Por Que Estamos Vivendo Era De Ouro Do Concurso De

Por que estamos vivendo era de ouro do concurso de sósias – 08/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Em março deste ano, uma pessoa com os mesmos olhos felinos, cabelos loiros e altas maçãs do rosto de Kate Moss desfilou na Semana de Tendência de Paris, na França. Mas não era a supermodelo.

O desfile gerou confusão na internet. “Aquela não é somente Kate Moss?”, dizia um observação. Outra frase geral, de incredulidade, era “aquela é Kate Moss”.

Mas, para alguns poucos olhares atentos, o caminhar da personagem revelou que realmente não se tratava da famosa supermodelo britânica, mas sim de Denise Ohnona —sósia de Moss, de Lancashire, no noroeste da Inglaterra.

A subida costura parece ter criado uma tendência. Ao longo do ano, as comportas se abriram para uma verdadeira vaga de concursos de sósias de celebridades.

Primeiro, os homens que se achavam a traslado leal do ator Timothée Chalamet se reuniram no Washington Square Park, em Novidade York, nos Estados Unidos. Depois, moradores de Dublin, na Irlanda, decidiram mostrar que são parecidos com o ator irlandês Paul Mescal.

Em seguida, veio o concurso de sósias do ator e cantor Harry Styles. Depois, foi a vez dos atores Dev Patel e Jeremy Allen White (da série “O Urso”), do cantor Zayn Malik, da cantora e atriz Zendaya e assim por diante —e outros concursos estão programados para o mês de dezembro.

Esta tendência recente parece ser muito atual. Seu alcance foi global, com cada evento viralizando nas redes sociais de forma alucinante. Mas os concursos de sósias não são uma invenção moderna.

Nos anos 1920, Charles Chaplin (1889-1977) foi o terceiro disposto em um concurso para encontrar sósias dele mesmo, segundo conta um de seus filhos, Charles Chaplin Jr. (1925-1968), no seu livro “My Father, Charlie Chaplin” (sem edição em português):

“Papai sempre achou que esta é uma das brincadeiras mais engraçadas que se pode imaginar”, conta o fruto. Mas o pai teria refutado a verdade da história.

Um caso mais fácil de provar é o da cantora Dolly Parton. Ela conta em suas memórias que participou de um concurso de sósias dela mesma. No livro, ela relembra que foi “a menos aplaudida, mas eu simplesmente morria de rir por dentro”.

O ator Andy Harmer não se lembra de um ano mais concorrido para os sósias do que 2024. Ele é sósia do jogador de futebol David Beckham e dirige uma filial de sósias.

Os registros de Harmer incluem mais de 3 milénio pessoas que compartilham segmento da núcleo de alguém famoso, desde o arquiteto britânico Isambard Kingdom Brunel (1806-1859) até personagens mais atuais, porquê as cantoras Rihanna e Ariana Grande.

Ohnona, a sósia de Kate Moss, é um dos principais nomes da filial.

Os concursos de sósias são os exemplos mais presentes e comentados do ano, mas não foram os únicos a abordar levante tema. Filmes, livros e programas de TV trouxeram os sósias para perto do público em 2024.

O professor de estudos americanos Adam Golub está escrevendo um livro sobre os sósias na cultura americana. Para ele, “não há dúvidas de que estamos vivendo uma novidade era de ouro dos sósias”.

Os sósias costumam ir e vir de tempos em tempos na cultura popular. Mas, agora, “eles definitivamente voltaram se vingando”, declarou Golub à BBC.

Em junho, a escritora e ativista canadense Naomi Klein foi a primeira lucrar o Prêmio de Não Ficção para Mulheres pelo livro Doppelganger: A Trip into the Mirror World (“Sósias: uma viagem para o mundo dos espelhos”, em tradução livre). Nele, Klein mergulha no mundo conspiratório de uma pessoa com quem ela foi seguidamente confundida online —a controversa escritora Naomi Wolf.

O livro de Klein foi publicado posteriormente um romance pós-pandemia da escritora Deborah Levy, cuja personagem médio viaja pelo mundo encontrando uma sósia.

“Ela era eu e eu era ela. Talvez ela fosse um pouco mais de mim do que eu”, escreve ela em August Blue (“Tristeza de agosto”, em tradução livre).

