O ritual se repetia todas as manhãs. Carolina Ribeiro Defino, 35, acordava por volta das 7 horas e fazia uma estirão de tapume de 300 metros. “Uma vez que tinha que subir o morro, dava a sentimento de marchar 1 quilômetro”, brinca. Nas mãos, levava o celular, em procura de um sinal de internet.
Em meio a vacas e galinhas da propriedade rústico vizinha à sua morada, onde estava instalada uma antena, ouvia os recados da véspera, tentava vincular para a família, um companheiro ou um contato de trabalho. Descia o morro. Só voltaria a permanecer conectada no dia seguinte.
As imponentes montanhas que circundam Monteiro Lobato (SP), cidade de pouco mais de 4.000 habitantes, a respeito de 130 quilômetros da capital paulista —onde viveu o responsável dos personagens do “Sítio do Picapau Amarelo” e de Jeca Tatu, retratado em “Urupês”— são um empecilho para o sinal de celular.
Conexão não é um pouco simples de se conseguir em meio a uma topografia irregular, onde morros, vales, árvores e até nuvens podem atrapalhar o sinal.
“No prelúdios, achei bom”, diz ela. “Morei muitos anos em São Paulo, trabalhei em banco, era muita correria, muita informação. Eu queria mesmo permanecer no meio do mato”, afirma Carolina, formada em ciências econômicas, que trocou de curso quando se mudou para Monteiro Lobato.
Uma vez que produtora cultural, ela voltava para São Paulo unicamente aos fins de semana para trabalhar.
Em 2018, porém, Carolina percebeu que começava a perder alguns contatos de trabalho por falta de conexão. Ao mesmo tempo, o marido, Tiago, estava querendo fazer cursos online e precisava de internet.
“Assinamos um provedor lugar, eram R$ 150 por mês nos seis primeiros meses, mas depois a mensalidade foi a R$ 300, muito custoso. Ficamos só um ano com eles”, lembra Carolina.
Em 2019, ela soube que algumas pessoas do bairro dos Souzas, onde morava, a respeito de 7 quilômetros do meio de Monteiro Lobato, tinham se articulado para produzir uma rede comunitária que provesse entrada aos moradores. O dispêndio era de R$ 30 por mês, para manutenção.
“Melhorou muito a nossa vida, passamos a relatar com entrada à internet dentro de morada por um insignificante dispêndio”, diz ela, hoje professora do Instituto Pandavas, de instrução infantil e ensino fundamental.
Na pandemia, conseguiu manter contato com as crianças e transmitir secção do teor online. Hoje, conta com um provedor de internet para o celular e o sinal da rede comunitária.
Em pleno século 21, 29,4 milhões de brasileiros não têm entrada à internet, o equivalente a 16% da população com 10 anos ou mais, de tratado com o estudo TIC Domicílios 2023, elaborado pelo CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil).
O número é muito subalterno aos 49% observados em 2015, mais continua significativo.
Os motivos são principalmente econômicos: em 55% dos lares sem entrada à internet, os entrevistados apontam o cume dispêndio uma vez que principal fator para a exiguidade de conexão.
Uma vez que secção desse público vive em áreas de difícil entrada, as grandes empresas provedoras de internet não têm interesse em instalar infraestrutura para atender uma demanda reduzida. Ao mesmo tempo, pequenos provedores locais cobram custoso para levar o sinal de internet a regiões distantes da cidade.
A mensalidade de R$ 300 paga por Carolina, por exemplo, equivale a mais de 20% do lucro médio dos moradores de Monteiro Lobato, por volta de R$ 1.460 ao mês, segundo o IBGE.
“As redes comunitárias estão aí para atender os moradores que vivem neste limbo”, diz Hiurê Camargo, instituidor da rede comunitária Portal Sem Porteiras no bairro rústico dos Souzas.
Segundo definição da Anatel (Sucursal Vernáculo de Telecomunicações), redes comunitárias são redes de notícia de propriedade e gestão coletivas, sem fins lucrativos e orientadas para objetivos comunitários.
Depois de concluir o doutorado em Física no ITA (Instituto Tecnológico de Aviação), em São José dos Campos (SP), Hieurê Camargo se mudou para Monteiro Lobato em 2017. Morador do bairro dos Souzas, sentiu na pele a dificuldade de conexão.
Ele já tinha experiência com redes comunitárias. Encontrou esteio na APC (Associação para o Progresso das Comunicações), rede de organizações da sociedade social e ativistas fundada em 1990, com sede na África do Sul. O objetivo é capacitar indivíduos, organizações e movimentos sociais para usar tecnologias de informação.
Em parceria com a mexicana Rhizomatica, a APC vem ajudando redes comunitárias na África, Ásia, América Latina e Caribe. No Brasil, a iniciativa já deu suporte na implementação de redes comunitárias uma vez que a Portal Sem Porteiras, que recebeu tapume de US$ 15 milénio (R$ 74,6 milénio) para a sua instalação.
“Mas uma rede comunitária exige recursos para se manter de pé: é preciso fazer a manutenção, trocar equipamento que fica danificado depois de uma chuva possante, por exemplo, remunerar o link de entrada à internet… E o mais importante: a rede tem que produzir teor próprio, que valorize e fale com a comunidade lugar”, diz Potyra Aguiar, educadora e representante do PSP no Grupo de Trabalho sobre Redes Comunitárias da Anatel, criado no ano pretérito.
O objetivo do grupo é entender as necessidades das redes comunitárias espalhadas pelo Brasil, e ainda não quantificadas, e saber uma vez que o governo pode estribar, seja por meio de legislação específica, seja por recursos.
“Uma das ideias discutidas é usar secção dos recursos do Fust [Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações] para estribar as redes comunitárias”, diz Nilo Pasquali, superintendente de Planejamento e Regulamentação da Anatel.
O Fust é mantido pelas grandes operadoras de telecomunicações e soma tapume de R$ 1 bilhão, verba previsto para a expansão das redes, segundo Pasquali. “As redes comunitárias exigem poucos recursos, o uso do Fust e de outros fundos, uma vez que o FNDE, de instrução, está na tarifa de discussões”, diz.
Rede aumenta vendas e leva entretenimento a bairro rústico
Em Souzas, a manutenção da rede é de responsabilidade de Camargo e de Marcus Lisboa, um pizzaiolo e ajudante de pedreiro que ficou tão entusiasmado com a instalação do Portal Sem Porteiras no bairro que decidiu aprender sobre a tecnologia.
“Foi uma mudança e tanto! Antes a gente dependia de internet discada e, depois, de um pacote pré-pago no celular. Só dava para presenciar a uns minutos de filme e acabava a conexão”, diz Lisboa.
Quem quisesse mais tempo online precisava procurar o sinal de celular na rua, na escada da igreja. “Agora consigo presenciar a um filme inteirinho deitado na minha leito”, diz.
Já a tratante Stephany Godói, que tem uma mercearia e panificação com o marido no bairro, passou a admitir cartão e Pix. Suas vendas aumentaram 50%.
“Muito turista que passava por cá não tinha verba vivo, todo mundo perguntava de cartão e a gente não tinha uma vez que passar”, diz. “Mesmo o pessoal do bairro queria essa praticidade. Agora eles compram mais.”
A internet também trouxe algumas preocupações. Mãe de três meninas —de 4, 13 e 16 anos—, Stephany agora teme o tipo de teor a que as crianças têm entrada.
“Antes não existia celular. Agora é só celular e a gente tem que permanecer em cima, acompanhando o que elas assistem”, diz.
Nascida em Caraguatatuba, litoral paulista, Stephany chegou a Souzas em 2018. Participou de uma radionovela, uma iniciativa do Portal Sem Porteiras para aproximar as moradoras do bairro à tecnologia. Amou a experiência. “O pessoal daqui é muito próprio, eles te acolhem”, diz.
Mas o tema da radionovela, violência doméstica, não foi fácil de encarar. O matéria a fez reviver o pretérito: ela foi abusada pelo próprio pai aos 5 anos de idade, mesma situação vivida pelas duas irmãs mais velhas.
A mãe era alcoólico. Stephany saiu de morada aos 12 anos e teve a primeira filha aos 17. “Hoje eu consegui superar todo o traumatismo”, diz. “Mas tem muita malícia no mundo. Se pudesse, criaria minhas filhas em uma bolha.”