No final de fevereiro, pouco depois da meia-noite, um enorme arrecadação no Brooklyn Navy Yard vibrava com a house music dramática e repleta de sintetizadores do DJ e produtor Solomun, de Ibiza, enquanto uma luz vermelha piscava sobre um mar de pessoas barulhentas na fita dos 20 e 30 anos.
Dois dias antes, ele estivera no Sphere, em Las Vegas, com capacidade para 20 milénio pessoas, abrindo para Anyma, uma estrela ítaloamericana da música eletrônica cuja série de shows de Ano Novo esgotou em menos de 24 horas, arrecadando US$ 21 milhões em ingressos.
Pouco antes das 2h, algumas semanas depois, a DJ e radialista Moxie, de Londres, agitava a Public Records, no Brooklyn, com uma fita clássica de house dos anos 90, sorrindo de ouvido a ouvido enquanto observava a morada noturna suada, com capacidade para 200 pessoas.
Em uma noite mais fria de março, Zeemuffin, uma DJ paquistanesa de Brooklyn, estava no palco do Elsewhere, em Bushwick, porquê atração principal de “Azadi” (“liberdade” em urdu), um programa com uma variedade de sons da dance music global —house de Chicago, club de Jersey, house de Baltimore, dancehall, o Dança funk do Brasil, o gqom da África do Sul— enquanto uma plateia lotada ia à loucura.
Zeemuffin (nome verdadeiro: Zainab Hasnain DiStasio) viajou de volta ao Paquistão no início do ano para ser DJ em um clube em Karachi, onde o quase pandemônio em seu show beirava o êxtase. “Nunca em toda a minha vida —e eu sou de lá— vivi um tanto parecido” na cidade, ela lembrou. Ela descreveu uma plebe de “pessoas queer, pessoas trans, pessoas negras, pessoas brancas, pessoas asiáticas, tudo em um só lugar”, e suspirou. “Foi inacreditável.”
Nos últimos quatro anos, cenas porquê essas têm se repetido cada vez mais em todo o mundo, à medida que a dance music vivencia mais um período de expansão. Os lineups de festivais estão lotados de DJs, enquanto alguns dos maiores nomes da música pop, incluindo Beyoncé, Drake e Charli XCX, lançaram álbuns inspirados na dance music ou em temas relacionados. Geralmente, é nesse ponto —quando um jornal acha tempestivo redigir sobre o tópico— que a queda começa.
Oriente momento, no entanto, é dissemelhante.
Impulsionadas por mudanças socioeconômicas, culturais e tecnológicas, a dance music e a cultura clubber se basearam no progresso do pretérito para deixar uma marca mais profunda do que nunca. À medida que os custos para apresentações instrumentais ao vivo disparam, um DJ em turnê precisa viajar exclusivamente com um pendrive referto de músicas.
A evolução contínua dos hardwares e softwares de DJ suavizou a curva de aprendizagem —e o preço de ingressão— para iniciantes, ao mesmo tempo em que expandiu as possibilidades para artistas experientes. Plataformas digitais porquê a Boiler Room —a série de vídeos extremamente popular que foi pioneira no formato de vídeo de DJ online— mudaram a trajetória do que significa ser um artista ou fã de música eletrônica.
“A Boiler Room tem sido uma força enorme, trazendo todos os tipos de música eletrônica de dança do mundo todo para as pessoas em seus quartos, não importa onde estejam”, disse o proprietário de gravadora e jornalista músico veterano Philip Sherburne.
Gerações anteriores registravam seu tempo em lojas de discos e encontravam festas por meio de panfletos. Agora, esses mundos estão a um toque de intervalo, fragmentados e apresentados algoritmicamente, em clipes curtos e hiperatraentes.
“Depois da Boiler Room, você vê DJs de funk brasílio extremamente experimentais”, acrescentou Sherburne. “Você vê grime, você vê techno. Você encontra todo o espectro ali.”
Essa variedade é outra realce significativa deste momento —nenhum estilo de música eletrônica se tornou popular em detrimento dos outros. Hard techno, afro house, drum and bass, tech house, UK garage: todos são diferentes e estão encontrando público.
Ao mesmo tempo, as cenas da vida noturna lugar ao volta do mundo —desmistificadas pela enxurrada de teor online sobre elas— estão atraindo mais atenção do que nunca. No TikTok, onde a hashtag “música eletrônica” acumulou 13,4 bilhões de visualizações em 2024, um aumento de 45% em relação a 2023, a presença do dedo em uniforme expansão da dance music inclui influenciadores explicando as diferenças entre os gêneros, recomendando onde ouvi-los ou explicando a história da dance music, um disco de cada vez.
DJs amadores que fazem música —ou, às vezes, exclusivamente memes— podem edificar carreiras substanciais praticamente da noite para o dia.
Tudo isso contribui para que o gênero tenha um alcance inédito: a variedade de dance music que as pessoas estão produzindo e apreciando, os lugares onde dançam e a quantidade de mídia gerada sobre ele. E dependendo de quem você perguntar, a julgar pelas inúmeras entrevistas realizadas para nascente item com DJs, chefes de gravadoras, bookers e donos de casas de shows de todo o espectro da dance music, isso é para o muito ou para o mal —muitas vezes para os dois.
