Rebeca Andrade Deixa Paris No Olimpo Do Esporte Brasileiro

Rebeca Andrade deixa Paris no Olimpo do esporte brasileiro – 05/08/2024 – Esporte

Esporte

Rebeca Andrade chegou aos Jogos de Paris cercada de expectativa, uma vez que o principal nome da delegação do Brasil. Finalizadas as competições da ginástica artística na capital francesa, sai consolidada uma vez que uma das estrelas olímpicas mundiais e definitivamente marcada na história do esporte de seu país.

O reconhecimento é irrefutável e vem de todos os lados. A reverência de Simone Biles e de Jordan Chiles no pódio do solo pode ser a imagem mais ilustrativa, mas não é a única mostra do enorme prestígio internacional da guarulhense de 25 anos. Que, evidente, é aclamada também pelos brasileiros. E compreende o tamanho que tomou.

“Acho que a vocábulo é… Grandona”, disse.

Novamente entre os risos ingênuos e expressões singelas que lhes são característicos, ela demonstrou consciência do lugar que passou a ocupar. Em sua rememorável campanha em Paris, sem perder o ar pueril, chegou a se confrontar ao megaídolo vernáculo Ayrton Senna, tricampeão de F1, seu companheiro no Olimpo do esporte brasílio.

“Sou a Rebeca de sempre, sabe? Do meu jeitinho. Vou voltar para lar, cuidar dos meus cachorros, fazer minha comida. Mas eu entendo, sim, a grandiosidade, entendo o que é ser um grande desportista do país. Entendo a responsabilidade que é incentivar tantas pessoas, ser um espelho para elas. Eu sei de tudo isso”, afirmou.

Andrade obteve quatro medalhas em Paris (ouro no solo, prata na modalidade individual universal e no salto e bronze na disputa por equipes). Com as duas conquistadas em Tóquio (ouro no salto e prata no torneio individual universal), em 2021, chegou a seis medalhas olímpicas, número que nunca havia sido apanhado por um brasílio.

Ainda que outros atletas tenham ganhado dois ouros –uma vez que Robert Scheidt e Torben Grael, da vela, que lideravam o cômputo universal, com cinco pódios cada um–, ela aparece primeiro no totalidade e também nas pratas. Mas a experiência francesa mostra que o tamanho de Rebeca não se resume a essa contabilidade, fria, que não dá conta da personagem.

A paulista foi tratada em todo o evento olímpico da ginástica uma vez que uma estrela mundial. A locutora da Estádio Bercy se esforçava, com dificuldade, é verdade, para pronunciar seu sobrenome à brasileira. As câmeras a focalizavam o tempo todo, e a prelo internacional frequentava suas entrevistas, alimentando o duelo com Simone Biles.

A norte-americana de 27 anos tratou de sempre exaltar a rival. Maior nome da história da ginástica, ela brincou, posteriormente o ouro na competição individual universal, que não aguentava mais competir com Rebeca: “Estou cansada, chega!”. Biles venceu também no salto e no campeonato por equipes, mas, no último evento, o solo, teve de se contentar com a prata.

“Ela é absolutamente incrível, é rainha”, afirmou a desportista dos Estados Unidos. “É uma pessoa inacreditável e uma ginasta ainda melhor. Só tenho coisas boas a manifestar. Ela me mantém no meu mais supino nível, ela me faz querer ter melhores performances. Ela é muito, muito, talentosa, e espero que tenha longevidade neste esporte. Sim, eu senhoril a Rebeca.”

Não foram meras palavras de cortesia de uma craque habituada a oferecer encorajamento a esportistas mais jovens. O jornal The New York Times, por exemplo, apontou que Andrade “voltou de três rompimentos de ligamento cruzado anterior no joelho para se tornar a única ginasta do mundo capaz de desafiar Simone Biles”.

Justamente por pretexto dessas lesões, a brasileira tratou de aproveitar os Jogos de Paris uma vez que se fossem seus últimos. Porque podem ser. Mas o mais provável é que ela continue competindo e chegue, sim, a Los Angeles-2028, ainda que sem participar do solo e da competição individual universal, que exigem demais de suas pernas.

“O porvir a Deus pertence”, repetiu diversas vezes, com um controle da própria impaciência que também foi um diferencial em sua campanha memorável na França. Depois o quarto lugar na trave, na segunda-feira (5), duas horas antes do ouro no solo, por exemplo, recusou-se a remoer o que a havia separado do bronze, exclusivamente 0.067 distante.

Última a se apresentar no aparelho, parecia ter a medalha ao alcance, em uma jornada enxurro de quedas, uma delas de Biles. A brasileira não caiu, embora tenha perdido o eixo em alguns momentos, e alimentou a esperança de estar no pódio, alguma coisa que não se concretizou. Sua pontuação foi suficiente para o quarto lugar.

“Eu saí rindo, conversando com minha psicóloga. Fui para o solo jubiloso e feliz. Juntei as minhas mãozinhas ali e falei: ‘Senhor, eu entrego nas Tuas mãos, mas vou fazer a minha segmento, porque, se eu merecer, vai suceder’. Na verdade, é uma preocupação que às vezes as pessoas que estão vendo de fora sentem mais do que a gente. Só fui para o solo e fiz o meu melhor”, relatou.

Sua exibição subsequente, de roupa, foi de supino nível. Se teve uma nota de partida menor do que a de Biles (5.900, contra 6.900), teve realização muito superior (8.266, contra 7.833 e penalização de 0.6). Simone errou por muito duas de suas manobras acrobáticas e extrapolou o limite da espaço de apresentação com os dois pés.

A brasileira juramento ter torcido pela norte-americana, não contra, mas sorriu ao observar que tinha uma pontuação final maior do que a dela, 14.166 a 14.133. Aí, foi questão de tempo para as demais ginastas se apresentarem, sabendo que o nível das duas melhores do mundo era muito dificilmente alcançável na Estádio Bercy.

Confirmado o resultado, à sua maneira, Rebeca riu de novo, singelamente, sabendo que não há nenhum desportista olímpico maior do que ela na história de seu país. E que é a maior oponente da maior ginasta de todos os tempos.

Folha

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