Plano De Militarização Das Escolas Paulistas é Preocupante 23/05/2024

Plano de militarização das escolas paulistas é preocupante – 23/05/2024 – Djamila Ribeiro

Celebridades Cultura

A rota do governo estadual rumo à militarização de escolas é antidemocrática e preocupante.

Antidemocrática pois aprovada a toque de caixa, sob cacetadas em estudantes e professores.

Preocupante por ser mais um sinal de endosso à militarização do serviço público estadual, num ano no qual recordes de mortalidade policial são batidos.

Cabe ao jornalismo apurar quem são os donos das empresas beneficiadas por essa mudança de rota no ensino paulista. Cabe perguntar: é um projeto pensado e discutido democraticamente em mercê da população ou uma confraria de olho no grande orçamento paulista?

Mas mais do que tratar do mercantilismo de consciências, precisamos respirar e nos perguntar sobre a instrução que queremos. Já estamos em 2024, e a sociedade está assolada por guerras reforçadas pela retórica militar de disciplina e ordem. No Brasil, a guerra urbana sustentada pelo oração de segurança pública tem feito tragédias todos os dias, sem nenhum revérbero de melhora na qualidade de vida da população ou na redução da criminalidade.

Ao contrário, além da piora de indicadores de instrução e segurança, estamos assistindo, ano a ano, ao fortalecimento de milícias paramilitares que endossam o oração cívico-militar e que acumulam tamanho capital político que se tornaram secção protagonista da política brasileira.

No pretérito, essas milícias também ingressaram em comunidades vulneráveis sob o oração da segurança e da ordem, mas hoje pouco ou zero diferem do mais violento patrão do chamado violação organizado.

Se o povo carioca sofre com essa verdade há mais tempo, agora o povo paulista prova do veneno.

Pois quem sofre a “disciplina” são justamente aqueles que, ao poder, não interessa que questionem sua situação social; é fundamental que obedeçam e sigam a vida de rebanho que lhes foi desenhada. Finalmente, estamos falando zero mais, zero menos, do que mais uma forma de controle social, quando o que precisamos, enquanto país, é de incitamento à originalidade e questionamento a um sistema social falido –ou melhor, bem-sucedido em promover desigualdades.

Fui professora da rede estadual de ensino. Lecionava filosofia para alunos e alunas de uma escola pública na periferia de Guarulhos (SP). O escola, em si, já era desestimulante para o aprendizagem. Sua arquitetura era hostil, suas paredes malcuidadas e zero ali inspirava a ampliação de horizontes. Enquanto professora, também ficava de mãos amarradas para propor alguma coisa dissemelhante, uma vez que o orçamento era ínfimo e mal pagava a manutenção da instituição.

Dito isso, é evidente que a chegada de mais pessoal e de investimento será bem-vinda em um cenário uma vez que esse. É uma vez que se ficássemos presos na equação de precarização absoluta, até que o oferecimento da “solução” seja o alegado libido de toda a população, pois, para quem tem rafa, até migalha é muito.

Enquanto isso, o sórdido é que colégios de pessoas brancas ricas e de classe média subida são espaços amplos, de incitamento à criticidade e capacidade de abstração. Lá não há interventor militar…

Não espanta a informação de que esses colégios serão priorizados em bairros de grave índices de desenvolvimento humano. Ali, a maioria das pessoas é negra, uma vez que também é nessas regiões que os recordes de mortalidade policial vêm sendo batidos em larga margem.

Recentemente, um livro de minha autoria foi censurado de modo sorrateiro pela Secretaria da Ensino do Estado de São Paulo. É um livro de memórias com minha avó. Na primeira página, há uma foto dela vestida uma vez que uma iniciada no candomblé. Os professores perguntaram à secretaria por qual razão o livro havia sido barrado, ao que foi respondido que ele abordava “temas sensíveis”.

Nesse sentido, se o paixão de uma neta por sua avó candomblecista é sensível, o que dirá pensar sobre perfilamento racial na atuação violenta da polícia militar.

Enfim, o projeto de cabresto na consciência da população paulista não começou hoje, mas nem por isso deixamos de lamentar e manifestar nosso repúdio a mais esse incidente de detença na formação educacional da juventude paulista.

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Folha

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