Eles já foram chamados de Suyá, Suiá, depois Kisedje. Mais recentemente adotaram Khisêtjê, que reflete com mais precisão uma vez que pronunciam o nome de seu povo. Eles moram no território do Xingu, em uma terreno indígena chamada Wawi, contígua ao parque original e que foi reconhecida pelo governo federalista em 1998, diante dos muitos sinais de antigas aldeias e roças que mostravam a ocupação tradicional da dimensão por eles.
Os Khisêtjê são o corpo e a psique do documentário “Sukande Kasáká/Terreno Doente”, que estreia no festival É Tudo Verdade nesta segunda-feira (7) em São Paulo, e na quarta-feira (9) no Rio de Janeiro.
Codirigido por um cineasta da etnia e por Fred Rahal, que se dedica a filmes sobre questões socioambientais, o filme mostra uma vez que a expansão das monoculturas transformou a paisagem e o clima da região, desmatando florestas e principalmente poluindo o lugar onde vivem os Khisêtjê com agrotóxicos usados na lavoura, que extravasam a dimensão das fazendas pelo ar e pelas chuvas.
Para retratar a mudança da paisagem regional, o filme usa intensivamente imagens captadas do ar com equipamento de tecnologia avançada. “Uso bastante o drone para fazer o monitoramento dos limites da terreno, incêndios, portanto tem sido muito importante para nós e está sendo muito útil cá na nossa comunidade”, diz o diretor Kamikiá Khisêtjê.
São produzidas com drone as impressionantes imagens que revelam por exemplo a grandiosidade de um incêndio usado para desmatar uma dimensão de terreno da rancho vizinha ao sítio onde vivem os indígenas. A imagem de um cogumelo atômico não é imprópria, tanta a virilidade que é deflagrada pelo queimada em uma quantidade de madeira em centenas de alqueires de floresta nativa.
O drone também permite ver uma vez que essa devastação rápida ocorreu a pouca intervalo da povoado onde viviam os indígenas, aumentando a mudança climática na região —sem as matas originais, que absorvem e retêm umidade, o Xingu vem ressecando e enfrentando incêndios.
Com a soja plantada a somente cinco quilômetros da rancho, os indígenas começam a sentir outros efeitos da cultura intensiva. Começa o estrondo dos aviões pulverizando agrotóxicos, e depois sentem o cheiro no ar. Mais tarde, quando vêm as chuvas, sentem o palato nas águas. Depois nos peixes.
Kamikiá conta que a obra nasceu para descrever o êxodo de seu povo do território original em procura de uma terreno protegida.
“A gente morava numa povoado a cinco quilômetros da rancho. Toda hora a gente escuta o estrondo de avião jogando veneno no plantio de soja. Logo, quando chove, a chuva carrega tudo esse veneno para povoado. Logo mudamos para a povoado onde estamos agora. É um filme que conta essa prenúncio. A gente labareda o inimigo de invisível, porque não o vemos, mas sentimos.”
Em texto publicado na Folha, o jornalista Rafael Cariello destacou o lançamento de obras literárias que “rompem com a longa tradição de histórias do Xingu protagonizadas pelo Brasil, não pelos povos da região”. Esse movimento foi precedido em vários anos pelo surgimento de uma geração de cineastas indígenas, dos quais Kamikiá Kisedje é dos mais conhecidos.
Não é coincidência, portanto, o roupa de que no curta de 30 minutos só se ouve a voz indígena e a língua Khisêtjê.
Enquanto captava as imagens da mudança da povoado e das alterações na paisagem e nos hábitos, Kamikiá filmou uma pulverização da soja com agrotóxico na rancho vizinha. “Quando a gente estava filmando, tomei o banho de veneno, estava filmando muito no limite e o avião passou em cima da gente. Os venenos caíram em cima da lente, e essa cena também está no filme.”
Terreno Doente representa também um esforço coletivo para preservar a identidade da cultura Khisêtjê enquanto faz uma leitura com seus olhos do movimento da sociedade envolvente chegando cada vez mais perto.
É logo que a leitura dos sintomas da degradação ambiental também é feita a partir de seus próprios recursos culturais. É logo que a redução das abelhas, borboletas e gafanhotos é percebida uma vez que segmento do “pacote” que chega com o inimigo invisível, mas que se pode detectar pelos sintomas.
O lançamento de “Sukande Kasáká/Terreno Doente” terá a presença de uma percentagem de representantes dos Khisêtjê, sob o comando do cacique Kokowiriti e do líder Winti, além do diretor Kamikiá, da narradora Lewayki e de Ntoni Suyá, dos quais quina dá origem à trilha sonora do filme.