Por Que Abu Dhabi Ergue A 'meca Das Artes'

Por que Abu Dhabi ergue a ‘meca das artes’ – 22/05/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Primeiro, o mar azul-turquesa do golfo pérsico. Ao volta, o calor inclemente da primavera arábico. No meio de tudo isso, um sem-número de guindastes ergue aquilo que almeja ser a meca das artes de Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes.

Trata-se do região cultural de Saadiyat, ilhota que abriga oito instituições voltadas à cultura, quatro das quais ainda estão em construção —os museus oriundo e pátrio, o TeamLab Phenomena, voltado a experiências imersivas, e o Guggenheim, uma versão lugar da instituição nova-iorquina que guarda uma das coleções de arte moderna e contemporânea mais celebradas do mundo.

Aliás, um dos destaques da novidade instituição será uma estátua metálica de Lygia Clark feita em 1960 para a série “Bichos”.

Dentre os museus que estão em funcionamento, a joia mais resplandecente da diadema é o Louvre de Abu Dhabi. Fundado em 2017, o museu se impõe antes mesmo de o visitante cruzar os seus portões.

Isso porque a instituição é encimada por um domo de 7.500 toneladas inspirado nas construções islâmicas, célebres por suas grandes cúpulas, a exemplo da Cúpula da Rocha, em Jerusalém.

Se do lado de fora a construção impressiona, do lado de dentro ela mesmeriza. O domo prateado é crivado por frestas que deixam evadir raios de sol, de modo que o teto reluz feito uma nuvem de estrelas. A referência para esse efeito é a cidade de Al Ain, que fica a respeito de uma hora e 15 minutos de Abu Dhabi.

Um oásis virente incrustado no deserto, o lugar é espargido por sua vegetação luxuriante. Quando o visitante caminha debaixo das palmeiras, a luz do sol atravessa a despensa das árvores e cria um efeito semelhante ao observado no Louvre.

“A arquitetura é uma metáfora direta sobre quem somos”, diz Mohamed Khalifa Al Mubarak, patrão do Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi.

“Essa cúpula que você vê do lado de fora é uma celebração da capacidade humana”, afirma ele, apontando para uma grande janela através da qual é provável ver frequentadores tirando selfies na espaço externa do museu.

No entanto, não é unicamente a arquitetura que serve de metáfora para a identidade lugar. A proposta curatorial do museu reflete a posição que os Emirados Árabes ocupam no xadrez geopolítico.

O país faz segmento do chamado sul global, sentença moderna e politicamente correta para se referir a países do velho terceiro mundo.

O Louvre de Abu Dhabi não tenta mimetizar seu homólogo galicismo. Na verdade, a instituição oferece uma visão menos eurocêntrica da arte sem, porém, negar a taxa europeia para essa espaço.

Exemplo disso é uma galeria na qual estão expostas obras orientalistas, ou seja, pinturas feitas por artistas europeus sobre as culturas orientais.

Porquê uma resposta, a mesma sala traz trabalhos de pessoas do Oriente sobre as suas culturas. É uma vez que se a instituição quisesse revelar o olhar daqueles que sempre foram observados.

“Hoje, vivemos em um mundo em que o entendimento se tornou difícil”, diz Mohamed Khalifa. “Estamos mais distantes do que deveríamos estar, o que tem criado conflitos ao volta do mundo. Logo, a cultura e a ensino são ferramentas muito poderosas para entendermos a perspectiva uns dos outros.”

Ele acrescenta ainda que a decisão de fazer um museu multicultural tem a ver com a constituição dos habitantes dos Emirados. Muro de 80% da população é formada por imigrantes. “Festejar a arte de todos é uma forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas.”

De concórdia com ele, o país investe o equivalente a R$ 29 bilhões para colocar de pé os museus.

No caso do Louvre, as obras duraram dez anos e foram cercadas de polêmicas. A primeira delas aconteceu antes mesmo de a construção debutar.

Segmento da sociedade francesa não viu com bons olhos a geração de um Louvre fora da França. À estação, temia-se que o Palácio do Eliseu estivesse sacrificando a qualidade artística da instituição em obséquio dos vultosos ganhos financeiros que a transação traria ao governo.

Segundo a dependência de notícias Reuters, os Emirados Árabes pagaram € 400 milhões (R$ 2,2 bilhões) para se associar ao museu mais prestigiado do mundo. Ou por outra, a França emprestou 300 obras de arte para Abu Dhabi formar a coleção do novo Louvre, que conta também com 700 peças permanentes.

Um dos empréstimos mais valiosos é uma pintura de São João Batista feita por Leonardo da Vinci. O quadro, que nunca foi finalizado, pertenceu ao rei Luís 14º antes de ser adquirido pelo Louvre, em 1793.

Além da insatisfação francesa, o museu precisou mourejar com acusações de violação de direitos trabalhistas.

Em 2015, um trabalhador paquistanês morreu no canteiro de obras, dando impulso a uma vaga de críticas sobre as condições de trabalho dos operários.

À estação, a ONG Human Rights Watch lançou um relatório denunciando violações de direitos humanos em Saadiyat, região onde o Louvre está localizado.

O documento dizia que os operários, a maioria indianos, paquistaneses e nepaleses, tinham passaportes confiscados, eram expostos a condições precárias de trabalho e recebiam salários baixos –isso quando não ficavam sem receber.

Jean Nouvel, arquiteto que projetou o Louve de Abu Dhabi, rebateu as acusações quando o museu foi inaugurado. O ganhador do Prêmio Pritzker, o Nobel da arquitetura, afirmou que as condições de trabalho na capital eram melhores que as de países europeus.

“No início das obras, visitamos os locais onde vivem os trabalhadores e estava tudo muito. Não vimos nenhum problema”, disse Nouvel ao jornal inglês The Guardian.

Folha

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