Primavera Sound: Marisa Monte Toca Rita Lee Com Viúvo

Primavera Sound: Marisa Monte toca Rita Lee com viúvo – 02/12/2023 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O sol estava quente quando começou a segunda edição do festival Primavera Sound, original de Barcelona, no Brasil. O evento, que estreou no país no ano passado, acontece neste fim de semana em São Paulo, e tem The Killers e The Cure como atrações principais.

No meio da tarde deste sábado (2), a movimentação era tranquila no Autódromo de Interlagos, ocupado pelo festival, e em seu entorno. Não havia grandes filas nem aglomerações, e o público caminhava com facilidade pelas estruturas do Primavera.

Tendo em vista o sol forte e o calor intenso, com temperaturas acima dos 30°C, a organização distribuiu água e copos ao público na entrada do festival, além de criar pontos onde é possível se hidratar. O Primavera é realizado pela Time for Fun, ou T4F, mesma empresa que trouxe a turnê recente de Taylor Swift ao Brasil.

Há duas semanas, em um dos shows da cantora no Rio de Janeiro, a fã Ana Clara Benevides morreu e mais de mil pessoas desmaiaram. Na ocasião, com sensação térmica acima de 60°C no estádio Nilton Santos, a empresa foi criticada por não oferecer água ao público.

Mas, no Primavera, a oferta de espaço facilita a vida dos organizadores. Mesmo ocupando só uma parte do Autódromo –diferente de Lollapalooza e The Town, festivais que também acontecem no local–, o evento até a tarde de sábado não contou com grandes aglomerações perto dos palcos.

Os três palcos principais, aliás, foram posicionados como pontas de um triângulo. A proximidade entre eles evita grandes caminhadas pelo Autódromo, e a experiência num geral acaba sendo mais confortável para o público.

Depois da banda de rock inglesa Black Midi e dos canadenses do Metric, com um indie rock, entre outras atrações, o grupo sueco The Hives fez o público reunido sob o céu sem nuvens do Autódromo pular o tempo todo e bater palminhas com uma sequência enérgica de faixas.

“Vocês estão prontos para mudar completamente o gosto musical de vocês na direção do The Hives?”, perguntou o vocalista Pelle Almqvist pouco depois de subir ao palco principal do Primavera, o Corona.

Vestidos com ternos pretos —que não tiraram em nenhum momento, apesar do suor— o grupo voltou ao Brasil após dez anos para mais uma apresentação que ganha brilho extra por causa da presença de palco de seu carismático vocalista.

Almqvist fez muito mais gracinhas que a média dos artistas de rock que passam por aqui. Se enfiou no meio do público logo no começo da apresentação, pegou o celular de alguém da plateia e entregou para um desconhecido ao lado, abriu a camisa para jogar suor no público e soltou várias pérolas em português como “100% rock, 100% samba”.

Checou várias vezes ao longo do show, em português mesmo, se os Hives já eram a banda preferida das pessoas ali.

Os grandes hits do grupo formado quando os membros ainda eram adolescentes na década de 1990 continuam os mesmos da época em que tocaram aqui da última vez, no Lollapalooza de 2013.

“Hate To Say I Told You So” e “Tick Tick Boom” ficaram para a metade e fim do finalzinho do show, respectivamente, quando Almqvist fez o público inteiro se sentar dizendo que seria a última vez que o público poderia descansar as pernas —para então fazê-lo pular de novo.

O bom humor do Hives continuou no palco Barcelona logo depois, onde as brasileiras do Cansei de Ser Sexy fizeram um show especial para tocar seus hits de indie pop e rock que extrapolaram os limites do Brasil e as levaram para festivais e casas de show mundo afora nos anos 2000, tornando o grupo um dos exemplares nacionais com maior projeção no mercado internacional daquela época.

Este foi o segundo reencontro do grupo, que já havia feito um show nostálgico na edição de 2019 do Popload Festival, também em São Paulo. Agora, a ocasião celebra os 20 anos de sua criação, e mostrou novamente o bom recorte que o CSS faz de uma juventude brasileira forjada junto com a internet e uma vontade de fazer uma música diferente do que se via por aqui na época.

“Vocês não sabem o que a gente passou para estar aqui hoje e nós também não sabemos o que você passaram para estar aqui”, disse Lovefoxxx para uma plateia animada que acompanhou as letras debochadas em inglês e português da banda, que tocou com sua formação feminina original, com Luisa Sá, Ana Rezende e Carolina Parra. A única adição foi a de Chuck Hipolitho, companheiro de Lovefoxxx na banda Tum e seu namorado.

A artista mostrou que os anos longe da banda não mudaram sua postura como uma ótima frontwoman e fez piadas, sambou, se jogou no chão e leu uma carta emocionada.

