“Fazer levante disco foi tão prazeroso que nem pode ser considerado trabalho”, diz Neil Tennant, de 69 anos, vocalista do grupo Pet Shop Boys, sobre “Nonetheless”, o 15º álbum de estúdio do duo que ele mantém há 43 anos com o tecladista Chris Lowe, de 64. “Nunca fizemos um disco de maneira tão ligeiro e aprazível.”
Com lançamento previsto para 29 de abril, levante é o primeiro álbum do Pet Shop Boys produzido pelo talentoso James Ford, espargido por trabalhos com Gorillaz, Arctic Monkeys, Florence and the Machine e pela produção dos dois discos mais recentes do Depeche Mode, “Spirit” e “Memento Mori”.
“James é um músico insólito”, diz Lowe. “Ele é um exímio instrumentista e toca tudo que você pode imaginar: bateria, plebeu, guitarra, glockensnpiel, além de um monte de sintetizadores analógicos, instrumentos raros dos anos 1960 e 1970 que ele tem no estúdio. Também é um programador fantástico e faz ótimos arranjos de cordas. Amamos que ele não usa samples. Tudo é tocado ao vivo, o que confere ao som um calor e uma pureza únicos.”
Tennant diz que o método de trabalho do Pet Shop Boys não mudou nas últimas décadas. Ele e Lowe trabalham em amostras das músicas, que são gravadas e enviadas para o produtor. Ford trabalhou sozinhos por duas ou três semanas, ouvindo as fitas e anotando sugestões, e depois se juntou à dupla por murado de um mês, refazendo o disco todo. “Tive de trovar tudo de novo”, diz Tennant. “Mas faz secção. Se estamos trabalhando com um produtor, ele vira o terceiro Pet Shop Boy”.
Tennant e Lowe se dizem muito felizes com o resultado, mas Tennant revela que, à primeira audição, o disco não soou tão muito. “Simplesmente o odiamos. Achamos tudo um sinistro. A mixagem parecia errada, os arranjos orquestrais estavam muito baixos, fiquei deprimido. Mas aí, no dia seguinte, botei meus Air Pods e fui dar uma passeio no parque Battersea [em Londres]. O dia estava ensolarado, o tempo estava maravilhoso e, de repente, o disco fez sentido para mim”, diz, entre risadas.
“Já ouviu ‘Innervisions’?”, pergunta Tennant, citando o clássico álbum de Stevie Wonder de 1973. “Não estou nos comparando ao Stevie Wonder —ou melhor, estou sim— mas sabe a sensação de ouvir o disco e perceber que Stevie não fez o menor esforço durante a gravação? De que foi só diversão? Tivemos a mesma sensação.”
“Nonetheless” tem dez músicas e mistura, porquê de hábito em discos do Pet Shop Boys, baladas e canções mais dançantes, sempre com as letras espertas e irônicas de Tennant. Uma das músicas mais peculiares é “The Schlager Hit Parade”, uma ode a um tipo de música chamada “Schlager”, típica da Alemanha e muito popular em países do setentrião da Europa, que consiste em canções muito simples e de potente apelo popular, com melodias fáceis e letras ingênuas.
“No universo do ‘Schlager’, sempre é Natal ou férias de verão”, brinca Tennant. “Somos obcecados por esse tipo de música e gastamos dias inteiros no Youtube, pesquisando canções de Harold Faltermeyer [compositor alemão de trilhas de filmes como ‘Top Gun’]. Quando fomos gravar nosso penúltimo disco, ‘Hotspot’, no estúdio Hansa, em Berlim, famoso por clássicos porquê ‘Heroes’, de David Bowie, o que queríamos mesmo era conversar com os técnicos para saber mais sobre os milhares de discos de ‘Schlager’ que foram gravados lá.”
Além do lançamento do novo disco, abril é um mês importante para o Pet Shop Boys porque marca os 40 anos de seu primeiro sucesso mundial com a melodia “West End Girls”. Tennant e Lowe acabaram de remixar uma novidade gravação da música, feita por outro duo inglês, o Sleaford Mods. “Foi muito leal à original, mas manteve a pegada mais crua e pesada do Sleaford Mods”, diz Lowe.
No término do ano, o Pet Shop Boys esteve no Brasil para dois shows, um no Primavera Sound e outro na mansão Audio, em São Paulo. “É sempre bom tocar no Brasil”, diz Tennant. “O público é muito emotivo e canta as músicas junto com a gente, é uma ótima sensação. Da primeira vez que fomos a São Paulo, há uns 30 anos, eu odiei, mas depois a cidade se tornou muito mais sofisticada. Hoje tem muita arte, prédios muito interessantes e pessoas gentis. Mudei de teoria totalmente sobre São Paulo.”
Lowe concorda. “É sempre bom ouvir os brasileiros falando português. É uma língua tão formosa e calorosa que você imediatamente se sente dentro de uma música de Sergio Mendes.”