Poder dos eua está em seus imigrantes, diz chimamanda

Poder dos EUA está em seus imigrantes, diz Chimamanda – 04/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Quando recebeu a notícia de que o pai tinha morrido, Chimamanda Ngozi Adichie se jogou no pavimento. Não era a reação que esperava de si mesma. Se a tivessem perguntado o que faria numa situação porquê aquela, ela teria respondido que permaneceria imperturbável, que não falaria uma termo.

“Eu não conhecia esse meu talento para o melodrama. Não tinha teoria de que sabia porquê me jogar no pavimento”, diz a escritora nigeriana. “Isso realmente me fez pensar. Quanto mais existe dentro de mim que desconheço?”

Essa teoria de saber —a si mesmo, ao outro— permeia “A Relato dos Sonhos”, livro que a autora que influenciou de políticos a Beyoncé lança mundialmente em 11 de março. O romance, sua primeira irrupção pela literatura em mais de uma dezena, acompanha quatro mulheres e as relações amorosas, familiares, sociais e políticas que elas vivem entre a África Ocidental natal delas e os Estados Unidos.

Todas refletem com frequência nessa relação entre o saber e o amar. A sonhadora Chiamaka lamenta que ninguém nunca a conhecerá ao relembrar seus namoros fracassados. A pragmática Zikora se questiona se é “verosímil saber de verdade outro ser humano” ao ser abandonada por quem acreditava ser seu grande paixão. A maternal Kadiatou, acusada injustamente, é acalmada pela teoria de que aqueles que apontam o dedo para ela não a conhecem. A rebelde Omelogor, chamada de incognoscível por uma pessoa próxima, diz que todo mundo o é. “Não podemos saber os outros totalmente se, às vezes, somos estranhos para nós mesmos”, afirma a personagem, porquê se ecoasse as palavras de sua criadora a esta repórter.

Porquê nos demais romances de Chimamanda, elas lidam com questões porquê as expectativas sociais sobre as mulheres, a desigualdade social, a dualidade do muito e do mal, a percepção de raça, a experiência subjetiva da transmigração e os choques culturais inevitáveis que advêm dela.

O contraste entre as visões de mundo das protagonistas e os americanos negros com quem elas convivem pontua o texto, aliás. Chiamaka, em privativo, procura o tempo inteiro se justificar porque sua família tem verba, contrariando o que se esperaria de um imigrante africano nos EUA, e quase morre de vergonha quando vê suas conterrâneas afirmarem diante do namorado intelectual que, no continente de onde elas vêm, os muçulmanos são mais honestos do que os cristãos.

“Acho que é importante falar sobre identidades porque, de muitas formas, elas moldam nosso rumo. Se você é uma mulher no mundo, isso influencia a forma porquê ele reage a você. Se é negra ou branca, também, assim porquê se você é um varão branco”, afirma Chimamanda.

“Ao mesmo tempo, acho que o foco excessivo na identidade pode nos fazer olvidar que, no termo das contas, existe quem somos e também o que somos. Eu sou, com muito orgulho, uma mulher negra, africana, [da etnia] igbo. Mas também sou uma escritora, uma pessoa interessada em ideias. Quando pensamos unicamente em termos de identidade, acabamos esperando que as pessoas se encaixem em determinados papéis. E, às vezes, eu não acredito no que os outros acham que uma mulher negra deveria crer.”

Também porquê no restante do universo ficcional da escritora, suas personagens no novo livro mulheres resilientes, que dificilmente abrem mão dos próprios sonhos, vide o próprio título do livro. Uma natureza que parece cada vez mais deixada de lado quando se trata da literatura contemporânea, comenta Chimamanda. “Passamos a encontrar que ser cínico significa ser sofisticado, moderno. E eu rejeito isso profundamente. Porquê seres humanos, estamos sempre ansiando por um tanto.”

Há um vista, porém, em que “A Relato dos Sonhos” se diferencia dos outros livros da autora. Se seus demais personagens-título eram, até cá, nigerianos porquê ela, desta vez surge Kadiatou, uma refugiada do Guiné.

A trama dela é em secção inspirada em um escândalo sexual real, ocorrido em 2011. Na quadra, o portanto diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss‐Kahn, foi réu de estuprar a camareira do hotel em Novidade York em que tinha se hospedado, a guineense Nafissatou Diallo. Mas a promotoria nova-iorquina não seguiu em frente com a arguição, alegando que a imigrante não tinha credibilidade —segundo eles, além de se contradizer em relatos sobre o ato, Diallo também teria mentido sobre ter sofrido um estupro coletivo em seu país natal.

Chimamanda diz que todo o caso a impactou profundamente. “Era tão injusto. O que estávamos dizendo era que, se você é uma mulher e você é estuprada, é melhor que você seja perfeita. Você não pode ser humana”, diz. “Ela é a personagem em relação à qual sou mais protetora. Podem falar o que quiserem sobre os outros, não me importo, mas deixem-na em sossego.”

Apesar de escrito antes da eleição de Donald Trump, o drama da imigrante guineense tem potencial para ressoar ainda mais entre os leitores em um momento porquê o atual, quando, sob o comando do presidente, os EUA buscam promover o “maior esforço de deportação” de sua história.

Chimamanda, que estudou lá e se divide entre o país e sua Lagos natal, diz encontrar que a política do republicano para a transmigração pode se voltar contra os americanos a longo prazo. “O poder dos EUA está em seus imigrantes”, afirma ela.

“Não há nenhum outro lugar porquê oriente, em que as pessoas vão a uma terreno que não é sua e constroem um país. Sim, isso se baseia em muita violência. Mas também é, em certa medida, uma teoria inaudito, de que é verosímil partir de diferentes partes para um novo mundo em que todos coexistem. O indumento de que a imigração se tornou tão demonizada nos EUA é perigoso.”

Chimamanda diz que ainda há um outro ponto meão no livro, ainda que ela só o tenha notado ao terminar de escrevê-lo: a maternidade.

Pudera. A autora conta que começou a ortografar o livro logo depois da morte da mãe, em 2021, depois de anos longe da ficção em razão do que “alguns escritores chamam de bloqueio criativo” —supersticiosa, ela não usa a sentença.

Chimamanda tinha visto o pai morrer pouco antes, em 2020. “A morte da minha mãe destruiu alguma coisa em mim. Eu não sabia que estava escrevendo um livro sobre ela. Simplesmente tinha esses personagens na minha cabeça e comecei a segui-los. Mas em qualquer momento, quando reli o que tinha, fiquei estarrecida com o quanto ele era sobre mães.”

Questionada sobre sua próxima obra, ela reage com uma risada calorosa. “Se eu estivesse trabalhando em um tanto, não te contaria”, responde.

Folha

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