Renato Borghi Celebra Zé Celso E Lina Bo Bardi Em

Renato Borghi celebra Zé Celso e Lina Bo Bardi em peça – 10/11/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Subir no palco para encenar “Alegria É a Prova dos Nove” é para Renato Borghi, de 87 anos, um reencontro triplo, repleto de emoções. No espetáculo, ele revisita Oswald de Andrade, celebra José Celso Martinez Corrêa, um de seus grandes amores, e ocupa um teatro projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, com quem trabalhou ao longo da vida e considera genial.

A revista antropofágica, uma costura entre trechos da vida de Oswald e acontecimentos recentes, estreou na semana passada no Sesc Pompeia, com música, literatura, vídeo e artes visuais em uma montagem do Teatro Promíscuo, companhia de Borghi e do diretor Élcio Nogueira Seixas.

“Oswald de Andrade é a pessoa que mais verdadeiramente e dolorosamente falou do Brasil. Ele foi visceral”, afirma o ator. “Ele falou do brasiliano de uma forma que pouca gente conseguiu. O brasiliano da classe média, do pinguim na geladeira, com aspirações de poder, de querer alguma coisa.”

A diretora Johana Albuquerque propôs a leitura de toda a obra do plumitivo modernista porquê secção do processo da montagem teatral, o que levou o elenco a vários encontros literários no apartamento de Borghi, um espaçoso espaço nos Jardins, em São Paulo, habitado coletivamente por artistas ligados ao veterano.

Experimentos dos anos 1960 e 1970, porquê “Tropicália”, de Hélio Oiticica, e “Baba Antropofágica”, de Lygia Clark, além de criações cenográficas de Flávio Predomínio e Hélio Eichbauer, inspiram a visualidade da encenação.

Um dos disparadores para a geração foi o livro “O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo”, quotidiano coletivo da garçonnière do jovem Oswald de Andrade, no núcleo de São Paulo. O espaço de 42 metros, na rua Líbero Badaró, é considerado um dos berços do modernismo brasiliano por sediar encontros e debates com intelectuais e artistas na São Paulo de 1918.

O ator lembra em detalhes o primeiro contato com o responsável, na dez de 1960, e a revolução que isso causou em sua vida e no teatro brasiliano.

“Eu estava em vivenda, morava perto do Teatro Oficina. Estava chovendo. Pensei: vou ler alguma coisa. Na estante tinha um livro velho, com as páginas amareladas. Eu me encantei desde a primeira até a última página”, diz. Era “O Rei da Vela”, peça escrita três décadas antes e que Borghi levou para Zé Celso, dando origem a uma montagem visceral do grupo fundado pelos dois.

A versão de Abelardo 1°, personagem médio de “O Rei da Vela”, consagrou o ator e transformou Oswald de Andrade em ícone da tropicália. A peça foi remontada em 2017, com Zé Celso e Borghi no elenco, em mais uma lanço da relação de paixão, brigas e amizade que durou seis décadas.

Agora, ao revisitar um responsável tão importante para o Oficina, o ator pensa no velho camarada. “Ele foi um companheiro de vida. Nos conhecemos na Faculdade de Recta e sonhamos em fazer o Teatro Oficina. Foi uma proeza. Ninguém sabia da gente”.

Eles entraram juntos no idoso galpão da rua Jaceguai, no Bixiga, que seria transformado no lendário teatro. Com a ajuda de artistas porquê Etty Fraser, conseguiram numerário para a reforma por meio de assinaturas em um livro de ouro e da venda de cadeiras cativas.

“A coisa mais fantástica que a gente teve foi a parceria artística que nos levou a fazer coisas lindas no Oficina”, diz. Borghi e Zé Celso foram casados durante 14 anos e, posteriormente a separação, romperam também a sociedade no teatro por discordâncias cênicas.

Mas a combate não deu notório. Sentiram falta um do outro, ficaram amigos e conversavam pessoalmente ou por telefone até a morte do encenador, em julho do ano pretérito.

“Eu acho que o Zé Celso foi o maior diretor que esse país já teve. Já trabalhei com muita gente boa, mas com ele tinha um pouco mais”, diz.

Borghi já não estava mais no Oficina quando Lina Bo Bardi criou a estrutura atual, com projeto concluído em 1994, a partir de um concepção em que a rua invade o espaço cênico e vice-versa, embora tenha tido experiências profissionais com a arquiteta.

Em 1969, por exemplo, ela foi cenógrafa do espetáculo “Na Selva das Cidades”, de Bertolt Brecht, no Oficina. Se encontraram também no filme “Prata Palomares”, de 1971.

Na célebre montagem da peça de Brecht, Lina tirou a primeira secção da plateia e instalou um ringue de boxe no espaço, criado com madeira de construção para encenar a luta entre dois homens, com muita quebradeira.

Um ringue também aparece em “Alegria É a Prova dos Nove”, assim porquê a ode ao teatro coletivo e o olhar à cultura brasileira, características típicas do Oficina.

Um dos mais importantes atores do teatro brasiliano, Borghi nunca se afastou dos palcos e comemora o processo de geração da peça atual, que incluiu muitas leituras, conversas e ensaios.

“Minha vida é o teatro, senhoril isso. Quando era moçoilo, eu saía de trás das cortinas da minha vivenda e dizia poesias porquê se estivesse em um palco. Eu já gostava que batessem palmas. Acho que já era uma pessoa muito exibida.”

O artista, que segue lotando as plateias, afirma que sua curso é uma sarau, com recta a altos e baixos. Quando deixou o Oficina, por exemplo, ficou perdido e sem saber qual seria seu porvir artístico. Porém, logo foi chamado para a encenação de “Frank V”, de Friedrich Dürrenmatt, no Theatro São Pedro, ao lado da atriz Esther Góes, com quem era casado na era. Os dois tiveram um rebento, Ariel Borghi, também ator.

As quatro cirurgias que fez na pilar e uma operação no coração não impedem Borghi de sonhar em realizar apresentações para plateias diversas. Parar não está nos planos. Ele quer viajar com o novo espetáculo para capitais porquê o Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Porto Contente.

O artista conta com a parceria de uma leal escudeira, Perdão, que cuida do apartamento e dele —e chega a participar das encenações. Recebe também o base dos atores em cena para se movimentar. O espetáculo incorporou, de forma artística, a figura do ponto, profissional que “assopra” as falas eventualmente esquecidas.

Na estreia, Borghi encerrou “Alegria É a Prova dos Nove” celebrando a conquista do Parque do Bixiga, uma reivindicação de décadas de Zé Celso e sua trupe. Destacou a relevância de lutar e de fazer teatro. A sarau do ator continua.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *