Um dia depois de criminosos terem sequestrado nove ônibus para obstruir uma via e atrapalhar uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na zona oeste do Rio de Janeiro, mais dois ônibus das linhas 878 (Barra da Tijuca – Tanque) e 863 (Rio das Pedras – Barra da Tijuca) foram alvos desse mesmo delito no mesmo sítio, nesta quinta-feira (17). Já na zona setentrião da cidade, mais dois coletivos da risca 778 (Pavuna – Cascadura) foram capturados por bandidos nesta manhã e usados da mesma maneira em Costa Barros.
Segundo a assessoria de prensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar, policiais militares do 41ºBPM realizam operação no Multíplice da Pedreira, em Costa Barros, para coibir os roubos de veículos e fardo na região.
De combinação com informações preliminares dos policiais, criminosos atiraram contra as equipes na Comunidade da Quitanda. Um policial foi ferido no pescoço por estilhaço e outro varão também ferido foi socorrido por meios próprios. Já na Estrada de Botafogo e na Av. Pastor Martin Luther King, criminosos atearam queima em pneus e atravessaram um ônibus na pista para bloquear as vias. Policiais militares do 41ºBPM e do 2º Comando de Policiamento de Extensão (2ºCPA) atuaram no sítio e desobstruíram as vias.
A violência contra veículos do transporte público é classificada pelo Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro (Rio Ônibus) porquê recorrente. Em 12 meses, já chega a 136 o número de veículos que foram alvos desse tipo de ação.
O modus operandi nesses casos inclui excretar os passageiros, obrigar o motorista a manobrar os veículos e impactar milhares de usuários dessas linhas e outros cidadãos que precisam transitar por essas vias.
Em entrevista à Sucursal Brasil, o diretor de Informação e Relações Institucionais do Rio Ônibus, Paulo Valente, diz que ataques contra ônibus na cidade, que também são objectivo de vandalismo e até incendiados em casos mais extremos, causaram um prejuízo de tapume de R$ 75 milhões em 2 anos.
O valor poderia comprar 100 veículos zero quilômetros, segundo a Rio Ônibus, que poderiam ser incorporados às frotas, o que é sentido por usuários do transporte público do Rio de Janeiro diariamente.
Em reportagem publicada em agosto deste ano, a Sucursal Brasil já havia discutido porquê a prática de incendiar ônibus se tornou também uma forma de mostra de poder de grupos criminosos, que ameaço passageiros e motoristas dos ônibus.
Dados do Sindicato dos Rodoviários do Rio de Janeiro apontam que de 2022 a 2024, entre 200 e 250 motoristas abandonaram a profissão depois situações de crimes e agressões nos transportes coletivos, incluindo casos de incêndios. No último ano, foram em torno de 130 a 140 desligamentos.
O vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários, José Sacramento de Santana, lamentou à reportagem, na idade, a situação de risco e disse que o sindicato muitas vezes nem toma conhecimento dos casos. “O rostro abandona a profissão, se muda de estado, e não se comunica com o sindicato. Pedem deposição e vão embora sem exprimir zero, sem proferir um motivo”.
“Hoje, estamos entregues no Rio de Janeiro à milícia, a esse poder paralelo que domina a cidade. Faltam medidas de segurança não exclusivamente aos motoristas de ônibus, mas à população também”, reclama.
Em entrevista nesta quinta-feira à Sucursal Brasil, o porta-voz do Sindicato das Empresas de Ônibus, Paulo Valente, diz que já é difícil contratar profissionais para algumas linhas, e que afastamentos e problemas psicológicos são uma veras entre os motoristas.
Sucursal Brasil: Sequestros de ônibus costumam afetar de que forma os motoristas, que são obrigados a manobrar os veículos para os criminosos? Eles adoecem? Se afastam do trabalho?
Paulo Valente: Os motoristas de ônibus são, sim, muito impactados pela questão dos sequestros e pela questão do vandalismo, de modo universal, contra os ônibus. Muitos deles pedem para ser retirados daquelas linhas e transferidos para outras linhas em que a violência é menor ou não ocorre, e alguns pedem realmente por um problema de estresse, começam a apresentar problemas psicológicos, e acabam até sendo afastados. É uma minoria, mas isso efetivamente acontece. Apesar das empresas oferecerem todo tipo de suporte psicológico, de atendimento, de zelo com os motoristas, infelizmente temos esse problema.
Sucursal Brasil: É difícil contratar motoristas para algumas linhas de ônibus mais afetadas? E os passageiros também evitam andejar nessas linhas quando podem?
Paulo Valente: Sim, hoje há uma dificuldade para contratar motoristas para algumas empresas em que a maior segmento das linhas opera nessas regiões mais afetadas pela violência. Os passageiros, de uma certa forma, não têm porquê evitar, porque eles moram na localidade e só têm uma ou duas linhas, às vezes, para atender, eles são vítimas dessa violência, e eles têm que fazer a viagem. Eles não têm outra forma a não ser andejar de ônibus, mas muitos deixam de fazer viagens, deixam de trespassar de vivenda, realmente com pânico da violência. Essa violência cerceia o recta de ir e vir da população carioca. Essa é a verdade.
Sucursal Brasil: Os prejuízos causados com os ônibus queimados são só a ponta do iceberg? De que outras formas o delito organizado impacta o balanço financeiro das empresas de ônibus?
Paulo Valente: Os prejuízos causados com ônibus incendiados e vandalizados nos últimos 12 meses somam praticamente R$ 75 milhões, que é um valor que daria para a gente comprar quase 100 ônibus zero quilômetro. Realmente motivo um grande impacto, que acaba de uma forma ou de outra sendo repassado para os custos operacionais que vão redundar no dispêndio da tarifa. Logo, esse prejuízo infelizmente afeta as empresas no primeiro momento, mas afeta todos os clientes, todos os usuários, num segundo momento. Só que o maior prejuízo não é só o do ônibus incendiado, é o prejuízo causado para a mobilidade urbana da cidade, causada para a economia da cidade, porque a nossa economia funciona movida a ônibus, as pessoas que trabalham, as pessoas que estudam, as pessoas que se dirigem ao transacção, que vão ao médico, os prestadores de serviço, uma boa parcela da nossa população utiliza o ônibus para os seus deslocamentos, para as suas atividades. Logo acaba impactando as empresas, impactando toda a população, a economia, a imagem do estado [do Rio de Janeiro].
Sucursal Brasil: Hoje, há empresas de ônibus que vão à falência ou estão a caminho disso, principalmente por motivo da falta de segurança pública?
Paulo Valente: Essa questão das empresas que encerram suas atividades é muito complexa. Eu não poderia proferir que é a violência que está fazendo com que as empresas encerrem as atividades. Na verdade, o nosso sistema atravessa uma crise muito grande desde 2016, que foi extremamente agravada com a pandemia. E nós temos questões de segurança que envolvem vandalismo, sequestro de ônibus, a questão do transporte furtivo em determinadas regiões da cidade. Logo, é um conjunto de coisas. Tem a falta de revisão do contrato, do seu estabilidade econômico e financeiro, que foi amenizada, de certa forma, com um combinação firmado com a prefeitura e o Ministério Público para pagamento de subvenção. Mas essa é uma questão bastante complexa, e o fechamento da atividade de empresas não pode ser imputado à questão da violência. Digamos que é mais um item dentro de um rol de fatores que leva ao fechamento das atividades de uma empresa de ônibus.