Cinco anos detrás, antes da pandemia, o cinema mundial festejava a arranque nas bilheterias da China. Em 2019, “Vingadores: Ultimato” alcançou sozinho a maior receita de um filme de Hollywood no país —4,2 bilhões de yuans, um tanto na filete de R$ 3,36 bilhões. Para termos de confrontação, o filme arrecadou R$ 358 milhões no Brasil e se mantém, até hoje, uma vez que a segunda maior bilheteria da história no país.
Cinco anos depois, no verão deste ano, entre 1º de junho e 31 de agosto, a bilheteria da China enfrenta uma queda brusca, com 11,6 bilhões de yuans, ou R$ 8,7 bilhões —uma arrecadação 44% menor do que no mesmo período do ano pretérito, segundo a plataforma de ingressos Maoyan.
No também importante feriado prolongado do Dia Vernáculo, no início de outubro, o declínio foi menor, de 23%. A expectativa do banco de investimentos CICC é que o setor feche o ano com arrecadação 10% inferior do ano pretérito.
O banco chinês cita, uma vez que motivos para a queda, o teor considerado fraco e o consumidor mais precatado, de maneira universal. Outros analistas de cinema e a própria indústria arriscam diversas explicações, inclusive a concorrência crescente das plataformas de vídeos curtos.
Para buscar recuperação neste término de ano, os cinemas apelaram para blockbusters chineses e americanos do pretérito. “Terreno à Deriva 2”, ficção científica do ano pretérito, voltou às salas de cinema do país, assim uma vez que a saga “Harry Potter”, com uma reestreia por semana.
Outra aposta americana é “Red One” —no Brasil, “Operação Natal”—, novidade comédia com Dwayne Johnson sobre o sequestro de Papai Noel, que estreia no dia 8 de novembro na China, uma semana antes dos Estados Unidos.
Johnson era atração de bilheteria até a pandemia, com seus filmes na série “Velozes e Furiosos” faturando mais no mercado chinês do que no americano. Mas a própria franquia vem caindo no país, filme depois filme, a exemplo de outras, uma vez que “Meu Malvado Predilecto”.
A franquia “Alien” se recuperou neste ano, com o filme “Romulus”, que rendeu mais na China do que nos Estados Unidos. Mas é um caso à secção. Não faltam alarmes e explicações para o refluxo de Hollywood no país, evidenciado no ano pretérito quando “Barbie” ficou fora das 30 maiores bilheterias do ano.
Uma das razões seria a inabilidade dos executivos americanos com o marketing chinês, a ponto de não recorrerem ao Douyin, uma espécie de TikTok no país. Outra seria a subida dos filmes locais, com roteiros mais atentos à demanda, por exemplo, por blockbusters nacionalistas —a exemplo de “A Guerra do Lago Changjin”, que ultrapassou “Velozes e Furiosos 9” em 2021— ou de ficção científica.
Mas neste ano até os títulos chineses ficaram devendo. Uma exceção, em próprio, salvou o verão. A comédia “Successor”, no título em inglês para o lançamento no exterior —ou prendendo o Boneco, numa verosímil tradução do original—, respondeu por um terço da receita no período.
No caso dos filmes nacionais, fora “Successor” e outros, o problema estaria na própria qualidade oferecida aos espectadores, que reagiram na rede social Weibo, por exemplo, apontando as falhas em postagens com a hashtag “bilheteria de verão desoladora”. Na plataforma de críticas Douban, que retrata o boca a boca chinês, as maiores promessas receberam avaliação baixa.
Um dos fracassos foi “Legend”, filme de ação protagonizado por Jackie Chan, que teria custado 360 milhões de yuans, ou R$ 286 milhões, e arrecadado metade disso. Também decepcionaram as apostas chinesas em animação, que têm seus lançamentos concentrados na temporada de verão. No Douban, os espectadores dizem que “isso mostra o cansaço com mitos e lendas” nas animações do país.
Um pintura de executivos e analistas de cinema reunido pela emissora privada iFeng concluiu que nem “Successor” pode ser considerado exitoso, em relação aos recursos investidos no filme, indicando um novo normal para o setor depois da pandemia.
O ano pretérito teria deixado a falsa sensação de recuperação, com filmes uma vez que “Terreno à Deriva 2”, mas já havia sinais de mudança no comportamento do público, com a média de ida ao cinema caindo para 2,42 vezes no ano pretérito, contra 3,25 vezes em 2019. Nos últimos anos, houve ainda mudanças nas salas. Desde 2011, por exemplo, é proibido no país fumar em locais públicos fechados.
A esperança corre em torno de “Successor” e do que a comédia familiar pode valer. Estaria ocorrendo uma mudança estrutural, com maior participação de mercado das cidades menores, do interno da China, que consomem temas e formatos mais tradicionais.
A sinopse da produção: “Ma Chenggang e Ma Chunlan vão de palerma para o trabalho e veem seu fruto, Ma Jiye, uma vez que única esperança de mudar o rumo. Jiye é promissor, destacando-se academicamente todo ano. É poderoso e determinado. Mas, à medida que Jiye cresce, percebe que as pessoas ao seu volta estão se tornando cada vez mais estranhas”.
O parelha, na verdade, é bilionário e criou um mundo paralelo visando preparar o fruto para a difícil competição na sociedade chinesa —e para a sua sucessão. Ele descobre tudo no dia em que vai prestar o Gaokao, uma espécie de Enem lugar. Nas redes sociais chinesas, a história é tratada uma vez que uma versão de “Show de Truman”, engraçada, mas tão sombria quanto o filme americano.
“Successor” estreou em meados de julho e permaneceu por meses no superior das bilheterias chinesas, saindo e voltando. O americano “Deadpool & Wolverine” estreou uma semana depois, sem conseguir a liderança.
Havia expectativa de que a comédia pudesse ser indicada pelo país ao Oscar, mas foi escolhido um documentário, “The Sinking of the Lisbon Maru” —o naufrágio do Lisbon Maru—, com histórias de 800 prisioneiros britânicos mortos na costa da China, quando um navio nipónico que os transportava foi torpedeado por americanos na Segunda Guerra.
Mais do que apresentar uma vez que heróis os pescadores chineses que salvaram outras centenas, é um manifesto contra guerras —daí talvez a escolha. Os depoimentos de dois dos sobreviventes, que morreram perto dos século anos, antes da estreia, em setembro, são tocantes e parecem perfeitos para repetir no Poente. Desde que a China começou a participar do Oscar, 25 anos detrás, nunca um de seus filmes venceu na categoria para estrangeiros.