A mitologia iorubá fala sobre um orixá que vivia sem caminho neste mundo, colecionando dores e inimizades.
Oxaguiã nasceu sem mãe nem pai, fez-se sozinho e arrumava confusão com quem aparecesse à sua frente. Ele era rebelde e ideólogo, mas mais divulgado por sua cabeça quente e pavio pequeno. Vivia cada dia uma vez que se fosse o último, sem rumo. Se fosse para morrer, que assim fosse, mas desde que numa combate.
De tanto pleitear, certa vez esse guerreiro encontrou Iku, a morte. Iku ofereceu-lhe uma cabeça fria, o que aceitou de pronto, pois estava sofrendo com a cabeça esquentada. Mas aquela novidade cabeça o afetou de uma outra forma, e ele passou a ser fechado, resignado, tristonho. Se, antes, seu termo trágico poderia ser em uma combate, com essa novidade cabeça a morte passou a rondá-lo.
Talvez, caso aquele guerreiro perdesse uma de suas brigas e morresse, ou mesmo desistisse de viver, não estaríamos cá falando sobre ele. Mas, na encruzilhada em procura de seu propósito, ele encontrou Ogum, o grande general ferreiro, que lhe muniu com uma punhal que espantou Iku.
Ogum, portanto, tentou consertar aquela cabeça fria, apertando-a de tal maneira que a fundiu com a antiga cabeça quente, formando uma novidade — desta vez, nem quente nem fria.
Esse itã —relato mítico—de Oxaguiã nos ensina a relevância do estabilidade. Sobre lutar sim pelo ideal, mas com estratégia. Sobre a urgência de se recolher em introspecção e olhar para si, mas com vistas à ação. Ensina sobre maduração e sobre enfocar aquilo que importa.
A liderança do general Ogum fez a diferença na vida do jovem orixá. Oxaguiã passou a acompanhá-lo e os causos dos dois juntos nos contam muito sobre lealdade. Certa vez, Ogum estava no front de guerra, lutando pelo sustento do povo, ao que incumbiu Oxaguiã de voltar à sua cidade em procura de mais munição.
Ao chegar a Ifé, Oxaguiã constatou que o povo acabara de terminar a construção de um palácio em honra a Ogum. O jovem, portanto, disse que havia muita coisa boa naquela construção, mas o general demoraria a retornar da guerra, o que era tempo suficiente para o povo erigir um palácio maior, mais belo e resistente. E com o poder de sua punhal, lançou-se sobre a parede do palácio, que ruiu completamente.
Oxaguiã voltou ao front no dia seguinte até retornar tempos depois. E ali, naquela cidade de Ogum, encontrou um novo palácio, maior, mais belo e resistente. Mas, mesmo assim, o orixá guerreiro demoliu novamente e determinou a construção de um palácio ainda mais completo.
Muitas vezes Oxaguiã fez isso até Ogum voltar da guerra e encontrar um palácio à sua fundura. Os moradores da cidade tantas vezes tiveram de erigir palácios que ficaram conhecidos uma vez que engenheiros perfeccionistas. A população sítio passou a dominar a arte de construção, levando-a a trabalhar em outras comunidades, o que trouxe prosperidade econômica.
Ao reportar esse itã sobre Oxaguiã, que também ficou divulgado uma vez que o “orixá construtor de palácios”, penso sobre uma vez que seu método de movimentar o desenvolvimento da cidade de Ogum inspira uma força dinâmica contra letargias. Há nele uma procura inconformada e criativa do aperfeiçoamento.
Em universal, esse orixá é representado com uma punhal em uma mão, o escudo em um antebraço e o pilão em outra. Ou seja, armas para a guerra de um lado, e, de outro, o instrumento com o qual pila seu inhame e oferece à confraternização.
Depois o sucesso na companhia de Ogum, Oxaguiã secção junto a um leal escudeiro para fundar seu próprio reino na cidade de Ejibô, onde construiu outras histórias. Numa delas, talvez a mais famosa, seu reinado sofreu muito posteriormente guardas terem cometido uma injustiça contra seu leal escudeiro, evidenciando uma vez que a cumplicidade e procura pelo perceptível são o setentrião na vida da comunidade abençoada por esse orixá.
No Brasil, o povo de candomblé saúda Oxaguiã às sextas-feiras, de roupa branca. Para saudá-lo, dizemos “Epa Babá!”. E, a seus pés, pedimos pela sua força de renovação e coragem para enfrentar grandes guerras nessa vida. Porquê dizem, quando Oxaguiã entra em uma guerra, é para vencer ou vencer.
Que suas lições sobre a inconformidade equilibrada sejam inspiração para nós. Boa sexta-feira a todos e a todas. Epa Babá!
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