Renato teixeira se junta a antonio adolfo em novo disco

Renato Teixeira se junta a Antonio Adolfo em novo disco – 17/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Já entrou para o folclore da MPB a maneira inusitada porquê a dupla Antonio Adolfo, 78, e Renato Teixeira, 79, começou há dois anos a parceria que deu origem a ‘Combinados” —álbum que traz dez faixas com composições da dupla cantadas por convidados. A “culpa” é de Raimundo Fagner.

O cantor cearense deveria enviar uma música de Antonio Adolfo para seu habitual parceiro Fausto Nilo colocar a letra. Acabou se atrapalhando com o envio do dedo e, sem querer, despachou a música para Renato Teixeira. Apesar da longa curso de ambos, Adolfo e Teixeira não se conheciam.

“Quando eu recebi a música e descobri o equívoco, liguei para o Antonio Adolfo para deixá-lo totalmente à vontade. E ele disse: ‘A gente pode aproveitar e fazer umas coisas juntos, né?’. E assim começou”, conta o responsável de “Romaria”. O trabalho foi inicialmente remoto. “A gente só se conheceu pessoalmente depois que a parceria já tinha umas cinco ou seis músicas. Fui ao Rio encontrá-lo”, revela Teixeira.

E a dupla fez um trabalho intenso nos últimos dois anos. Eles têm praticamente pronto um segundo álbum, faltando somente duas ou três músicas. “Fizemos quase 40 músicas nesses dois anos. Uma loucura! É que o Renato parece uma catadupa, da qual não para de transpor versos”, brinca Adolfo.

O pianista e compositor revela que encarou um repto nesse período. Ele nunca tinha feito música para uma letra já pronta. “Sempre escrevi música para alguém colocar a letra. O Renato tem uma facilidade incrível para grafar. Ficava mandando e eu tinha que percorrer com as músicas. Eu andei por novos caminhos nesse processo.”

Tanto material assim poderia indicar que Teixeira tem um baú em mansão com algumas letras esperando melodias, mas ele rebate. “Eu não tenho nenhuma letra guardada. Gravamos muitas porque escrevo com facilidade, pode vir a inspiração a qualquer hora, em qualquer lugar. Fiz uma letra na praia, em Fernando de Noronha, e mandei pelo celular para o Antonio, e ele também estava numa praia!”

A dupla explica o processo. Quando a música fica pronta, é enviada para o maestro Mauricio Novaes, que faz o reparo e passa para o piano. A partir daí a dupla escolhe quem convocar para trovar.

“Combinados” tem nomes porquê Zeca Baleiro (em dueto com Teixeira em “Catador de Rimas”), Elba Ramalho (“Cantadores Foliões”), Pedro Mariano (“Futuros Maiores”), Oswaldo Montenegro (“A Moradia da Minha Avó”, outro dueto com Teixeira) e as filhas de Adolfo, Carol Saboia (“Navega Navegante”) e Lu Saboia (“Saudade Sem Fundo”). E alguns foram escolhidos antes da geração da música.

“O Antonio Adolfo falou para mim; ‘Vamos fazer uma para a Alaíde Costa?’ Aí eu já fiz a letra pensando na vocábulo da Alaíde. E o Antonio também a conhece muito muito, fez uma melodia adequada. Tanto eu quanto o Antonio Adolfo temos entrada a grandes cantores brasileiros. Portanto a gente se dá ao luxo de fazer essas escolhas”, admite Teixeira

Segundo Adolfo, todos abraçaram o projeto. “Um ou outro teve problema de agenda, coisas assim. A Claudette Soares não conseguiu participar deste, mas já está com sua música pronta para o segundo disco.” Teixeira destaca que eles também fizeram uma música principalmente para ela. “E Claudette está cantando maravilhosamente muito.”

Sobre uma das faixas, Teixeira diz que depois de pronta a música praticamente exigiu seu tradutor. “Quando a gente fez ‘Caramelo’, o Antonio Adolfo falou: ‘Isso é Simoninha!’. A letra fala de cachorros, segundo Adolfo uma paixão do cantor. “Encaixou muito demais, porque ele adora cachorros. Fizemos uma live há pouco tempo, cantando essa, cercados de caramelos, de vira-latas.”

O pianista lembra que sua relação com Simoninha é antiga. “O pai dele gravou músicas minhas. Eu conheço o Simoninha desde que ele tinha meses de idade. E o disco tem também o rebento da Elis, o Pedro Mariano. E minhas filhas abrem e fecham o disco. Essa geração mais novidade está conosco.” Aí se encaixam também Anna Setton (“Esperando por Você”) e Roberta Campos (“O Tempo Cuidará de Tudo”).

A dupla acredita que o álbum contempla muitas faces da MPB. “Eu sempre me dei muito com parceiros, tocava com todo mundo” conta Adolfo, “Gravava com a Elis, depois com o Sidney Magal. Eu fui músico de estúdio, encarava todas as variações da MPB. Cada praia músico tem a sua verdade, a sua venustidade.”

Já fechando o segundo álbum e pensando em um show de piano e voz, a dupla segue em simetria. Teixeira elogia o parceiro. “Antonio Adolfo tem três escolas de música no Rio de Janeiro. Há décadas ensinando a tocar. Esse álbum retoma a MPB”.

“Combinados” é um lançamento da Kuarup, produtora, gravadora e editora que há quase cinco décadas mantém um catálogo que reúne MPB totalmente fora de modismos. Antonio Adolfo e Renato Teixeira fazem companhia a Fagner, Ney Matogrosso, Baden Powell, Elomar e Villa-Lobos, entre outros. Além dos discos, a Kuarup publica biografias de gigantes porquê Geraldo Vandré, Hermeto Pascoal e Taiguara, e produz séries para TV.

A trajetória do selo está reunida no livro “Tocando em Frente: A História da Produtora Kuarup ou Porquê Sobreviver na Economia Criativa no Brasil”, dos jornalistas Mario de Aratanha, Adriana Del Ré e Alcides Ferreira, oriente proprietário da Kuarup. O livro será lançado nesta quarta (16), na Livraria Travessa do Shopping Villa-Lobos, em São Paulo, às 19h.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *