Rebeca Andrade Fala Sobre Olimpíadas, Biles E Medalhas 14/07/2024

Rebeca Andrade fala sobre Olimpíadas, Biles e medalhas – 14/07/2024 – Esporte

Esporte

Rebeca Andrade chegou aos Jogos de Tóquio, em 2021, uma vez que a ginasta que tentava confirmar seu potencial em seguida superar três lesões graves no joelho recta. Ainda não tinha medalhas nas grandes competições, mas voltou do Japão com duas: ouro no salto e prata no individual universal.

Rebeca Andrade chegará aos Jogos de Paris, daqui a menos de duas semanas, consolidada uma vez que uma das grandes ginastas do planeta. Nos três Campeonatos Mundiais realizados desde Tóquio, ela conquistou nove medalhas, incluindo um ouro no individual universal em 2022 e outro no salto, desbancando Simone Biles, em 2023.

Na França, Rebeca poderá disputar até seis medalhas, o que a torna o nome com maior potencial de conquistas da delegação brasileira. Além de rivalizar com Biles no salto, está entre as favoritas no individual universal e no solo. A brasileira também tem chances nas barras assimétricas, na trave e na disputa por equipes (junto com Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira).

O desempenho nos últimos anos fez com que Biles enxergasse nela uma rival à fundura. Nos bastidores do último Mundial, enquanto as atletas esperavam uma cerimônia de pódio, a americana reverenciou Rebeca ao simular que tirava uma grinalda da própria cabeça e colocava na da brasileira. O maior nome do esporte neste século voltou a competir no ano pretérito, depois de um retraimento para tratar questões de saúde mental.

Esse status faz Rebeca desembarcar em Paris mais esperançoso? Sem dúvidas, uma vez que ela conta em entrevista à Folha. “A cada ano, a cada conquista, eu me coloquei em outro patamar. Estou muito mais madura. Não posso proferir que eu vou assestar tudo, não é isso, mas eu sinto que confio ainda mais em mim”, afirma.

Ao mesmo tempo, a desportista diz não se sentir pressionada na competição que pode consagrá-la definitivamente. “Não consigo controlar as expectativas das outras pessoas. A única coisa que eu posso controlar sou eu mesma.”

Nesta entrevista, Rebeca também conta uma vez que reagiu à reverência de Biles e fala sobre representatividade.

A Rebeca que chega aos Jogos de Paris é muito dissemelhante da Rebeca que chegou aos Jogos de Tóquio?

De personalidade não. Mas uma vez que desportista eu amadureci bastante. A cada ano, a cada conquista, eu me coloquei em outro patamar. Não posso proferir que eu vou assestar tudo, não é isso, mas eu sinto que confio ainda mais em mim. A cada competição que eu vou, eu tenho mais consciência daquilo que estou fazendo. A gente tem que trabalhar isso todos os dias. Tem dias que eu estou cansada e não consigo pensar em zero, que eu falo “ai meu Deus do firmamento, é hoje que ‘eu vou de arrasta'”. Mas aí a gente para, respira, pensa e volta. Cabeça no lugar porque não pode se dar ao luxo, principalmente faltando tão pouco tempo para a competição mais importante das nossas vidas.

Você sente que chega com uma trouxa maior de pressão agora?

Eu não me sinto pressionada, de verdade mesmo, porque não consigo controlar as expectativas das outras pessoas. A única coisa que eu posso controlar sou eu mesma. Tenho que fazer a minha melhor apresentação da minha maneira. Independentemente do resultado final, se vai ter medalhas, se não vai ter. É simples que quando a gente erra, a gente fica chateado, mas é um erro que a gente se conforma. Erros acontecem também, faz segmento do esporte. O que me preocupa é se eu não estiver fazendo o meu sumo cá dentro [do ginásio].

Você consegue estar sempre dando seu sumo?

Eu estou sempre dando meu sumo. Meu sumo de 100% ou meu sumo de 1%. Se eu estou muito cansada, vou fazer o meu sumo daquele dia. Quando eu sinto que realmente não dá para fazer, eu convertido com o Chico [Porath, treinador de Rebeca e da seleção brasileira]. Ele me treina desde os sete, oito anos e me conhece até do avesso, sabe quando eu estou mentindo, quando eu estou inventando, quando eu não quero fazer, quando estou com preguiça… Às vezes o meu corpo está muito, mas a minha cabeça está com problemas. E ele consegue respeitar os meus limites.