Historicamente, quando a dance music se destaca no mainstream americano, ela se aproveita do pop. Nos anos 90, “Ray of Light”, de Madonna, e filmes porquê “Go”, trouxeram a cultura rave para os holofotes, enquanto a MTV exibia clipes de Fatboy Slim, Chemical Brothers e Aphex Twin, e frequentadores de shoppings suburbanos se apropriavam das calças rave de pernas largas.
Na dezena de 2010, artistas porquê Calvin Harris, Daft Punk, Skrillex e Diplo trouxeram a música eletrônica, ou EDM, para o Top 40 das rádios, em parceria com Rihanna, Taylor Swift, Pharrell Williams e Justin Bieber.
A Forbes relatou que os 10 DJs mais muito pagos e de cimalha desempenho ganharam US$ 298 milhões em 2017; a lista incluía Harris (US$ 48,5 milhões), Tiësto (US$ 39 milhões) e Chainsmokers (US$ 38 milhões).
No ano seguinte, o produtor e DJ superstar Avicii, que havia falado sobre o estresse do trabalho, cometeu suicídio. A sarau da dança, pelo menos no mainstream, parecia ter minguado.
Cinco anos detrás, em meio a uma pandemia e ao lockdown global que a acompanhou, a questão de quando a vida noturna seria retomada —e muito menos porquê seria quando isso acontecesse— não tinha uma resposta clara.
O mundo, porquê se viu, queria dançar. Muito. Em seguida mais de um ano de isolamento social, pessoas de todas as idades começaram a restaurar o tempo perdido. Alguns perderam os anos em que a vida noturna normalmente começa a invocar; outros, envelhecendo, estavam recuperando os anos que lhes foram roubados.
“Depois disso, foi bastante avassalador às vezes”, disse Moxie (nome verdadeiro: Alice Moxom). “O primeiro show que anunciei posteriormente o lockdown, em uma morada de shows chamada Village Underground, esgotou, assim mesmo.”
E não parou nas casas noturnas —o mercado mainstream de dance music explodiu, lentamente, e de repente. O artista eletrônico Fred, novamente… passou de tocar no Bowery Ballroom, com capacidade para 575 pessoas, em Novidade York, em dezembro de 2021, para ter uma apresentação no Boiler Room que viralizou em 2022 e para ser a atração principal do Coachella com Four Tet e Skrillex em abril de 2023.
No verão pretérito, ele esgotou os ingressos do LA Memorial Coliseum —com capacidade para mais de 75 milénio pessoas— com exclusivamente cinco dias de antecedência.
Em 2023, álbuns de Beyoncé e Drake fizeram referência à house music e à club music. Charli XCX promoveu seu LP “Brat”, de 2024, no clube Amnesia, em Ibiza. Uma fita da pulsante “Eusexua”, de FKA Twigs, foi mixada no clube Berghain, em Berlim. E Katy Perry fez uma aparição zero discreta na residência do DJ sul-africano Black Coffee, HI Ibiza, para promover “143”.
Ainda assim, a dance music está eclipsando o pop que usou para se infiltrar no mainstream. “Move”, fita lançada no ano pretérito por Adam Port, membro do selo germânico Keinemusik, tem mais de 542 milhões de streams no Spotify —mais do que qualquer música lançada por Charli XCX, Katy Perry ou FKA Twigs. Artistas porquê John Summit, Sara Landry e Sammy Virji estão se tornando nomes conhecidos por préstimo próprio.
“Parece possuir mais música eletrônica novidade do que música eletrônica com guitarras, mormente em nossos locais”, disse Josh Moore, um comprador de talentos que agencia shows com a Bowery Presents há 18 anos. “Agendamos apresentações de dança em clubes de rock há muito tempo, muito antes da pandemia”, acrescentou, “mas definitivamente parece ter aumentado ultimamente.”
Neste verão, a Bowery Presents realizará um dos maiores shows do ano em Novidade York: Keinemusik, com uma estimativa de 40 milénio pessoas esperadas para o evento no Flushing Meadows Corona Park, no Queens.
Os lineups dos festivais de música americanos têm se tornado cada vez mais dominados por apresentações de música eletrônica, e os festivais de música eletrônica estão atraindo públicos recordes: o Electric Daisy Carnival em Las Vegas atraiu 525 milénio pessoas no ano pretérito, em três dias. Para contextualizar, o Coachella 2024 atraiu aproximadamente 200 milénio pessoas em dois fins de semana.
O mercado internacional de música eletrônica está ainda maior. Grandes festivais de música eletrônica estão se tornando destinos, porquê o UNUM Festival, na Albânia, ou na Índia, onde o festival DGTL, sediado em Amsterdã, iniciou edições em Mumbai e Bengaluru.
