Prometo A Mim Mesma Voltar Em Breve A Lisboa

Prometo a mim mesma voltar em breve a Lisboa – 20/06/2024 – Djamila Ribeiro

Celebridades Cultura

Em Lisboa ainda é primavera. Faz calor, mas não tanto, e a brisa fresca veio da costa divertir-se conosco numa mesa farta de peixes e vinho virente.

Fui a trabalho lançar a edição do país de meu livro “Cartas para minha Avó” e tive lindos encontros.

Zeferino Coelho, o editor, uma vez que diz Kalaf Epalanga, que me apresentou a ele, é o sujeito mais jovem entre nós, apesar de quase octogenário. A animação com a qual organiza o evento junto com sua equipe da Editorial Caminho motiva a vinda para muitas outras vezes.

Há dias especiais nas nossas vidas e esses cinco dias ficarão na memória. As trocas com intelectuais uma vez que José Mário Silva, Gisela Casimiro e Isabel Zuaa, a robustez eletrizante de Zeferino Coelho depois os eventos e os jantares junto de sua esposa e notável escritora portuguesa, Ana Maria Magalhães, seguem em meus pensamentos. Ficam essas e outras lembranças, uma vez que o encontro delicioso entre colegas brasileiros e brasileiras de escrita que foram reunidos por Maria José Amorim, da revista Linguará.

Meus pensamentos viajam pelo gelato no término de tarde e a magnífico comida sarraceno preparada por brasileiros no restaurante ao lado da livraria Travessa, em Lisboa. Sorrio ao me lembrar dos momentos de carinho que senti ao receber pão de queijo de Matuta, quitandeira mineira que está abrindo seu negócio, ou ainda quando abracei Luzia Moniz, referência mais velha de Angola, que me deu a sua bênção.

Zeferino Coelho é uma figura histórica da cena editorial portugues e se notabiliza por ter sido o responsável por editar as obras de José Saramago por mais de 30 anos, uma vez que também obras de tantos outros autores e autoras que marcaram as últimas décadas. Todavia, o Nobel português é peculiar e tema de conversas no almoço e jantar com diversas pessoas que encontrei.

Fui cultivada por essa troca. E o vértice da inspiração foi a visitante guiada por Pílar Del Río pela belíssima Instauração Saramago, no prédio histórico às margens do Tejo, numa manhã ensolarada de 14 de junho. A anfitriã que foi a grande companheira da vida do noticiarista caminhou comigo pelas letras que falam de esperança e insubmissão. Pilar é uma querida amiga e resplandecente pensadora, com quem posso conversar e me refrescar.

Não à toa, José era um varão enamorado. Durante a visitante, deparamo-nos com o seu quotidiano e ali estava anotado, em um 14 de junho: Pilar del Río. Coincidentemente aquela era a data em que se conheceram e é, inclusive, o título de seu poema devotado à namorada.

Também ficava pensando que estava na cidade durante a semana em que se festejam os santos, com grandes carnavais na avenida do hotel onde me hospedei. Estava no lugar visível, na hora certa e Lisboa não parava de me expressar aquilo. Um dia antes, postei na rede social o que era para ser uma galhofa, uma foto de turista sentada ao lado da estátua de Fernando Pessoa e bingo: 13 de junho era o dia de seu promanação.

E o que era para ser uma bobagem despretensiosa ganhou ares de homenagem. Fui cumprimentada por saudar o resplandecente noticiarista em uma estação de tanta futilidade online.

Quem sabe esse inextricável de encontros e coincidências me tocou em peculiar, ou o que me sensibilizou foram as forças magnéticas daquele velho mago ímpio e sua namorada e minha amiga. Mas quando passei por uma das paredes, parei para ler as palavras do responsável que estavam cravadas:

“A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em memorial, em narrativa. (…) O término duma viagem é somente o prelúdios doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara virente, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que cá não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso reencetar a viagem. Sempre. O viajante volta já”.

Prometo a mim mesma voltar em breve a Lisboa. Dessa vez, vou querer ver as dicas de Gisela Casimiro sobre a cultura diaspórica, quero passear de novo pelas barracas de comida da Torre de Belém e, quem sabe, dou a sorte de encontrar novamente uma artista de rua tão sensacional quanto a que encontrei.

Quero subir o país, passar pelo Porto e chegar a Bragança. Festejar a comunidade brasileira em Braga e descer até o Algarve.

E, quando essa viagem terminar, se é que alguma viagem termina, a viajante recomeça e volta já.

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Folha

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