Queda Da Desigualdade Acelera Crescimento Do País, Diz Economista

Queda da desigualdade acelera crescimento do país, diz economista

Brasil

Passados mais de 80 anos de geração da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), instituída por meio de decreto-lei assinado por Getúlio Vargas (1943), o Brasil ainda tem muita dificuldade em colocar no mercado de trabalho formal grupos vulneráveis, porquê mulheres, jovens e negros. A avaliação é do economista Pedro Fernando Nery, diretor de Assuntos Econômicos e Sociais da Vice-Presidência da República e consultor legislativo.

O mercado de trabalho e as desigualdades sociais são alguns dos pontos tratados por Nery em entrevista à Filial Brasil. Ele lançou no mês pretérito o livro Extremos: um planta para entender as desigualdades no Brasil, onde retrata e analisa realidades de oito destinos, nas cinco grandes regiões do país, que percorreu para entender e mostrar o que afasta uns brasileiros de outros brasileiros.

A seguir os principais trechos da entrevista:

Filial Brasil: No livro, há um trecho que diz “se um marciano viesse à Terreno e tivesse que saber um país para entender a veras do planeta, o Brasil seria a melhor opção.” Se o marciano o abduzisse e em meio a um passeio espacial perguntasse: “Porquê é o Brasil?”. O que diria?

Brasília (DF) 01/05/2024 - Economista Pedro Fernando Nery
Foto: Pedro Fernando Nery/Linkedin
Brasília (DF) 01/05/2024 - Economista Pedro Fernando Nery
Foto: Pedro Fernando Nery/Linkedin

Economista Pedro Fernando Nery – Pedro Fernando Nery/Linkedin

Pedro Fernando Nery: O Brasil é o microcosmo do mundo em relação à distribuição de renda. Isso quer expressar que a distribuição de renda do Brasil se sobrepõe à própria distribuição de renda do planeta. Se considerarmos que alguém que está, por exemplo, no 1% mais rico dos brasileiros tende a estar entre o 1% mais rico dos terráqueos e a mesma coisa vale para os 10% mais ricos ou para a metade mais pobre.

Portanto, nesse sentido, a desigualdade que temos no Brasil sintetiza a desigualdade que há no planeta.

 

Filial Brasil: Qual foi a maior surpresa, impacto ao visitar os oito destinos para produção do livro?

Pedro Fernando Nery: Eu acho que o que mais surpreende é uma certa resiliência que o brasílico tem. Quando eu imagino extrair determinado sentimento, porquê insatisfação ou indignação, de qualquer cidadão [entrevistado], ele demonstra otimismo. Está na voga a termo ‘resiliente’, que é até um pouco um termo importado, mas acho que a termo que estamos mais acostumados no Brasil é ‘fé’. Não fé em sentido religioso, mas de uma certa esperança, um otimismo realista de que dias melhores virão.

Às vezes, em situações de muita miséria, de muita tragédia, a expectativa das pessoas é de que as coisas vão melhorar. E eu acho que esse é um traço muito marcante da nossa cultura e da nossa sociedade.

 

Filial Brasil: Geralmente quando falamos de desigualdade estamos pensando sempre em desigualdade de renda. Não é só dessa desigualdade que trata o livro. Mas a renda é o principal fator?

Pedro Fernando Nery: A renda é uma desigualdade que está relacionada a outras e, às vezes, é a razão. Por exemplo, uma pessoa que não tem quantia pode morar mal. Fundamentalmente, a renda é uma desigualdade mais fácil de medir do que outras. Há mais dados de renda do que sobre habitação, por exemplo. Por isso, o foco em renda é tão relevante. Não à toa, o presidente Lula fala muito em ‘colocar o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda’. Acho que essa teoria é um mantra adequado para a nossa veras.

Secção da desigualdade que a gente tem no Brasil é uma desigualdade sintético, não precisaria subsistir. O Brasil poderia ser melhor se tivéssemos cobertura boa dos problemas sociais dentro dos setores mais pobres da população e tivéssemos um sistema tributário justo que cobrasse de forma adequada cada um de combinação com a sua renda, em vez de mitigar para quem ganha mais.

 

Filial Brasil: Esta quarta-feira, 1º de maio, é Dia do Trabalhador. Quanto que o mercado de trabalho gera de desigualdade entre os brasileiros?

Pedro Fernando Nery: O trabalho é uma manadeira fundamental de desigualdade, não somente pela desigualdade salarial que é gerada, mas pelas barreiras que existem na própria inserção do trabalhador no mercado de trabalho. Se olharmos, por exemplo, o alcance do tarefa formal notaremos que quem mais consegue esse tipo de tarefa são normalmente homens, brancos e do centro-sul do país.

