Quem é Stefania Bril, Que Fotografou A Ruína E A

Quem é Stefania Bril, que fotografou a ruína e a desordem – 26/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Stefania Bril era uma fotógrafa insubordinado. Em oposição ao que preconizava o fotojornalista Henri Cartier-Bresson, ela não perseguia o momento decisivo, aquela fração de segundo em que todos os elementos se alinham para produzir uma imagem paradigmática.

Em vez disso, o intuito de sua lente era gente generalidade vivendo instantes banais. Um varão cochilando no trabalho, crianças se divertindo em um balanço, freiras tirando fotos em um museu. Para a polonesa radicada no Brasil, o memorável e o inesperado estavam na trivialidade dos dias.

A partir desta terça-feira (27), a exposição “Stefania Bril: Insubordinação pelo Afeto” leva ao público o olhar dessa fotógrafa pouco afeita a convenções.

Em papeleta no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, a mostra reúne muro de 160 fotografias e faz um quadro da curso de Bril, artista que tem sua obra exposta pela primeira vez em três décadas.

Morta em 1992, ela deixou aproximadamente 15 milénio imagens. No entanto, os trabalhos receberam pouco destaque ao longo dos anos justamente por seu caráter disruptivo.

“Ela desobedecia o que seria uma boa retrato nos conceitos tradicionais”, diz Ileana Pradilla Ceron, uma das curadoras da mostra. “Stefania fotografou pessoas anônimas em imagens que não representam o poder.”

Ou por outra, não interessava a ela fotografar comunidades desconhecidas, porquê fez Claudia Andujar nos 1970 com os yanomamis, ou registrar momentos de convulsão social, porquê fez Evandro Teixeira durante a ditadura militar.

Tampouco queria testemunhar conflitos armados, a exemplo de Robert Toga. O fotógrafo húngaro cobriu cinco guerras e morreu aos 40 anos quando pisou numa mina terrestre, em 1954, no Vietnã.

“Na maioria dos casos, o que sempre se valoriza na imagem é o heroísmo, mas para ela a retrato não era heroica”, diz Ceron. “Ela fotografava o movimento. Não tem momento decisivo. É a vida acontecendo.”

A imagem que abre a exposição registra um batismo no rio Tietê, em Itu, interno de São Paulo. Na cena, vemos mulheres com véus brancos na cabeça em uma atmosfera de sacralidade. É porquê se estivéssemos diante de uma paisagem imaculada. Um elemento, porém, destoa e perturba a ordem.

É uma moça curvada, que parece tentar evadir do pescoço da mãe e se lançar dentro das águas do rio.

Assim porquê Bril, muitos de seus fotografados eram insubordinados. “Nas fotografias dela, são mulheres e meninas que criam esse rumor, essas pequenas desobediências”, diz Ceron.

Para a curadora, esse paisagem desafia as críticas de que a fotógrafa teria feito uma produção despolitizada. “Tem, sim, um caráter político na obra dela, mas não é a política dos homens. É uma política que chamamos de portas adentro, ou seja, a política do doméstico.”

A insubmissão, aliás, faz segmento da biografia de Bril. Nascida na Polônia em 1922, ela escapou do imolação judeu em seguida adotar uma identidade falsa. Quando a Segunda Guerra terminou, ela se formou em química e decidiu morar no Brasil, onde trabalhou porquê bioquímica e química nuclear.

Começou a estudar retrato aos 47 anos, no final da dez de 1960. Depois de formada, publicou artigos sobre retrato no jornal O Estado de S. Paulo por mais de uma dez.

Em seu trabalho, lançou um olhar crítico sobre as grandes cidades, que sacrificam o verdejante da natureza em obséquio do cinza do concreto armado. Em uma das fotos da exposição, vemos o tronco de uma árvore espremido no meio de um muro feito de madeira.

Por um lado, a imagem pode ser lida porquê uma metáfora para o ímpeto do varão de vencer a natureza. Por outro, representa o fracasso dele diante dessa empreitada. A árvore, enfim, continua de pé.

Há ainda uma retrato que mostra o saliente Presidente João Goulart, o Minhocão, localizado no núcleo de São Paulo. Na cena, vemos uma placa de trânsito onde lê-se: “Não passe pela direita”. A decisão de enquadrar esse letreiro na imagem não parece fortuita.

Inaugurado em 1971, durante a ditadura militar, o viaduto se tornou símbolo de uma política urbana em que o viatura tem primazia em relação às pessoas. “Quando ele foi construído, destruiu toda a vida que tinha ali e acabou com o transacção, ou seja, desertificou uma segmento da cidade”, diz Ceron.

“Por meio das fotografias, ela criticava essa teoria de cidade padronizadora e achatadora de diferenças”, acrescenta Miguel del Castillo, que também assina a curadoria da mostra. “Essa teoria não comporta aquele que não está dentro do concepção de varão universal, ou seja, o varão branco e europeu.”

Bril parecia entender que a promessa anunciada pela modernidade havia desmoronado e se transformado em escombros. Não à toa, uma das imagens traz a demolição do que parece ser um cortiço. Dentro do imóvel destruído, quatro pessoas estão alheias ao colapso iminente da estrutura.

“Ela enxergava as ruínas desse projeto modernizador”, diz Castillo. “É porquê se ela estivesse mostrando a falência da cidade moderna e construindo um outro espaço.”

A artista almejava erguer a metrópole das pessoas, e não das máquinas. Por esse motivo, colocou em evidência a população das capitais por onde passou, porquê São Paulo, Paris e Cidade do México.

Nesses lugares, fotografou momentos bem-humorados. Exemplo disso é a retrato de um varão deitado sobre um gramado, mas com os pés para fora do canteiro. “Não pise na grama”, adverte uma placa. “E o face está obedecendo. Não está pisando mesmo na grama”, diz Castillo.

O sarcasmo está presente também na série “Sota”, que traz imagens de pessoas dormindo em seus postos de trabalho. São trabalhadores que podem estar resistindo à lógica produtivista ou sucumbindo ao esgotamento causado por ela.

“O humor e o sarcasmo funcionam em dois sentidos, porquê refrigério cômico para suavizar a vexame e porquê sátira ácida”, diz o curador.

Outras fotografias deixam o sarcasmo de lado para apostar numa certa virgindade, porquê as imagens que mostram crianças brincando. “Embora haja críticas a diversas questões, é uma produção muito esperançosa e empática”, diz Castillo.

A própria fotógrafa deixou muito simples o seu projeto estético em um texto de 1975. “Nesse nosso mundo de violência, continuo obstinadamente a confiar no ‘varão humano’. Acredito que as coisas sem valor são as únicas que dão valor à vida do varão.”

Folha

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