Que Tanto Esse Povo Corre Atrás De Aventuras? 12/09/2024

Que tanto esse povo corre atrás de aventuras? – 12/09/2024 – É Logo Ali

Esporte

Que durante a pandemia todos buscávamos a menor brecha para evadir das paredes a que nos tinham confinado as autoridades sanitárias não é novidade. Quem pôde, fugiu para qualquer esquina paradisíaco do mato mais próximo, seguro ao computador no home office e torcendo para a conexão do celular não dar um perdido. Mas, pretérito o perrengue pandêmico, a procura por atividades ao ar livre, de preferência com qualquer incitamento à adrenalina envolvido, não só não arrefeceu, mas aumentou em todo o planeta.

De consonância com a psicóloga clínica Larissa Bez, profissional na abordagem da terapia cognitivo comportamental, o bichinho da proeza se multiplicou pelo tecido da sociedade moderna porque as pessoas estão apresentando cada vez mais “uma maior lhaneza a novas experiências, encontrando assim, uma forma valiosa de introduzir emoção e prazer, enriquecendo suas vidas ao evitar a monotonia do cotidiano”.

Com essas experiências, aquelas pessoas que limitavam seus exercícios às quatro paredes de uma eventual liceu ou ao futebol de domingo, descobrem que atividades de proeza permitem estimular uma série de recompensas químicas muito conhecidas do mundo médico: a adrenalina, a dopamina e a serotonina, substâncias neurotransmissoras que, liberadas no cérebro, formam a trilogia do prazer.

O problema começa quando o candidato a aventureiro desconhece seus limites e procura ir cada vez mais longe (mais sobranceiro, mais fundo…) sem o necessário preparo. “Justamente pelo sistema de recompensa que nosso cérebro procura, estamos vivendo uma permanente procura pelo prazer, e tem ocorrido cada vez mais as pessoas procurarem atividades extremas, elas querem ir ao Everest, ao K2, e são convencidas por agências irresponsáveis de que hoje em dia qualquer um pode ir com preparo mínimo”, adverte.

Deixar-se convencer de que o firmamento é o limite e que basta querer para escalar o Everest é comparado por Larissa com o vício em drogas. “Pessoas que têm um comportamento vicioso, ou compulsivo, uma vez que chamamos, saem da verdade por meio da proeza e querem cada vez mais, porque as substâncias que a proeza gera dão prazer”, explica. Cabe logo aos agentes determinar o perfil daqueles que procuram seus serviços.

Um exemplo de prudência são as operadoras que levam excursões ao Pico da Neblina, no Amazonas. No site das operadoras e agências parceiras é alertado que se trata de uma trilha de subida dificuldade. Pessoas que estejam com mais de 10 kg supra do chamado “peso ideal” devem passar por uma entrevista antes de fechar o pacote e quem tem problemas de joelhos, poste ou qualquer tipo de enfermidade crônica ou psicológica só pode fazer suplente com parecer médico, uma vez que contou Magno Souza, da Roraima Adventures, ao blog. “Não é excesso, é desvelo e responsabilidade, definiu Souza.

Outro bom exemplo de atenção vem da Procedente Extremo, escritório que nasceu da paixão de dois sócios praticantes de highline, modalidade de skyline na qual os praticantes cruzam (muito) altos vãos sobre fitas de poucos centímetros de largura. Uma vez que o highline não é tão disperso nem alcançável ao generalidade dos mortais, a escritório acabou se especializando em atividades uma vez que o salto de pêndulo, a tirolesa sobre o cânion e a tirolesa de bike. O ponto de partida fica a 120 metros de profundeza e o trajectória, no caso da bicicleta (mormente adaptada para não trespassar do cabo que a sustenta), é de 580 metros ida e volta.

Desenvolvidas em uma das mais lindas paisagens do país, em Urubici, na serra catarinense, as atividades da Procedente tiveram um grande aumento da procura justamente no primórdio do retardamento das regras de isolamento da pandemia. “Nesse momento, era generalidade as pessoas voltarem dos saltos chorando e dizendo que havíamos ressignificado suas vidas”, lembra Fernanda Dornelles, sócia e diretora de marketing da escritório.

Mas Fernanda alerta que não basta remunerar para trespassar quicando pelo cânion da cascata do Avencal. “Embora não sejamos um esporte, mas uma atividade, quando as pessoas chegam ao site ou pessoalmente precisam assinar um termo de responsabilidade, pois sim, estamos suscetíveis a várias questões, inclusive machucados e eventualmente uma fatalidade, mesmo com todos os cuidados de manutenção de nossos equipamentos”, explica ela.

Para se inscrever, o candidato precisa preencher um questionário respondendo se tem qualquer problema de coração, labirintite, pânico e várias outras realidades. “Se ela diz que sim a alguma dessas questões, não adianta, não vai fazer a atividade, é a nossa regra”, garante Fernanda, que também é diretora da Abeta (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Façanha), que exige de seus associados uma série de normas de segurança —mas aí é conversa para outra semana.


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Folha

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