Temos dificuldades muito grandes de colocarmos no mercado de trabalho formal, grupos vulneráveis porquê mulheres, jovens e negros.

Portanto, uma segmento da desigualdade se encontra aí, entre quem consegue superar essas barreiras, porquê a barreira de instrução, e quem está fora. Isso, de novo, tem um pouco a ver com as discussões sobre o sistema tributário.

Sabemos que a tributação no Brasil é muito pesada sobre o tarefa. Não à toa, a gente vê na proposta do governo para regulamentar a situação dos trabalhadores de aplicativo uma tentativa de tornar a tributação menos dura e permitir que haja proteção previdenciária, dentro de um regime que não onere tanto a sua remuneração.

 

Filial Brasil: O senhor escreve no livro que “a desigualdade é uma forma ineficiente de organizar a economia: é provável aumentar o bem-estar médio da população reduzindo a desigualdade.” O Brasil poderia ser mais desenvolvido se 80% mais pobres pudessem usufruir de benefícios e privilégios comuns aos 20% mais ricos?

Pedro Fernando Nery: Com certeza. A pesquisa científica e a experiência internacional mostram que a redução da desigualdade e o prolongamento econômico podem marchar juntos. Fundamentalmente, penso que desigualdade é desperdício. Há excesso de recursos em famílias, instituições e cidades que não precisam tanto, e há escassez de recursos em outras partes e lugares.

Podemos imaginar um caso trivial: por exemplo, os provisões que sobram em banquetes, enquanto crianças passam míngua. Essa privação cotidiana vai afetar o desenvolvimento cerebral, a trajetória escolar e a trajetória no mercado de trabalho. Se as habilidades cognitivas e não cognitivas não foram desenvolvidas adequadamente na puerícia, vai afetar a trajetória futura das crianças.

A redução de desigualdade pode marchar junto com o prolongamento do Resultado Interno Bruto, pode inclusive ser uma manadeira de aceleração do prolongamento da economia. Quando a gente está reduzindo a desigualdade, a gente está fazendo a economia crescer, nem que seja a economia das periferias, a economia das cidades mais pobres, a economia das famílias mais necessitadas.

 

Filial Brasil: A economista francesa Esther Duflo, vencedora do Prêmio Nobel em 2019, opina que a cobrança de imposto sobre a riqueza de super ricos e o aumento da tributação de multinacionais foram incorporados ao espírito do tempo, não é mais de direita ou esquerda, e podem gerar meio trilhão de dólares para financiar políticas públicas de mitigação de impactos da crise climática sobre populações e países pobres. No Brasil, há um potencial distributivo no topo da pirâmide socioeconômica. Estamos próximos de ter consenso em aumentar a taxação dos mais ricos?

Pedro Fernando Nery: Eu acho que alguma convergência existe, né? Isso está na tarifa do atual governo e estava, em qualquer intensidade, na tarifa do governo anterior. Em 2021, o ex-ministro Paulo Guedes chegou a enviar um projeto de tributação de lucros e dividendos para o Congresso Vernáculo.

 

Filial Brasil: Quais as expectativas distributivistas quanto à regulamentação da reforma tributária?

Pedro Fernando Nery: A regulamentação da reforma tributária é um marco muito importante em relação à redistributividade por três motivos. O primeiro é que tende a reduzir a tributação sobre os mais pobres, visto que equipara a tributação de consumo de produtos e de serviços.

Hoje, serviços são menos tributados. As diferentes modalidades de serviço são tipicamente alguma coisa que os mais ricos consomem mais. Um segundo ponto é a mudança da tributação da origem para o tramontana das mercadorias. Isso vai ajudar os estados mais pobres.

Mas o que é mais fundamental é o cashback, que pode beneficiar murado de 70 milhões de brasileiros. A expectativa é de que o cashback garanta a reembolso do pagamento de 100% para os gastos com botijão de gás, 50% para contas de serviço porquê robustez elétrica e chuva, e de 20% para outros produtos. Estamos falando de reembolso do que é pago em tributo numa graduação muito larga para boa segmento da população.

 

Filial Brasil: O seu livro pode inspirar políticas públicas? O que os governos federalista, estaduais e municipais poderiam fazer?

Pedro Fernando Nery: Tem muita coisa que pode ser feita de inesperado, acho que tem um cardápio grande de medidas que pode ser feito relativamente sem tanta controvérsia política. É evidente que a gente tem temas mais duros, porquê mexer com tributação de lucros e dividendos, mas existem temas mais simples, porquê, por exemplo, mudar os planos diretores da cidade para permitir que trabalhadores jovens estejam mais perto dos centros de tarefa.

Fonte EBC

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