Podcast explora cidade de 5 mil habitantes da pensilvânia

Podcast explora cidade de 5 mil habitantes da Pensilvânia – 02/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Don Pavelko, o popular “leitão”, está tenso com os rumos de Donora. É véspera de eleição, e ele se preocupa com os rumos que a cidade pode tomar.

Será que o sujeito simpático do departamento de esgoto vai se tornar vereador depois de ser réu de extorquir uma senhora num golpe? E o ex-metalúrgico, que é tão bom orador e pleno de esperanças, conseguirá reerguer Donora? Os vereadores conseguirão qualquer progresso em levar uma faculdade comunitária para lá?

Não estamos às vésperas de uma disputa presidencial, mas sim das primárias do pleito municipal de 2017. Num lugar uma vez que a pequena cidade de Donora, as primárias quase sempre indicam o que acontecerá depois na votação definitiva. É nesse município da Pensilvânia, nos Estados Unidos, sempre tão lembrada nas eleições americanas, que se passa o podcast documental “Cement City”.

As jornalistas Jeanne Marie Laskas e Erin Anderson decidem passar três anos vivendo no sítio para entender uma vez que é a vida ali. Ambas vêm de grandes metrópoles e mal conhecem a verdade de lugares uma vez que esse, que não passa de paisagem breve em viagens por rodovias estaduais.

Mas num país que acabou de seleccionar Donald Trump pela primeira vez a cisão entre grandes centros urbanos e pequenas comunidades se escancara. Laskas e Anderson decidem logo reprofundar num mundo que nunca foi o delas.

Ainda que a eleição seja um dos principais temas que abordam sobre seu tempo em Donora, ela não é o único. “Cement City” é um podcast sobre política, mas num sentido mais clássico —a procura pela boa vida numa comunidade e uma vez que a cidade é o lugar por superioridade para isso.

A lar que compram —por uma mixaria— fica no bairro que dá nome ao podcast, Cidade de Cimento, região onde diversas residências foram erguidas com estrutura toda nesse material. O bairro foi um empreendimento inovador feito ainda em 1916, quando a indústria de cimento crescia e parecia ser um dos indícios de horizonte do urbanismo e, porque não, de Donora, à quadra uma pujante cidade industrial.

Não foi o caso. Donora é segmento do cinturão da ferrugem, espaço definida pela subida e ulterior decadência de setores industriais uma vez que os de carvão e aço, empobrecendo e reduzindo cidades um dia pujantes. Hoje, faltam coisas triviais ali. Não há mercados nem postos de gasolina. Até o único McDonald’s que havia foi embora da cidade.

A empreitada de Laskas e Anderson pode tanger a princípio uma vez que um típico “quem são? onde vivem?”, um turismo antropológico interessado em descrever para ouvintes de podcasts nos metrôs de grandes cidades das diferenças exóticas de um lugar provinciano e ermo.

Não é o caso. Sem incerteza trata-se de uma experiência da diferença para elas, mas a abordagem que adotam escapa com elegância da embuste de se estereotipar o outro, e isso porque “Cement City” é bastante transparente em relação ao ponto de vista e o lugar de onde vem aquelas que contam a história.

Desde o princípio é com um olhar sensível que elas se dirigem àquele novo mundo e suas histórias, seja às múltiplas formas do desalento presentes na cidade, seja nas tentativas de reerguê-la. Nesse convívio com a cidade, elas tecem suas próprias relações e cultivam um sentimento de proximidade e intimidade com Donora e as pessoas dali. Mesmo essa intimidade, tão arriscada para o trabalho jornalístico, é também e se torna segmento da experiência.

Exemplo disso é quando elas falam sobre o Museu do Nevoeiro —ou da poluição atmosférica, já que o termo original é “smog”. Em 1948, Donora foi vítima de um sinistro ambiental causado pelo acúmulo de poluentes no ar em razão das indústrias da região.

É estimado que o incidente tenha matado 20 pessoas e deixou outras quase 5.000 doentes, numa quadra em que a cidade era mais populosa do que hoje. O caso foi tão rumoroso que impulsionou a geração de uma lei federalista de despoluição do ar —roupa lembrado pelo slogan do museu “o ar limpo começou cá”.

A própria geração do lugar foi teoria da mulher de “leitão”, concebida numa noite de carraspana e encampada com orgulho por ele uma vez que segmento de uma visão de horizonte para a cidade, alguma coisa que lhe desse uma marca.

É o tipo de estado que dá ares cômicos ao lugar e a narradora não deixa de sinalizar uma vez que aquilo parece risonho, mas não é com ênfase no pitoresco que Laskas e Anderson contam a história, mas buscando os significados daqueles espaços para quem está ali e dizendo uma vez que eles também as tocam.

Assim elas frequentam assembleias na câmara municipal, conversam com crianças na rua, conhecem candidatos a cargos públicos, tecem relações com vizinhos e com os velhos frequentadores do clube de cidadãos croato-americanos.

Inclusive, não há um ponto necessário de chegada, um mistério, um transgressão, uma conquista a ser alcançada, alguma coisa que oriente a narrativa uma vez que um problema específico a ser resolvido. Essa é uma das grandes virtudes do podcast, esse deixar-se estar na cidade —e talvez aí esteja o grande tema da produção, a dificuldade da permanência.

A submersão no envolvente se manifesta também na constituição sonora dos episódios. A cidade quase sempre está ali, uma vez que som de fundo. Há muitas situações de gravação sítio, seja entremeadas com complementos da narradora que sintetiza a situação ou com reflexões sobre aqueles encontros, quase uma vez que microcrônicas da cidade.

A história da ex-cantora de ópera que aos 81 anos é caixa numa vendinha sítio, estabelecimento que também fracassou em ser uma loja de produtos naturais, ilustra essa tessitura do roteiro. Aí se articulam histórias locais, a posição de quem narra e o vista simbólico que cada pequena cena parece ter em relação à cidade uma vez que um todo.

Tal uma vez que essa loja e sua vendedora, Donora procurou se adequar à passagem do tempo uma vez que provável, criando novos usos para o que já existia. Mas sozinha, sem suporte do governo estadual ou federalista, nunca foi capaz de retornar a seus anos de glória.

Neste sentido, é um lugar ermo, mas que não deixa de ter pessoas ainda arraigadas, com orgulho e libido de que aquele lugar retome o potencial de ser outra coisa. Enquanto isso não acontece e o novo não encontra espaço, o velho se reacomoda para ainda seguir existindo.

Folha

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