Uma versão do Palácio Itamaraty nos periferia de Milão. Um prelúdio do Ciep (Meio Integrado de Ensino Pública) perto de Turim. Uma referência ao “museu do olho” na Costa Amalfitana. Uma astronave de concreto, que, desde o ano pretérito, hospeda uma fábrica de satélites.
A relação do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) com a Itália começou no término dos anos 1960 e resultou em quatro obras construídas no país, ao longo de mais de 40 anos. Em três delas, é verosímil identificar elementos presentes em projetos do modernista no Brasil.
Pouco conhecidos são os outros nove desenhos feitos por Niemeyer que não saíram do papel, porquê um teatro, um estádio, um núcleo empresarial e uma teoria de ponte coberta sobre o Grande Via de Veneza.
Com fotos e desenhos, o conjunto dos 13 projetos de Niemeyer para a Itália será exibido, pela primeira vez, na exposição “Modernismo Audacioso”, apresentada pela galeria Etel na Semana de Design de Milão, entre 8 e 13 de abril.
O material é resultado de uma pesquisa iniciada há quatro anos pelo arquiteto e jornalista Francesco Perrotta-Bosch. Durante uma temporada de estudos em Veneza, ele descobriu desenhos do Niemeyer que tinham sido guardados por colaboradores italianos do brasiliano. A partir disso, fez uma procura nos arquivos da Instauração Oscar Niemeyer, no Rio, onde localizou registros desses projetos e outras surpresas.
Foram encontrados desenhos considerados raros para o público, porquê para o World Trade Center de Milão, detalhado em 1974 em um caderno de 30 páginas, o núcleo de desenvolvimento automotivo da Idea (1991) e um estádio (1986), ambos em Turim. Tem ainda um multíplice multifuncional em Levante (1988), na província de Pádua, e uma proposta de incluso para a sede da Mondadori (1988), perto de Milão.
“De alguns projetos não conhecemos publicações em revistas ou livros. Até aparecem citados com uma traço em listas de obras do Niemeyer, mas sem informações”, diz Perrotta-Bosch, curador da exposição. Estima-se que o arquiteto tenha produzido muro de 500 projetos, entre executados e não executados.
“A teoria é mostrar essa cartografia nunca feita na Itália de forma completa e aprofundada”, afirma Lissa Carmona, curadora da coleção Etel de mobiliário e fundadora da Lar Zalszupin, em São Paulo. A mostra acontece na galeria que a marca mantém em Milão. “Certamente haverá desdobramentos futuros, porquê uma exposição maior e a publicação de um livro.”
Primeira da lista a ser realizada, a sede do grupo editorial Mondadori, inaugurada em 1975 na superfície metropolitana de Milão, foi encomendada pelo logo presidente da companhia, Giorgio Mondadori, para reproduzir os arcos do Itamaraty. Niemeyer se ateve ao libido do cliente, mas a versão final recebeu espaçamento variado entre as colunas, dissemelhante da equidistância do original em Brasília.
“A Mondadori colocou desafios estruturais até maiores do que o Itamaraty, que tem o conjunto vestido pelo vidro assente ao solo. Na Mondadori, esse conjunto é inteiro suspenso pela cobertura”, diz Perrotta-Bosch. Na exposição, serão exibidos o primeiro projeto apresentado, com uma vegetal curvilínea, estilo Copan, que acabou preterido, e um incluso nunca executado.
A repercussão internacional da obra foi imediata e ainda hoje é o projeto mais sabido de Niemeyer na Itália –controlada pelos filhos do ex-premiê Silvio Berlusconi, morto em 2023, a empresa continua a ocupar o prédio icônico do brasiliano. “É a obra que eu tenho na Europa de que eu paladar mais”, disse o arquiteto em 2007.
O Palazzo Mondadori atraiu a atenção de outras duas empresas italianas, que buscaram o modernista para fabricar edifícios que fossem também inovadores. Para a Fata, indústria de maquinário automotivo na superfície de Turim, saiu um prédio em 1981 que mantém a lógica dos arcos, mas com menos colunas. Um projeto que antecipa, em termos estruturais, aquele do Ciep, inaugurado logo depois no Rio.
A fábrica de papel Cartiere Burgo foi outra que pediu uma sede ao arquiteto, também perto de Turim. O resultado é uma vegetal rodear que tem ao núcleo uma estrutura com arcos que lembra uma nave espacial. Concluído em 1981, o prédio é, desde 2024, propriedade da Argotec, que fabrica satélites.
Último da lista a ser realizado, o auditório de Ravello, na Costa Amalfitana, foi entregue à prefeitura em 2010, com uma forma arredondada que pode ser associada ao “olho” do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, finalizado em 2002. “Com as centenas de projetos que desenvolve, ele acaba criando um léxico de formas que aplica e transforma ligeiramente em diferentes projetos”, diz Perrotta-Bosch.
Um dos momentos mais sublimes da relação com a Itália são os desenhos de uma sugestão para a ponte dell’Accademia, que atravessa o meio Grande, em Veneza. Em 1985, o brasiliano propõe uma passarela coberta. “Branca, ligeiro e graciosa porquê o concreto permite. Coberta, convidando os visitantes a parar um pouco e, sobre o meio, sentirem melhor porquê é bela essa cidade”, escreveu Niemeyer junto ao figura.
Segundo o curador, a teoria foi uma resposta ao invitação do historiador Lionello Puppi, organizador de uma mostra para debater possibilidades para a ponte que já estava em reconstrução. O pedido a Niemeyer foi feito sem que houvesse expectativa de realização.
Completam o elenco de 13 projetos dois centros para eventos não construídos, encomendados por administrações municipais. Em Pádua, o Palazzo Congressi foi desenhado em 1988 porquê uma sala coberta, sobre a qual é disposto um anfiteatro a firmamento crédulo. Em Vicenza, foi apresentado em 1978 um teatro em meio a uma rossio rebaixada.
Além das reproduções de desenhos mantidos pela instauração, alguns inéditos, a exposição será composta por fotografias de obras construídas na Itália, de Luisa Porta. E por móveis criados pelo arquiteto, integrante da coleção Etel, que fabrica com exclusividade peças porquê a cadeira de balanço Rio e prepara o lançamento da reedição da chaise Praiana. “Você olha um traste de perfil e olha o figura na parede e é o mesmo traço, a mesma forma de pensar”, diz Lissa Carmona.