Pinacoteca abre calendário de 2025 com mostra sobre noite

Pinacoteca abre calendário de 2025 com mostra sobre noite – 31/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Não há uma noite, mas muitas noites. As horas depois do pôr do sol servem para passear e festejar, para se jogar no grande prazer da boemia madrugada adentro, para sonhar, para ter terror do escuro ou para esperar, angustiado, que o dia seguinte nasça, trazendo consigo a promessa de uma novidade chance.

As possibilidades sem término da noite —que, porquê diz o ditado, é uma moçoilo— são abordadas na exposição recém-inaugurada na Pinacoteca do Estado. A mostra “Tecendo a Manhã” abre a programação de 2025 do museu paulistano, que oriente ano completa 120 anos, ocupando todas as sete salas do principal espaço expositivo da Pina Luz.

Por que a noite? Thierry Freitas, um dos organizadores da exposição, argumenta que o tema é universal e mais ou menos inédito. Finalmente, quais outras vestígios já se voltaram para isso? De todo modo, o extinguir das luzes é o tecido de fundo para reunir uma seleção representativa da arte brasileira do século 20 com quase 200 obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias e um vídeo.

Esta sopa de suportes coloca lado a lado artistas do cânone —porquê Di Cavalvanti e Ismael Nery— com artistas populares. São pintores e escultores de fora dos grandes centros urbanos, em universal autodidatas, que não passaram por ensino formal em arte nem por residências artísticas —ou mesmo cogitaram que seus trabalhos figurariam um dia num dos principais museu do Brasil e serviriam porquê objeto de especulação no mercado de arte.

É o caso do estatuário Chico Tabibuia, um rachador proveniente de Casimiro de Abreu, no Rio de Janeiro, que trabalhava com a madeira extraída da árvore tabebuia, de onde tirou seu nome. Figura mediano da mostra com várias esculturas numa espécie de jardim de monstros montado na sexta sala, ele exemplifica, com seus seres de pênis ereto e representações de Exú, o tipo de artista que a exposição buscou.

“É uma forma de recolocar artistas populares dentro de uma narrativa que não folcloriza esses artistas. Não tem no título da mostra ‘arte popular no Brasil’, porque isso seria manter um nicho”, diz Renato Menezes, o outro curador da exposição.

“A gente está interessado em inscrever esses artistas numa narrativa mais ampla, que não os mantêm reféns de uma abordagem primitiva. É repensar inclusive a teoria de popular”, acrescenta ele.

Intitulada “Tecendo a Manhã”, nome de um poema de João Cabral de Melo Neto que também é porquê se labareda uma aquarela de Mô Toledo exibida na última sala, a exposição é didática. Cada uma das sete galerias têm um tema —”o desabar da noite”, “boêmios e notívagos” etc.— em torno do qual giram as obras que ali são exibidas.

A primeira sala tem trabalhos que retratam o entardecer e as primeiras horas da noite, e a última obras sobre o amanhecer, de modo que no trajectória passamos pela madrugada —com recta a pinturas representando os sonhos e os cabarés e botecos—, porquê se seguíssemos o trajectória do relógio.

A primeira galeria é uma das melhores da mostra, pela qualidade das obras e por sintetizar a proposta da exposição. O tópico dela é porquê o chegar da virilidade elétrica em São Paulo no final do século 19 propiciou a socialização noturna, traduzido em trabalhos de períodos e estéticas diversas.

Há uma pintura muito conhecida de Valério Vieira, provavelmente dos anos 1910, que mostra o Theatro Municipal de São Paulo e seus periferia lotados de gente. Ela aparece ao lado de uma caixa de madeira branca de Cildo Meirelles, de 1982, na qual vemos, em um dos lados, o perímetro de uma lâmpada no contraluz. Isto vem junto de duas fotografias em preto e branco, uma de Voltaire Rocha e outra de Benedito Junqueira, que retratam o meio da cidade iluminado.

Outras obras-primas da exposição são um autorretrato de Di Cavalcanti num bordel, em que ele posiciona os pinceis primeiro da dimensão íntima da mulher ilustrada, e uma pintura da lua, de Tomie Ohtake, pouco vista e que ocupa uma parede inteira. Por término, há um dos primeiros trabalhos de Heitor dos Prazeres, de um rapaz preto dormindo e sonhando com a sua diva.

A Pinacoteca chega aos 120 anos porquê um dos principais museus do Brasil e um dos maiores complexos da América Latina devotado às artes visuais. Seus três prédios —a Pina Luz, a Pina Estação e a Pina Contemporânea— receberam no ano pretérito mais de 810 milénio visitantes, segundo a instituição, o que posiciona o museu porquê o mais visitado do país.

Para conferência, o midiático Masp, o Museu de Arte de São Paulo, teve muro de 230 milénio frequentadores a menos em 2024 em relação à Pinacoteca. O que ambas as instituições têm em geral é uma programação dedicada fortemente às pautas identitárias, com algumas poucas vestígios que fogem ao tema, dominante no meio das artes visuais desde antes da pandemia.

Mas, curiosamente, as vestígios de maior sucesso desde 2020 na Pinacoteca foram de artistas brancos. Basta lembrar da sensação que foi a exposição da dupla Osgêmeos, os maiores grafiteiros do país, da diva da arte pop da Argentina Marta Minujín, sempre enxurrada e com pais levando os filhos para interagirem com as obras, e também de Lygia Clark, no ano pretérito, em que finalmente o público pôde manusear reproduções de suas obras, o que era a intenção da artista desde o início.

A Pinacoteca tem 12 milénio obras em seu ror, que compreendem o desenvolvimento da arte do Brasil do século 17 a 2025, sendo que mais de milénio estão em exibição. É importante sobresair também a série de vestígios panorâmicas de artistas contemporâneos brasileiros empreendida no prédio da Pina Estação —nomes respeitados porquê Rosângela Rennó, Jarbas Lopes, Jonathas de Andrade e Renata Lucas já tiveram as suas carreiras repassadas em exposições de fôlego.

Mas há pontos que podem melhorar. O caminho de terreno no parque da Luz que conecta os prédios da Pina Luz e da Pina Contemporânea carece de sinalização, e o moca do museu, a incumbência do restaurante Fitó, deixa muito a desejar. O expresso custa R$ 10, dispendioso para um museu público e ainda mais dispendioso do que na avenida Paulista, e o pão de queijo vem com textura de borracha, tipo comida de micro-ondas. Ainda muito que ninguém vai ao museu para lanchar.

Folha

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