Posso Doar Meu Cérebro Como Maguila Fez? 02/11/2024

Posso doar meu cérebro como Maguila fez? – 02/11/2024 – Ciência

Esporte

A última ação da vida ilustre de Adilson “Maguila” Rodrigues, morto no último dia 24, aos 66 anos, foi doar o próprio cérebro para pesquisas sobre encéfalopatia traumática crônica. Mas quão fácil é fazer esse tipo de doação? Bom, caso você esteja pensando em alguma coisa parecido, por mais interessante que seja a possibilidade, não espere que seja alguma coisa simples.

O cérebro do ex-boxeador agora está no Biobanco para Estudos em Envelhecimento Cerebral da USP, ou, em uma versão mais curta, biobanco de cérebros da USP.

O biobanco existe desde 2004 e tem muro de 4.000 cérebros guardados.

Você está imaginando prateleiras carregadas de jarros contendo cérebros flutuando em líquido? Essa imagem não poderia ser mais distante da verdade.

O registro, na verdade, é formado de grandes gaveteiros nos quais são armazenados diversas pequenas fatias de cérebros. São esses pedacinhos que servem de objeto para pesquisas presentes e futuras.

Os cérebros do biobanco chegam até ali pelo Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), que fica no prédio da Faculdade de Medicina da USP, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. “O pessoal confunde com o IML [Instituto Médico-Legal]”, diz Renata Leite, coordenadora do biobanco da USP.

Ela explica que seguem para o SVO os casos de morte por causas naturais, enquanto o IML, em linhas gerais, trata de mortes violentas.

Segundo a coordenadora, chegam ao serviço 14 milénio óbitos por ano. É dentro desse universo que os pesquisadores do biobanco trabalham. Dependendo dos casos que chegam ao sítio para necropsia, eles abordam a família e explicam uma vez que funciona o projeto e para que podem ser usados os cérebros doados.

Em média, Leite diz que muro de 60% das famílias abordadas concordam em fazer a doação. “O brasílico é muito destapado à doação do cérebro para a ciência”, afirma a perito, comparando o oferecido ao de outros biobancos pelo mundo que realizam abordagens semelhantes. “É um momento de dor, é um momento muito difícil. Eu acho muito formosa essa propensão que as famílias têm de querer contribuir para a ciência.”

A coordenadora afirma que, normalmente, as famílias que não aceitam se baseiam em motivos religiosos ou não sabem qual era a vontade da pessoa que morreu em relação ao tema.

No caso das que aceitam fazer a doação, os pesquisadores disponibilizam os resultados das análises conduzidas no cérebro do ente querido. “Mas a maioria não nos procura para o laudo. O que elas querem mesmo é colaborar com a ciência e ajudar o próximo”, diz Leite.

O procedimento mostra, portanto, que não basta simplesmente uma pessoa querer que o seu cérebro seja doado —e o biobanco é procurado para tal, segundo Leite. Pelo menos, essa é a verdade atual.

Para o horizonte, o projeto quer perfurar essa possibilidade. O que impede que isso seja feito agora é a premência de ter uma equipe sempre presente para receber as doações e, mais importante ainda, para conversar com a família do doador.

“A gente quer atender essas famílias da melhor maneira provável”, diz Leite. “Precisamos ter uma equipe que seja capaz de atender o telefone, que seja capaz de chegar cá antes da família, para que possamos acolhê-la muito muito nesse momento. Portanto, precisamos ter uma logística muito boa. Envolveria uma equipe muito grande e, consequentemente, um investimento financeiro muito grande.”

E o Maguila?

Se não é provável fazer ativamente uma doação, uma vez que o Maguila conseguiu doar o cérebro dele?

O interesse do lendário pugilista peso-pesado brasílico no tema começou quando Hilderaldo Bellini, zagueiro e ex-capitão da Seleção Brasileira de futebol, doou seu cérebro para o biobanco da USP.

