Por que a geração z trocou calça skinny por modelos

Por que a geração Z trocou calça skinny por modelos largos – 17/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Por que você não usa roupa do seu tamanho?” Essa é uma pergunta que Kauhê Sobrinho, de 19 anos, ouve com frequência de pessoas mais velhas. O universitário aboliu vestimentas justas de seu guarda-roupa e só usa peças largas. “Falam que cabem duas pessoas nas minhas calças, mas eu sinto que elas são mais estilosas do que as apertadas.” O estudante de letras não é o único a pensar desse jeito.

De entendimento com o Google Trends, as buscas no Brasil pelo termo “camisa oversized” dobraram no ano pretérito em conferência com 2023, atingindo o maior patamar desde 2004, quando a série histórica começou. O interesse pelas chamadas baggy pants —as calças extragrandes —também está em curva ascendente. De entendimento com a plataforma, a procura por elas cresceu 460% entre 2020 a 2024.

Billie Eilish é a grande representante desse estilo entre os famosos, mas ela não é a única. Artistas uma vez que Rihanna, Kanye West e Zendaya já foram clicados usando peças extragrandes.

Empresas de vestuário sentem nas vendas as reverberações dessa tendência. Diretora de estilo da Renner, Juliana Frasca diz que há um aumento contínuo na demanda por camisas amplas e jeans de modelagem mais solta.

“Essa é uma categoria que tem conquistado cada vez mais destaque, refletindo o libido por roupas que aliam conforto e estilo de maneira autêntica.”

Cenário parecido foi constatado pela Another Place, marca queridinha dos mais jovens. “No ano pretérito, essa tendência deu uma boa explodida. O nosso best-seller em 2024 foi a calça baggy, que é praticamente um balão”, diz Rafael Promanação, diretor criativo da empresa.

O aumento da popularidade desses modelos, no entanto, fez uma vítima. A calça skinny, famosa nos anos 2000 por seu caimento justíssimo, tem sido preterida por peças mais largas. “A gente até lançou uma skinny há uns seis meses, mas a saída é muito menor em conferência com as outras.”

Se depender de Kauhê, o estudante de letras, o item continuará em baixa. “Eu não usaria. Em hipótese nenhuma. Não conheço ninguém que usaria também. Se eu colocar uma calça apertada, acho que o mundo acaba.”

A valorização de caimentos largos têm sido puxada por pessoas que estão na filete etária de Kauhê, ou seja, jovens da geração Z. Rede social favorita dos fashionistas para deslindar ideias, o Pinterest mostra que internautas entre 18 e 24 anos são os que mais procuram por itens folgados.

“Essa silhueta que a geração Z escolheu é uma forma de edificar identidade”, afirma o sociólogo Dario Caldas, diretor do escritório de tendências Observatório de Sinais. Para o perito, essa construção identitária acontece por meio da oposição estética a quem veio antes deles.

“Nesse caso, quem veio antes foram os millennials, uma geração mais associada à calça skinny, roupas justas e à exposição do corpo.”

Os primeiros sinais dessa oposição ficaram evidentes em 2021. À era, a geração Z lançou uma investida contra os millennials nas redes sociais, tachando os hábitos dessa geração de cringe, alguma coisa uma vez que vergonhoso, em português. A lista de práticas consideradas reprováveis incluía tomar moca da manhã, usar Facebook e, evidente, vestir calça skinny.

Além de se opor a gerações anteriores, Dario diz que a predileção dos jovens pelo extragrande é uma forma de fazer frente a padrões estéticos. “A pressão sobre o corpo e a valorização da magreza continuam muito fortes. De certa forma, roupas largas anulam essas tensões ao dissimular as formas.”

A avaliação do perito se confirma entre os jovens. A universitária Alice DellaPiazza, de 20 anos, diz que peças largas a deixam mais à vontade com o próprio corpo.

“Eu tenho inseguranças, uma vez que, por exemplo, com a minha perna. Portanto, short é uma coisa que eu não usaria no dia a dia”, diz ela. “Para Carnaval ou baladas, eu escolho ir de calça por me sentir mais confortável.”

O conforto, aliás, aparece de forma recorrente uma vez que um dos atrativos de vestuários mais amplos. “Eu não usaria calça skinny justamente por não proporcionar conforto para mim e para boa secção da minha geração.”

Apesar de confortáveis, roupas largas não são um consenso. Há quem torça o nariz afirmando que esses modelos são informais e desleixados demais. Também existem aqueles que não consideram esse vestuário adequado para as mulheres.

“Acham que é um estilo mais masculino. Muita gente confunde roupa com orientação sexual e acha que uma moçoila usando oversized não deve ser hétero”, diz DellaPiazza. “Mas acho importante fugir desse preconceito em relação ao que é considerado masculino e feminino.”

Para essa geração, estilo e liberdade caminham lado a lado. É isso o que afirma Lorenzo Merlino, professor de tendência da Faap, a Instauração Armando Alvares Penteado. “Eles não querem que roupa seja uma talinga ou uma armadura. E eu digo isso em todos os sentidos, inclusive no de gênero.”

De entendimento com o perito, a história da tendência é marcada por alternâncias de modelagem. Na Grécia Antiga, por exemplo, ela costumava ser mais folgada, razão pela qual túnicas e chitons eram comuns. Já a partir da Renascença, houve o soberania de roupas rígidas e rentes ao corpo, com a prevalência de corpetes para as mulheres e gibões no caso dos homens.

“No século 18, acontece outra mudança”, diz Merlino. “As mulheres começam a desabitar o corpete e passam a usar vestidos mais soltos e mais confortáveis.”

De entendimento com o perito, esse processo se fortaleceu no prelúdios do século 20, quando o estilista francesismo Paul Poiret revolucionou a silhueta feminina a propor roupas com uma estrutura mais larga e fluida. Começa aí os primórdios daquilo que se convencionou invocar de oversized.

Nos anos 1980, esse estilo ganhou tração por influência da tendência de rua, sobretudo entre rappers, grafiteiros e skatistas. “Hoje, o streetwear tem um espaço muito grande dentro do mercado, seja ele de luxo, seja de subida produção”, afirma Mário Queiroz, designer de tendência e doutor em informação e semiótica pela PUC-SP.

Grifes uma vez que Gucci, Balenciaga e Louis Vuitton de roupa têm apostado em coleções inspiradas nas ruas, com o soberania de tênis, estampas chamativas e roupas extragrandes. Para Queiroz, as marcas estão traduzindo o libido dos mais jovens por vestuários confortáveis e autênticos.

“Eu interpreto esse estilo uma vez que um sintoma do tempo em que a gente vive. São roupas anticonformistas. É uma vez que se elas dissessem que os jovens não aceitam determinadas regras de elegância”, afirma o perito. “Usar peças maiores é uma forma autoral de se manifestar.”

Folha

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