Além do tom engraçadinho, CSS também leva ao palco um forte apelo visual, que preencheu o telão com referências a memes, à cultura pop e imagens da deputada federal Erika Hilton enquanto tocava hits como “Music Is My Hot Hot Sex”, “Hits Me Like A Rock” e “Alala”.

“Obrigada por serem pessoas delicadas, esquisitas. Eu preciso de vocês convivendo nesse planeta comigo agora”, disse, depois de perguntar quem na plateia tinha uma história que começou na rodoviária do Tietê e quem chegou a São Paulo em um ônibus da viação Cometa com uma mochila e um sonho.

O Slowdive fez um show bastante diferente no palco São Paulo, o menor dos três principais do Primavera. Isso porque Rachel Goswell, vocalista da banda, não pôde cantar.

Antes do grupo inglês subir ao palco, uma voz nos alto-falantes informou que ela não cantaria porque está doente, com um problema na garganta. Goswell já não havia cantado na última quinta (30), em show no Cine Joia, parte da programação paralela do festival.

Coube a Neil Halstead a função de assumir os vocais. Se foi uma decepção não ouvir a voz onírica da cantora principal do Slowdive, foi também uma chance única de ouvir o repertório do grupo no canto grave do guitarrista.

Goswell esteve no palco, tocou guitarra e teclado, mas não encostou no microfone. Halstead afirmou que o dia estava lindo em São Paulo, e pediu desculpas por não ter sua vocalista em condições de cantar.

Após uma tarde quente no sábado, o Slowdive tocou depois das 17h, quando o sol deu uma trégua. Combinou com a estética fria e reflexiva da banda, uma das mais importantes do shoegaze, gênero inglês que marcou os anos 1990.

O som estava alto e era fácil chegar perto do palco, sem grandes apertos na plateia. As guitarras saturadas e ruidosas, característica do Slowdive, estavam no talo, o que contribuiu bastante para a estética viajada da banda.

Eles passearam pela discografia clássica, dos anos 1990, e pelo álbum que marcou o retorno do grupo, “Slowdive”, de 2017. Também tocaram “Kisses”, faixa lançada no álbum “Everything is Alive”, deste ano.

A música precedeu a sequência mais celebrada pelo público, com “Alisson” e “When the Sun Hits”, músicas do disco mais importante do Slowdive, “Souvlaki”, de 1994. Não gerou grande euforia na plateia, até porque a pegada da banda já é naturalmente tranquila, mas foi o ápice da apresentação de cerca de uma hora.

Marisa Monte, a principal atração nacional do Primavera, se apresentou no começo da noite de sábado. A plateia para vê-la no palco Corona, o maior do festival, foi a maior do dia até então, com dezenas de milhares de pessoas.

A cantora fez um show pouco comum para ela, acostumada a se apresentar em casas como atração única, e não em festivais. Mas mostrou a força de seu repertório, que teve várias músicas na boca do povo.

A plateia cantou junto na sequência “Vilarejo”, “Infinito Particular” e “Ainda Bem”, e levantou os braços nesta última. Ela emendou “Beija Eu” e seguiu com “Ainda Lembro”, canção de “Mais”, marcante segundo disco da artista, de 1991, que foi muito celebrada.

Marisa usou um vestido e uma espécie de coroa prateados, e pouco falou com a plateia. Apesar de bem equalizado, o som de seu show esteve um tanto baixo em termos de volume, especialmente para quem estava mais longe do palco.

O repertório seguiu com “A Sua” e “Eu Sei (Na Mira)”, todas cantadas a plenos pulmões pelo público. O show ainda contou com “Feliz, Alegre e Forte” e “Elegante Portela”, ambas do álbum “Portas”, de 2021, tema de sua atual turnê.

A apresentação foi uma prova de que o show de Marisa funciona num ambiente de festival. Além de ter um repertório vastamente conhecido pelo público, ela conquistou a plateia com seus vocais simples, mas precisos e encantadores, e uma banda numerosa e diversa, com Pupillo, do Nação Zumbi, na bateria, e Pretinho da Serrinha na percussão.

Ainda houve tempo para o hit “Amor I Love You”, cantada até pelos funcionários do Primavera, e um momento especial. Marisa chamou Roberto de Carvalho, guitarrista e viúvo de Rita Lee, ao palco.

Juntos, os dois homenagearam a cantora, morta neste ano, tocando “Doce Vampiro” e “Mania de Você” ambas lançadas por Rita nos anos 1970. Carvalho tocou guitarra para que Marisa cantasse os clássicos do pop rock brasileiro, enquanto a plateia delirava.

Carvalho ainda tocou com a banda de Marisa a música “Já Sei Namorar”, hit dos Tribalistas nos anos 2000. A música encerrou o show quase às 19h50.

Folha

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