“Ele [Maguila] era muito antenado nas coisas. Eu me lembro uma vez que ele teve uma surpresa positiva quando o Bellini doou o cérebro dele”, diz Renato Anghinah, médico e professor em neurologia na USP. “Ele ficou muito impressionado pela magnanimidade da família. Foi a primeira vez que ele expressou que gostaria de doar o cérebro.”

Maguila procurou médico graças a outro ex-boxeador. Éder Jofre recebera diagnóstico de doença de Alzheimer e, segundo Anghinah, ao chegar às suas mãos estava em uma situação complicada. O médico da USP, porém, levantou outra hipótese para os sintomas: encéfalopatia traumática crônica, requisito causada por choques frequentes na cabeça.

A mudança de diagnóstico e de tratamento resultou em melhoras para Jofre, de entendimento com Anghinah. Começaram, portanto, a surgir pedidos para que o médico visse Maguila.

Nessa quadra, Maguila tinha, há mais de uma dez, o diagnóstico de Alzheimer e estava em uma situação delicada. “Já estava muito debilitado, com sonda no estômago. Não deglutia, estava sem gosto. Estava definhando”, lembra Anghinah.

O perito, portanto, posteriormente ser procurado pela família, passou a atender o peso-pesado e também concluiu que o quadro dele era de encéfalopatia traumática crônica. Com a mudança de diagnóstico e tratamento, o estado de saúde de Maguila melhorou.

Segund Anghinah, muro de 15 dias posteriormente a mudança de tratamento, Maguila já estava deglutindo. E, ainda de entendimento com o médico, se havia uma coisa de que o paciente gostava, era de manducar. O ex-boxeador teria dito que, logo que recebesse a liberação médica, iria manducar uma feijoada. E, assim o fez, logo que pôde.

Por término, a doação do cérebro de Maguila foi provável porque Anghinah tem pesquisas em curso sobre encéfalopatia traumática crônica junto ao biobanco. Foi dessa forma, também, que o cérebro de Jofre acabou no biobanco da USP.

O professor da USP conta ainda que Maguila se disse desenganado com a não doação do cérebro de Muhammad Ali, que foi diagnosticado com a doença de Parkinson.

Anghinah destaca que a encéfalopatia traumática crônica não ocorre somente em esportistas que sofrem com golpes na cabeça. Ele diz, por exemplo, atender até mesmo vítimas de violência doméstica que desenvolveram o problema.

O perito reforça que é importante não só doar órgãos para pesquisa, mas também para salvar pessoas que precisam de transplantes.

Outras pesquisas

Além da pesquisa sobre encéfalopatia traumática crônica, há diversos projetos de pesquisa associados ao biobanco de cérebros da USP, principalmente estudos relacionados ao envelhecimento.

Um dos projetos atualmente em curso olha para os cérebros de pessoas com mais de 90 anos que tinham cognição e nível de atividade bons. Outro, para os cérebros de pessoas de 18 a 65 anos, para tentar ver possíveis sinais de Alzheimer.

Personalidades esportivas que doaram o cérebro à USP

Adilson “Maguila” Rodrigues

Morte: 24 de outubro de 2024 (66 anos)

Profissão: Pugilista peso-pesado

Curso:

  • 77 vitórias (61 por nocaute)
  • 7 derrotas (7 por nocaute)
  • 1 empate

Hilderaldo Bellini

Morte: 20 de março de 2014 (83 anos)

Profissão: Jogador de futebol

Curso:

  • Capitão da seleção brasileira campeã mundial em 1958
  • Suplente da equipe que conquistou a Despensa de 1962
  • Ícone do Vasco da Gama
  • Tido uma vez que o primeiro a fazer o gesto de levantar a taça de vencedor da Despensa

Éder Jofre

Morte: 2 de outubro de 2022 (86 anos)

Profissão: Pugilista pesos galo e pena

Curso:

  • 72 vitórias (50 por nocaute)
  • 2 derrotas
  • 4 empates

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *