Performance E Poder: A Comunicação Política Da Primeira Dama 19/11/2024

Performance e poder: A comunicação política da primeira-dama – 19/11/2024 – Wilson Gomes

Celebridades Cultura

No início, achei que fosse um vídeo forjado, um fake. Não parecia plausível que a primeira-dama do país fizesse uma enunciação daquelas. “Eu não tenho temor de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”, disse ela, em uma performance cuidadosamente coreografada, com pausas dramáticas, impostação de voz e interação com o público. Uma voz em off reforçava e dava ênfase à tradução. A plateia, cúmplice, ria e aplaudia.

Logo, um novo incisão surgiu. Desta vez, o intuito da comicidade era o varão que planejou e executou um ataque a explosivo ao STF, descrito por ela, entre risos, uma vez que “o bestão lá, que acabou se matando com fogos de artifício”.

Com o novo vídeo, o contexto ficou evidente: a primeira-dama estava palestrando sobre fake news e a premência de regulação das plataformas, em um evento solene do G20 Social. Musk, visto uma vez que a personificação do mal do dedo, e o “bestão” radicalizado que se explodiu ao tentar um ato terrorista, serviam para ilustrar os perigos que plataformas sem regulação podem fomentar.

Não é a primeira vez que a notícia política da primeira-dama me assombra recentemente. Pouco se falou na prensa, mas as mais de duas décadas em que estudo notícia eleitoral me permitem qualificar uma vez que um golpe inferior o vídeo divulgado às vésperas do 2º vez das eleições paulistanas, no qual mulheres famosas alertavam que a eleição de Ricardo Nunes colocaria em risco 6 milhões de vidas femininas paulistanas.

“A sua vida e de outras 6 milhões podem estar nas mãos dele pelos próximos quatro anos”, ameaçava o vídeo. “Estaremos seguras nas mãos de um varão com esse histórico sendo prefeito de São Paulo? “. “Se um varão não respeita uma mulher com quem divide a vivenda, o que ele é capaz de fazer com mulheres que nem conhece?”. A última pessoa a falar no vídeo foi justamente a primeira-dama do Brasil, autenticando e endossando a campanha do temor e pedindo votos no oponente do prefeito.

É traje que a campanha paulistana foi marcada por ataques agressivos e golpes baixos, e o vídeo seguiu essa traço. Mas precisava a primeira-dama envolver-se nisso? Não se pode esgrimir que a vida das mulheres paulistanas estivesse realmente em risco e que a primeira-dama fosse a cavalaria. Por mais que se possa desaprovar a figura de Nunes, ele já era prefeito de São Paulo e não consta que tivesse feito qualquer coisa “com mulheres que ele não conhece” e representado uma prenúncio a 6 milhões de vidas femininas “em suas mãos” durante o manobra do procuração. Tudo não passava, pois, de uma tentativa da primeira-dama do país de queimar um oponente político, e, mais grave, numa eleição municipal.

Qual seria a racionalidade por trás de tudo isso? Não sei. Primeiras-damas que se comportam uma vez que celebridades não são novidade, assim uma vez que não são raras as que efetivamente foram protagonistas em bons e maus governos mundo afora. É do jogo. Mas a primeira-dama do Brasil age uma vez que uma influenciadora do dedo, uma notoriedade que responde somente pelos próprios atos, e não uma vez que secção da instituição da Presidência da República. Suas ações, mas, refletem no dirigente de Estado e de Governo. E no país.

Se fosse somente uma notoriedade, insultar Musk, mesmo de forma chula, poderia ser tolerável, considerando-se as questionáveis qualidades do intuito. Mas continua vigente antiga máxima romana segundo a qual quem está casado com César não deve somente ser sensato, ponderado, honesto e justo; precisa também parecer ser tudo isso. Principalmente quando a figura pública reivindica e faz questão de exibir, uma vez que faz Janja, um nível de influência e poder político que não encontra paralelo em nenhuma outra primeira-dama da República, até onde minha memória alcança.

Uma vez que alguém imersa no mundo do dedo, é surpreendente que a primeira-dama não tenha entendido que, na era dos smartphones e das mídias sociais, não há mais “sarau privada”, “quatro paredes”, ou “público companheiro”. O que não se quer que todos ouçam, não deve ser dito em público.

O resultado está à vista de todos. Quem já não gosta da primeira-dama ganhou mais um item colecionável para cevar o próprio desprezo; os que a admiram buscam panos quentes ou ficam sem ter o que proferir; e os que detestam também bolsonaristas e petistas veem nisso mais um exemplo de uma vez que é tudo farinha do mesmo saco. E assim, na loucura desses dias, vimos bolsonaristas, logo eles, cobrando compostura e decoro da mulher do presidente, enquanto petistas exaltam a autenticidade afrontosa da primeira-dama. E o país que se entenda nesse mundo voltado.


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Folha

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