Prêmio Da Música Brasileira Tem Roteiro ágil E Temático

Prêmio da Música Brasileira tem roteiro ágil e temático – 13/06/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O 31º Prêmio da Música Brasileira, que aconteceu na noite desta quarta-feira (12), no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, decorreu sem grandes surpresas. No ano em que homenageou Tim Maia, a premiação foi também uma celebração da “música preta brasileira”, porquê anunciou Regina Casé logo no início da cerimônia.

A escolha de Casé, inclusive, mostrou-se –na maior segmento do tempo– acertada para a estratégia de trazer dinâmica ao prêmio. Esses eventos, sobretudo os que seguem à risca o protótipo americano de Oscars, Grammys, Emmys e afins, costumam visar para o maçudo.

Categorias infinitas, apresentadores sem perdão e um entra e sai de gente no palco são os ingredientes que infestam essas cerimônias –e o PMB buscou se alongar disso. Casé emprestou leveza e fluidez ao roteiro, intercalando as performances e as premiações com falas em que contava a história de Tim Maia com a informalidade e o bom humor que lhe são característicos, porquê se conversasse com o público, que respondia prontamente aos seus comandos (ela até pediu que aplaudissem com mais veemência durante o pregão dos indicados aos prêmios).

O resultado foi um formato que ficou mais próximo de um programa de auditório do que de uma premiação generalidade. Para o muito e para o mal.

O roteiro privilegiou a destreza. As categorias eram temáticas (porquê “Samba”, “Pop/Rock”, “MPB”) e anunciadas de uma vez com suas subcategorias (“Tradutor”, “Lançamento” e “Grupo”). Casé anunciava os indicados e logo em seguida os vencedores, que subiam juntos ao palco para receber o prêmio –sem recta a discursos de agradecimentos.

A dinâmica impediu que a premiação se tornasse maçante, mas a destreza excessiva por vezes resultou fria ou confusa. Os artistas premiados não tinham tempo de comemorar a vitória e eram obrigados a trespassar às pressas do palco.

Zé Renato, que venceu na categoria “Grupo de MPB” com o Boca Livre, quebrou o protocolo e, antes de trespassar de cena, pediu a termo somente para destinar o prêmio ao músico Zé Nogueira, morto em abril deste ano.

Depois de premiar os artistas que venceram na categoria “Regional”, Casé deu sequência ao roteiro de forma tão abrupta que os vencedores permaneceram parados no meio do palco, sem saber o que fazer. A apresentadora pediu gentilmente que saíssem e depois emendou: “É que eles pedem para eu dar ritmo. Aí dou um ritmo frenético”. Foi justamente esse o único perversão de sua apresentação: a destreza por vezes descambou para uma velocidade “frenética” que descompassou a ritmo da premiação.

Os grandes vencedores da noite não simbolizaram exatamente uma surpresa. O prêmio privilegiou os artistas já consagrados e de mais visibilidade em cada categoria.

Assim, Xande de Pilares foi o destaque da categoria “Samba” ao levar dois prêmios por seu álbum “Xande Canta Caetano” (2023); Ana Castela, a novidade it girl do agro-pop, varreu as categorias de “Sertanejo”; Marisa Monte e Boca Livre figuraram entre os vencedores de “MPB” e Anitta foi premiada por “Lançamento em Língua Estrangeira” pelo EP “Favela Love Story” (2023).

As surpresas –justas ficaram por conta de Ana Frango Elétrico, que levou o prêmio de “Lançamento de MPB” pelo seu álbum “Me Labareda de Gato Que Eu Sou Sua” (2023) e Urias, que ganhou na categoria “Eletrônico” com o projeto “Her Mind” (2023).

O ponto mais ordinário foram as categorias das premiações. Parece que falta coesão para definir de forma mais clara onde os artistas podem se encaixar. O que explica, por exemplo, que Wanderléa figure na categoria “MPB” e Marisa Monte em “Pop/Rock”? Não poderia ser o contrário? E o que é, por fim, “Música Popular” (o grupo vencedor dessa categoria foi “É o Tchan!”). “Pop/Rock”, “Samba” e “MPB” não são, também, canções populares?

Mais grave é a inadequação da categoria “Regional”, que premiou, por exemplo, Alceu Valença e Lia de Itamaracá. O que faz com que esses artistas sejam considerados “regionais”? O traje de não serem do Rio de Janeiro? Trata-se de uma discussão já muito difundida e faria muito ao prêmio uma reformulação nesse sentido.

O grande destaque da noite, mas, foram as performances, que homenagearam Tim Maia. É nelas que reside o que parece ser a grande marca do Prêmio da Música Brasileira. As apresentações seguiram a lógica dos “encontros”, em subida atualmente nos festivais de música, em que artistas diferentes se unem ao palco para apresentações inusitadas que prometem ser catárticas. Isso funcionou em muitos momentos. Carlinhos Brown e Larissa Luz demonstraram entrosamento totalidade no palco ao homenagear a tempo disco music de Tim Maia com uma performance que animou o público. Iza, Melly e Rachel Reis saudaram a tempo “Racional” de Tim e também causaram impacto.

Das duplas, Ney Matogrosso e Simone foram os vencedores no quesito “maior química”. Os dois dividiram um medley de “Azul da Cor do Mar” e “Primavera” que se consagrou porquê uma das melhores performances da noite. Silva e Zélia Duncan uniram-se a Jaques Morelenbaum (homenageado com um troféu peculiar da UBC) para trovar “Um Dia de Domingo”. Os dois refizeram o famoso dueto de Tim e Gal Costa também brincando com a diferença de graves e agudos. Mas se a versão original era um pop contagiante e meloso, nas mãos do trio virou música de concerto, à base de piano (tocado por Silva) e cello (tocado por Morelenbaum) –e funcionou. Foi uma grata surpresa.

Nas premiações americanas, os destaques da noite são, invariavelmente, a novidade geração da música. No Brasil, parece ser o contrário. Essas premiações costumam se transformar em celebrações de artistas lendários e pioneiros. No Prêmio da Música Brasileira não foi dissemelhante. Prova disso é que um dos momentos mais impactantes da noite foi a presença de Tony Tornado, aos 94 anos.

Ele se juntou ao final da performance de Negra Li, Sandra de Sá e Sued Nunes para comemorar os bailes black dos anos 1980 com um medley de “Vale Tudo”, “Você e Eu” e “Sossego”. Foi ovacionado pela plateia e saudado por Regina Casé porquê “um dos maiores ícones da música preta no Brasil”. De improviso, cantou uma versão piano e voz de “BR-3”, seu maior sucesso. Antes de deixar o palco, bradou: “A luta continua viva e a vitória é certa. Tim vive!”.

Entre erros e acertos, o 31º Prêmio da Música Brasileira firmou-se mais uma vez porquê plataforma importante de divulgação da música pátrio. Apesar de algumas reformulações necessárias, cumpre um importante papel para o cenário atual da música brasileira sem parecer uma “sarau da firma”, porquê é a maioria das premiações do gênero.

Folha

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