O quadro “Porquê Eles se Conheceram”, do pintor Dante Gabriel Rossetti, mostra um par de amantes que encontram seus sósias em um selva.

Mas o que é, na verdade, um sósia?

“Uma forma fácil de pensar em um sósia é porquê um segundo ‘eu’ não biológico”, explica Golub. “É um dublê de identidade que não tem relação com você.”

A professora de estudos culturais Alia Soliman é a autora do livro “Doppelganger in Our Time: Visions of Alterity in Literature, Visual Culture and New Media” (“Sósias no nosso tempo: visões da alteridade na literatura, cultura visual e novos meios de informação”, em tradução livre). Ela conta à BBC que o termo em teutónico para sósia (Doppelgänger literalmente, “andarilho duplo”) foi cunhado pelo repórter teutónico Jean Paul Richter (1763-1825).

A cultura antiga e moderna explorou temas de identidade, morte e a natureza simbiótica do muito e do mal, usando a teoria do sósia.

Os sósias foram objetos de arte, porquê as pinturas surrealistas de René Magritte (1898-1967) e dos pré-rafaelitas, porquê Dante Gabriel Rossetti (1828-1882). Seu quadro “Porquê Eles se Conheceram” (1860-1864) mostra um par de amantes encontrando seus sósias em um selva.

Soliman explica que, na sua forma literária original, o sósia “assume a forma de um ‘eu’ fantasmagórico ou um revérbero sombrio que atormenta o primeiro ‘eu'”.

Ela se refere a obras porquê “A História Maravilhosa de Peter Schlemihl” (Ed. Estação Liberdade, 2003), de Adelbert von Chamisso (1781-1838); o história William Wilson, de Edgar Allan Poe (1809-1849); O Duplo (Ed. 34, 2013), de Fiódor Dostoiévski (1821-1881); e “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde” (Ed. Hedra, 2011), de Robert Louis Stevenson (1850-1894).

Soliman conta que quase toda a literatura mais antiga “observa a ruína do original e do segundo ‘eu'”.

O mesmo pode ser dito das “ilustrações folclóricas da aparição, porquê o fetch irlandês e o fylgia nórdico, [em que] a aparição do sósia prenuncia o termo da vida ou a aproximação do mal”.

O fylgia é considerado mais um alter ego, tipicamente em forma de bicho. Ele é observado com mais frequência durante o sono. Já o fetch é considerado um duplo espírito.

No poema The Fetch, o poeta norte-irlandês Ciaran Carson (1948-2019) escreveu:

“Ver seu próprio sósia é um presságio da morte… Shelley o viu nadando em direção a ele antes de naufragar. Lincoln encontrou seu fetch na ingressão do palco antes de receber o tiro.”

O responsável se refere a supostos encontros com sósias ocorridos pouco antes da morte do poeta inglês P. B. Shelley (1792-1822) e do presidente americano Abraham Lincoln (1809-1865).

O experimento “O Infamiliar” (Ed. Autêntica, 2019), de Sigmund Freud (1856-1939), é uma obra de referência sobre o tema dos sósias. Nele, o sósia é misterioso. Freud o descreve porquê “pertencente a tudo o que é terrível – a tudo o que motivo pavor e horror arrepiante”.

O sósia era, portanto, alguma coisa que devia ser temido. “Ele quer assumir a sua identidade”, segundo Golub.

Leste tema é explorado no filme de estreia do diretor J. C. Doler The Fetch (2024), indicado na categoria de filmes de terror no recente Festival de Cinema de Austin, no Texas (Estados Unidos).

O sósia também está presente no filme “A Substância” (2024), da diretora Coralie Fargeat. Nele, uma atriz de Hollywood de meia-idade, interpretada por Demi Moore, observa sua clone mais jovem (Margaret Qualley) viver a vida que ela teve no pretérito.

E o tema pode ser observado com mais perspicuidade na metáfora da troca de corpos, tão popular na ficção científica.

“Você pode ser substituído por um forasteiro, um robô ou qualquer tipo de ser sobrenatural, um gêmeo malvado de outra dimensão”, segundo Golub. “De forma universal, nas nossas histórias sobre sósias, o nosso outro ‘eu’ não é bem-vindo.”

