Quando Banksy Pintou O Mural Ao Lado Da Minha Casa

Quando Banksy pintou o mural ao lado da minha casa – 25/03/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Nunca tinha visto tanta gente sorridente em Londres. Banksy, o incógnito mais famoso do mundo, decidiu que a parede do prédio onde moro era o cenário perfeito para o seu mais recente mural, uma obra que pode valer milhões de dólares.

Desde que a pintura apareceu no domingo, 17, as pessoas se aglomeraram em volta da minha janela sorrindo e olhando para mim com rosto de: “Posso entrar no jardim e tirar uma foto?”

Presumo logo que o Banksy é meu, e digo a elas que sim, tirem todas as fotos que quiserem.

Avezado a vê-los bastante sérios no metrô, evitando contato visual no elevador ou com a cabeça coberta nos dias de chuva, de repente estou cingido por um quadrilha de desconhecidos me bombardeando com perguntas.

“Você viu o Banksy? Qual é a sensação de ter seu próprio Banksy? O que a obra significa? Te incomoda o trajo de estarmos cá? Vão aumentar o preço do seu aluguel?”

Alguns são mais ousados e vão direto ao ponto: “Você é Banksy?”. Não digo que sim, mas tampouco digo que não.

Outros, em um gesto que é um misto de pudor e amabilidade, dão moeda aos filhos pequenos, que vêm correndo até minha janela para me oferecer uma gratificação por proporcionar a eles uma bela recordação.

Nesse momento, penso em quanto eu pago de aluguel, e que o valor pode disparar com esta obra do Banksy. Mas, depois de um breve momento, me encho de distinção e digo a eles que não, obrigada, é melhor usarem o moeda para comprar doces no mercado ao lado.

Alguém, claramente com um faro melhor para os negócios do que eu, sugeriu que eu colocasse o apartamento no AirBnB: “Lindo apartamento decorado com um Banksy original”, uma espécie de BanksyBnB.

Uma cerejeira que dá maçãs

Não, eu não vi o Banksy. Nem sequer estava em lar quando ele pintou o mural.

Tudo indica que aconteceu na madrugada de domingo, logo meu consolo é que, mesmo que eu estivesse lá, provavelmente foi tudo tão rápido que eu nem teria notado.

Cheguei depois de meio-dia, e já tinha gente tirando foto, fazendo vídeo e, simples, especulando sobre a obra.

Vários notaram que o mural coincidiu com o Dia de São Patrício, ou St. Patrick’s Day, 17 de março, uma celebração em que a cor verdejante prevalece.

Aliás, ele escolheu a mesma cor verdejante usada nas placas das moradias sociais em Islington, o bairro no setentrião de Londres onde está o mural.

Na segunda-feira, o artista publicou algumas fotos em seu Instagram confirmando que ele é o responsável da obra —mas fora isso, o resto são somente teorias e especulações.

Parece que Banksy, seja lá o que isso signifique, usou um extintor de incêndio para disparar a tinta na parede rachada.

A árvore verdadeira é uma cerejeira e está bastante doente, parece morta, por isso há quem diga que Banksy reviveu a ramaria com a pintura.

E a moça, ou menino, segurando uma mangueira semelhante às usadas para fumigação. Seria uma mensagem sobre a natureza?

A obra segue viva, algumas pessoas chegam com maçãs, e colocam ao volta do tronco, uma vez que se tivessem derribado dos galhos. Foi logo que Banksy criou a única cerejeira que dá maçãs.

Se juntarmos as pistas sobre a obra e as formas uma vez que as pessoas interagem com ela, as interpretações são infinitas, uma vez que acontece com todas as intervenções do artista.

Quando acordei na quarta-feira, 20, vi que alguém tinha jogado tinta branca no mural. Seria vandalismo?

15 minutos de glória

Agora minha lar é uma atração turística. Enquanto escrevo levante item, faço algumas pausas, e as pessoas me passam seus celulares para que eu tire fotos delas.

Em menos de uma hora, dei entrevistas para a prelo sítio, japonesa, alemã e para estudantes que em breve serão colegas de profissão.

Um garoto australiano me deu de presente uma foto instantânea, mandei um “oi” para os seguidores de uma mexicana que estava transmitindo ao vivo no TikTok, e uma colombiana, uma vez que eu, me disse que, se estivesse no meu lugar, já estaria vendendo arepas e cerveja.

Uma norueguesa, que ficaria somente 8 horas em Londres, decidiu que sua prioridade era vir ver o mural.

Isso é arte

Sou de Cartagena, no Caribe colombiano. Lá, por pretexto do calor, é normal deixarmos as janelas sempre abertas e levarmos cadeiras de balanço até à porta da rua “para recolher ar fresco” e conversar com as pessoas que passam.

Cá em Londres, isso não acontece, logo estou me sentindo à vontade nesses dias.

Ontem, depois de seis meses morando neste apartamento, graças ao mural conversei pela primeira vez com meu vizinho, um somali que agora está preocupado com sua privacidade diante de tanta gente ao volta.

E assim tenho pretérito os dias, conhecendo pessoas de vários países, recebendo felicitações uma vez que se tivesse qualquer valor nisso tudo, acenando uma vez que uma miss e explicando minha opinião sobre o mural: “Não sou profissional, mas acredito que…”.

Estou feliz, não sei se ainda estarei feliz no termo de semana, quando uma horda de turistas sentenciar que depois de ver o Big Ben e o Palácio de Buckingham, a próxima paragem será meu apartamento.

Leste mural surgiu logo no termo do inverno, quando a cidade começa a se encher de cor, e o humor de todo mundo melhora.

Portanto, para mim, levante foi o melhor prelúdios de primavera. Graças a um gênio esfíngico, a uma árvore moribunda e uma parede em ruínas, me cerquei de gente bacana, e senti que mesmo sendo imigrante, faço realmente secção desta comunidade.

Isso é arte, eu suponho.

Folha

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