Racismo Argentina: Canto Abre Crise Em Seleção E Governo

Racismo Argentina: canto abre crise em seleção e governo – 18/07/2024 – Esporte

Esporte

Talvez um dos únicos elementos que una um país hoje amplamente polarizado, a seleção argentina de futebol viu os louros da conquista da Despensa América se mesclarem a um incidente racista.

O quina ofensivo entoado pelo meia Enzo Fernández, que depois pediu desculpas, abalou a imagem da seleção no exterior, levou à introdução de uma investigação pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) e gerou bate-cabeça no governo do presidente Javier Milei.

Primeiro do governo que comentou o tema em público, o agora ex-subsecretário de Esportes Julio Garro foi exonerado posteriormente declarar que o capitão Lionel Messi deveria vir à público pedir desculpas por sua equipe. Unicamente Enzo Fernández, hoje no Chelsea, manifestou-se.

Garro acabou exonerado. Ao anunciar a decisão, a Morada Rosada afirmou que “nenhum governo pode expressar à seleção argentina campeã do mundo e bicampeã nas Américas o que comentar, pensar ou fazer”.

É um oração que eleva à máxima potência a agenda de liberdades individuais pregada por Milei, mas, pelo que demonstra sua gestão, também abre espaço para manifestações racistas. Outro membro que saiu em resguardo foi sua vice, a conservadora Victoria Villarruel.

No X, em referência não nominal à França, ela disse que “nenhum país colonialista vai nos colocar pânico por uma música de estádio nem por expressar verdades que não querem consentir; basta de fingir indignação, hipócritas”. E seguiu: “Enzo, estou contigo”.

Para Villarruel, o país “nunca teve colônias ou cidadãos de segunda classe; nunca impusemos a ninguém nossa forma de vida”.

Ainda que em menor graduação do que em países uma vez que o Brasil, porém, a Argentina recebeu pessoas escravizadas, segundo a historiografia.

Até 1810, ano-chave no processo de independência lugar, Buenos Aires tinha em meio aos seus portanto 40 milénio habitantes ao menos um terço de origem africana. O cenário é muito exímio hoje, porém: o mais recente recenseamento divulgado neste ano mostra que somente 0,7% dos argentinos, ou 303 milénio pessoas, se reconhecem uma vez que afrodescendentes.

Mas o apagamento da presença negra na história lugar foi ruminando um cenário de resistência em debater o racismo. Unicamente recentemente, a chamada “mãe da pátria” argentina, María Remedios del Valle, passou a exarar uma nota no país. Negra, ela foi uma das poucas mulheres que lutaram e lideraram a guerra de independência no país.

Para o sociólogo prateado Carlos Alvarez Nazareno, o futebol se tornou talvez o principal espaço de socialização no país e nele se reproduzem características do cotidiano da sociedade.

“E os discursos racistas estão tão institucionalizados e incorporados que, quando vêm à tona, nem sequer aceitam as críticas e pior, para se tutelar acabam sendo mais racistas.”

Ex-diretor de Justiça na Secretaria de Direitos Humanos do país, ele diz que houve historicamente um projeto político de “embranquecer o país e invisibilizar os povos originários e a população afrodescendente”. “Por isso seria tão importante subsistir um papel do Estado em políticas educativas.”

Episódios racistas já se repetiram em outros períodos, no campo e na política. Na própria Despensa do Qatar, que a Argentina ganhou contra a França, o quina agora entoado por membros da seleção também era cantado por torcedores argentinos.

O cantigo que muitos argentinos dizem ser somente um grito de arquibancada diz trechos uma vez que “jogam na França, mas são de Angola”, em referência aos membros da seleção do país europeu que é marcada pela potente presença dos filhos de imigrantes.

Antes, em 2021, o portanto presidente prateado, o peronista Alberto Fernández, que, investigado por denúncias de depravação –hoje passa mais uma temporada vivendo em Madri–, afirmou que os argentinos chegaram em barcos. “Eram barcos que vinham da Europa”, disse. Enquanto “os mexicanos vieram dos indígenas, os brasileiros, da selva”.

Enquanto os exemplos vão se acumulando e o país se afasta da tarefa de debater o racismo, a própria população afro-argentina, uma vez que se autodenominam os afrodescendentes no país, sente o impacto. “Se você tiver uma fardo de melanina muito subida em sua pele, na rua já te perguntam ‘de onde você vem’. É uma teoria de que, com esse tom de pele, não se pode ser prateado.”

Folha

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