Em um cenário menor, festivais de música eletrônica de nicho estão surgindo e atraindo significativamente mais interesse, porquê o Dripping, em Novidade Jersey. Ou o Sustain-Release, no interno do estado de Novidade York, agora em seu 11º ano e mais mitológico do que nunca: a ingressão é concedida exclusivamente a quem possui associação, que é feita por indicação.
Artistas e donos de casas noturnas argumentam que os festivais desviam moeda das casas noturnas, que também correm o risco de perder negócios regulares durante crises econômicas globais, quando a renda disponível é limitada. Isso sem falar dos mercados imobiliários comerciais cada vez mais competitivos em cidades onde a vida noturna prospera.
Os interesses financeiros em torno da indústria músico também estão mudando. A KKR, uma grande empresa global de private equity, agora é dona de alguns dos maiores festivais de música do mundo por meio de sua empresa de portfólio, a Superstruct, além do Boiler Room. Alguns de seus eventos não foram muito recebidos pela comunidade da dance music, predominantemente progressista.
A programação dos festivais e as playlists do Spotify, juntamente com as formas mais virais de dance music e suas maiores celebridades, tendem a ofuscar e sub-representar as comunidades marginalizadas, fundamentais para a base da dance music.
Artistas porquê Honey Dijon continuam dedicados a evidenciar as raízes negras e queer do gênero, que foram semeadas nas casas noturnas de Chicago e Detroit e nos lofts de Novidade York. “Pretérito, presente e horizonte existem em um contínuo”, disse ela ao The New York Times em 2022. “E isso está exclusivamente reintroduzindo coisas no agora.”
Ela creditou às mulheres trans que conheceu trabalhando na vida noturna o fornecimento de escora e recursos para sua própria transição. Porquê muitos escritores observaram, a música eletrônica há muito tempo oferece um espaço seguro para artistas e fãs trans e não binários.
A tecnologia facilitou um salto quântico para a promoção e disseminação da música, mas as filmagens por telefone em casas noturnas são cada vez mais um flagelo que sufoca a vibração, apagando a catarse anonimizadora de uma pista de dança. DJs consagrados com anos, senão décadas, de experiência estão lutando para se promover nas redes sociais enquanto competem com novatos que podem trespassar tão rápido quanto aparecem.
“A proliferação de stories no Instagram e stories no TikTok de DJs se exibindo —não é zero deleitável”, disse Eamon Harkin, DJ em Novidade York desde 2007 e coproprietário da adorada boate do Brooklyn Actually desde 2015.
Ele comparou a prática de colocar o DJ em um pedestal supra da música e dos frequentadores. “Parece que estamos nos afastando da núcleo da cultura, que se baseia em uma experiência coletiva na pista de dança, com alguém simplesmente escolhendo a música e tentando combiná-la de forma proposital e premeditado para encomiar essa experiência.”
A Actually foi uma das primeiras de um número crescente de casas noturnas do Brooklyn —porquê a Basement e a recém-inaugurada Signal— a imitar suas contrapartes europeias, com políticas que proíbem celulares na pista de dança.
Antes de seu show de cinco horas na Public Records no mês pretérito, Moxie almoçou no quintal de um restaurante em Greenpoint e discutiu alguns dos obstáculos que a dance music enfrenta, incluindo uma série de fechamentos de casas noturnas em sua cidade natal, Londres, e uma mudança de mentalidade entre alguns jovens, que preferem observar em vez de participar.
“É ‘vou permanecer em morada assistindo a um DJ em um set de transmissão’”, disse ela, “ou ‘agora eu quero ser a DJ e vou ensaiar em morada’.” “Você precisa da plateia”, disse ela. “Você precisa da plateia para participar!”
Aqueles que estão motivados a trespassar de morada —e ainda são muitos— estão achando a cena ressurgente mais plural.
“As mulheres não se sentem tão intimidadas por isso”, disse Moxie. “Não há tantos guardiões.” Essa é uma diferença marcante em relação à sua subida, dez anos detrás, na cena dubstep londrina, dominada por homens. “E isso é, na verdade, um ponto positivo nas mídias sociais”, explicou Moxie. “Agora, você pode invadir seguidores por um caminho dissemelhante —não precisa ser uma mixtape na BBC.”
Em janeiro, um DJ nipónico chamado Yousuke Yukimatsu chamou a atenção para a agitada vida noturna de Tóquio —e para si mesmo— com exclusivamente uma apresentação incrivelmente emocionante no Boiler Room. Podcasts porquê o “Safe Spaces Series”, apresentado pelo DJ do Brooklyn, Tony Y Not, destacam os problemas de saúde mental que os DJs enfrentam.
Até as raízes do gênero estão conseguindo sobreviver no caos de seu presente em hiperevolução. Há exclusivamente algumas semanas, Kevin Saunderson —um inventor e pioneiro do techno— estava no Instagram explicando sua história para um fã que não fazia teoria de que o gênero havia nascido não na Europa, mas em Michigan.
“Reverência aos novos fãs e aos veteranos”, legendou a publicação. “O techno de Detroit é para sempre.”