Apesar da crédito que você demonstra, você também tem momentos de incerteza antes de se apresentar?

Ah, eu me sinto nervosa. Antes de fazer a apresentação, eu sabor sempre de rezar, mas procuro conversar comigo também. Tem até alguns vídeos em que dá para ver minha boca mexendo, eu estou sempre falando “calma, você consegue, respira, você já fez isso 1 milhão de vezes, confia”. Isso ajuda a me manter um pouco mais tranquila.

No último Mundial teve aquela cena que viralizou, da Simone Biles passando a grinalda para você. O que você pensou naquele momento?

A gente, eu e a Flávia [Saraiva], que estava junto, sentiu que foi um pouco muito genuíno da segmento dela. Eu até falei assim: “Não, minha filha não faz isso não, pelo paixão de Deus, a ginástica precisa de você, o mundo precisa de você”. A Simone é de outro mundo. Ela é uma ginasta muito incrível e foi sensacional competir com ela e ver uma vez que ela estava dissemelhante das últimas competições. Eu me lembro de um Mundial em 2018 em que ela conversou comigo e falou para eu não desistir [apesar das lesões] porque eu era muito talentosa. E ela mal me conhecia. A partir dali, eu criei um carinho muito grande por ela.

Você acha que pode ser bom para ela ter uma rival uma vez que você, que já mostrou que pode competir de igual para igual, pelo menos no salto? Isso pode diminuir um pouco da pressão que ela carrega?

Eu li uma entrevista em que ela falou que é bom ter uma pessoa que faça ela fincar mais. Eu acredito que, de certa forma, para ela seja bom, assim uma vez que para mim também é bom sentir que eu represento um pouco desse tipo para ela, uma adversária que faz ela querer fazer mais. E lucro, ela estava muito feliz competindo. Parecia que estava ligeiro. Os Estados Unidos são o melhor melhor país da ginástica artística, e a gente sente um pouco dessa pressão, uma vez que é para as meninas sempre ter que lucrar, estar no topo. Dessa vez parecia que ela estava competindo para ela. Simples que querendo vencer, mas foi muito dissemelhante. Eu fiquei muito feliz por vê-la daquela forma.

Você sempre destaca a questão da representatividade e da prestígio de ser uma ginasta preta. Da mesma forma uma vez que a Daiane dos Santos foi uma referência para você, hoje você é uma referência para outras meninas. Dá para notar os impactos disso no dia a dia?

Eu fico muito no ginásio, mas pela internet consigo ver bastante e tem muito mais escolas de ginástica. E é isso, ter oportunidade. Não é que não tenham talentos, não é que não tenham pessoas para simbolizar. Na minha estação realmente eu não conseguia ver muitas pessoas pretas, que eu falasse “nossa, quero fazer aquilo ali”. E hoje em dia a gente consegue ver muito mais. Poder ser um espelho e uma inspiração para tantas crianças, e principalmente para as crianças pretas, é um pouco muito grandioso. Eu sei uma vez que isso foi importante para mim e uma vez que é importante você ter uma referência na vida para continuar sonhando.

Além do seu exemplo, o que mais precisa ser feito em termos estruturais, de política esportiva, para que isso aconteça?

Para falar a verdade, eu não sei o que precisa ser feito. Hoje eu posso só simbolizar, que é muita coisa, mas eu espero que um dia eu possa furar um lugar que tenha não só ginástica, mas outros esportes, para dar mais oportunidades. É muito fácil você querer patrocinar e estribar quando o desportista já está em elevado nível. Mas e a base? Eu tive sorte porque comecei num projeto social, mas com pessoas que acreditaram e escolheram me estribar também, mesmo sem saber se eu seria uma medalhista olímpica.

RAIO-X | REBECA ANDRADE, 25

A ginasta nasceu em Guarulhos (SP) em 8 de maio de 1999 e teve três lesões graves no joelho recta antes de inferir as maiores conquistas da curso. Ganhou duas medalhas olímpicas nos Jogos de Tóquio, em 2021 (ouro no salto e prata no individual universal), e possui nove medalhas em campeonatos mundiais (três delas de ouro). Disputará em Paris sua terceira edição de Jogos Olímpicos.

Folha

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