discutir o ser humano. Porém, o momento atual está emoldurado por um conservadorismo tacanho que, em muitas questões, quer retroceder os vários passos a frente e em direção a urbanidade e pluralidade que já tínhamos oferecido porquê sociedade. Tennesse Williams foi um responsável que desafiou o conservadorismo de seu tempo, inclusive a exprobação imposta aos artistas da estação pelo Código Hays e pelo Macartismo. Acho muito relevante trazer à cena suas ideias e apresentar ao público brasiliano o lado menos espargido do dramaturgo.

Sesc Pinheiros – r. Paes Leme, 195, Pinheiros, região oeste. Qui. a sáb., 20h. Até 14/12. A partir de R$15, em sescsp.org.br. e nas bilheterias das unidades do Sesc.


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Folha

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