Mas Soliman destaca que tudo mudou na segunda metade do século 20, quando os retratos dos sósias “mudaram significativamente de forma, texto e mensagem”.

Atualmente, o sósia é visto de forma dissemelhante. Basta pensar em Chalamet surgindo para tirar fotos com os participantes do concurso de sósias dele mesmo.

O que Soliman labareda de “o novo sósia” é menos perverso e difamado. Nas representações dos novos sósias, “o encontro entre o ‘eu’ e o sósia muda de estrutura e significado, trazendo uma mensagem redentora”.

A jovem clone de “A Substância”, por exemplo, é irritante, mas não uma adversária temida. E os concursos de sósias são eventos engraçados, saudáveis e pitorescos, à tendência antiga.

Finalmente, existe um pouco de humor sem razão ao observar pessoas parecidas entre si.

Neste novo contexto, não surpreende que as pessoas estejam procurando ativamente pelos seus sósias em uma série de aplicativos específicos. Ou que um dos mais importantes projetos relativos aos sósias dos últimos tempos tenha sido o experimento fotográfico do artista canadense François Brunelle.

Inspirado pela sua própria semelhança com o personagem do cinema e da TV Mr. Bean, de Rowan Atkinson, Brunelle encontrou centenas de sósias, criando uma obra que oferece uma mensagem de esperança e unidade.

“Estamos reformulando nossa relação com os sósias”, afirma Golub. “Estamos escrevendo um final feliz para esta história, meio que encontrando nosso estranho irmão gêmeo e formando laços com ele – ou vencendo um concurso de sósias de celebridades.”

Os especialistas oferecem diversas razões para esta mudança de paradigma.

Soliman relembra o surgimento da World Wide Web, em 1993. Para ela, a Web “gerou uma novidade série de fixações induzidas pela tecnologia e uma delas é a procura do nosso sósia do dedo”. E a internet fez com que esta procura ficasse muito mais fácil.

“As oportunidades e complexidades resultantes das inovações visuais e virtuais nas redes sociais influenciaram a cultura do duplo ‘eu'”, explica Soliman. “As pessoas têm aproximação muito mais fácil aos seus sósias.”

“Por que não ficamos assustados com essas coisas que, de alguma forma, representam alguma coisa que deveríamos reprimir?”, pergunta Golub, referindo-se à visão original dos sósias.

Ele acha que, na era do dedo, todos nós nos acostumamos a ter duas ou, às vezes, mais identidades: “eus” físicos e “eus” online, com diferentes vozes nas diversas redes sociais.

Para ele, estamos “nos voltando para levante tipo de folguedo, esta diversão, esta legião de fãs dos sósias” para mourejar com isso.

“Talvez seja uma forma de nos sentirmos inteiros outra vez… encontrar uma versão de si próprio que não pretende roubar sua identidade, nem tirar zero de você, mas que pode simplesmente tirar uma foto com você e melhorar a sua vida.”

A questão dos sósias passou a ser sobre a conexão a uma comunidade fora da internet.

“As redes sociais meio que atraem a nós todos para suas bolhas estranhas e a teoria de que existe alguém igual a nós por aí, vivendo a vida de outra forma, é uma teoria muito reconfortante”, explica a psicanalista Anouchka Grose. Ela passou pela experiência de ser confundida repetidamente com uma atriz da romance Hollyoaks, da TV britânica.

Os jovens, principalmente – talvez os mais pulverizados em diversas identidades online -, podem buscar conexão com os concursos de sósias fora da internet. E, viralidade do dedo à segmento, estes encontros parecem ocorrer no envolvente saudável das feiras rurais, com cartazes simples convidando as pessoas a comparecer e pequenos prêmios em verba para os vencedores.

Mas a diversão talvez não dure muito tempo. No lado oposto ao fenômeno dos sósias, surge no horizonte do dedo o espectro dos deep fakes —sósias falsos que podem nos levar a pensar que são os originais.

“A perceptibilidade sintético irá perturbar muitas coisas nas nossas vidas”, prevê Golub.

Para ele, a tempo atual, de brincadeiras agradáveis em torno dos sósias, pode perfazer tendo vida curta, “quando começarmos a ver alguns dos perigos reais que [os deep fakes] podem trazer. Acho melhor aproveitar a diversão enquanto pudermos.”

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture.

Folha

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