A chuva voltou a inundar ruas inteiras em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, nessa quinta-feira (20). A inundação atingiu os bairros da Cidade Verdejante e Vila da Sossego, trazendo revolta e incerteza para os moradores do pequeno município de 40 milénio habitantes devastado pelas chuvas de maio. A prefeitura estima que 97% da superfície urbana e 80% da superfície totalidade do município ficou submersa na maior catástrofe ambiental da história gaúcha.
Em algumas das ruas de Eldorado ainda é provável ver, mais de 45 dias posteriormente a enchente, montanhas de entulhos, carros arrastados pelas águas abandonados no meio da rua e até casas inteiras de madeira que foram deslocadas com a força da correnteza.
Revoltada com essa situação, a dona de vivenda Inês da Silva, de 47 anos, tentava limpar a vivenda que voltou a ser invadida pela chuva. “No início da semana eu vim cá e fiquei feliz que a chuva não estava mais na frente da minha vivenda, mas agora começou de novo”, lamentou.
Dos 40 milénio moradores, mais de 30 milénio foram atingidos pela enchente do mês pretérito que, em alguns pontos, chegou ao primeiro andejar das casas. Posteriormente 28 dias com alagamentos, a população tentava limpar as residências para reiniciar a vida, mas novo aviso de alerta nessa quarta-feira (19) pediu para as famílias das áreas mais vulneráveis deixarem novamente suas casas.
Inês da Silva vive sozinha com três filhos, sendo a mais novidade de somente 6 anos. “Nosso psicológico está inseguro. Eu já não durmo de noite mais recta. Quando a gente quer repousar, a cabeça da gente vem com tudo. É nosso lar, né? É a única vivenda que a gente tem. Aí, quando a gente quer voltar para as nossas casas, acontece isso aí de novo”, desabafou.
A dona de vivenda disse que hoje vive de aluguel, mas que não pode remunerar por muito mais tempo. Ela lembrou que sua filha pegou pneumonia no abrigo e que chegou a passar inópia e sede nos primeiros dias posteriormente a enchente. Para ela, a saída deve ser uma indenização para os atingidos.
“Não somos obrigados a morar no lugar que eles querem. Ou faz esse dique [para segurar as enchentes] ou a gente vai embora daqui com a indenização. Queremos uma indenização para a gente escolher um lugar onde a gente ache digno de morar. Eles indenizam nós e acabam com essa cidade, porque a cidade, na verdade, já acabou, né?”, afirmou.
Eldorado do Sul ainda tem 5,4 milénio pessoas desalojadas e outras 557 em abrigos da cidade ou de municípios vizinhos.
O pescador artesanal Luiz Antônio Ceccon de Albuquerque, de 53 anos, está no principal abrigo da cidade com a esposa. Eles viviam no bairro da Picada, às margens do Rio Jacuí, uma das regiões mais vulneráveis às cheias. Ele contou que tinha voltado para sua residência há somente 15 dias depois das chuvas de maio, mas decidiu largar novamente a vivenda por pânico de a chuva subir demais.
“Conseguimos a doação de leito, de colchão e ficamos ali. O fogão estava funcionando. Ganhávamos a cesta básica e estávamos fazendo comida. Aí ontem surgiu esse alerta aí da Resguardo Social. É muito impactante. Eu vou ser muito sincero, eu já chorei várias vezes”, confessou.
Luiz espera poder voltar para sua vivenda e retomar a atividade de pesca. Ele defende que o Poder Público tem que olhar mais para a população pobre. “Acho que eles deveriam dar uma olhada para nós. Eu sei o que eles querem. Eles querem que a gente saia da ilhota, que a gente abandone as nossas casas”, destacou.
Horizonte de Eldorado
O sítio que Luiz vivia, às margens do Rio Jacuí, dificilmente terá condições de se manter depois da última enchente, segundo avalia o vice-prefeito de Eldorado do Sul, Ricardo Alves. A principal aposta da prefeitura para segurança dos moradores é a construção de um dique em volta do meio urbano da cidade, o que excluiria as comunidades das chamadas ilhas, no leito do Rio.
O projeto para construção do dique já existe há 12 anos, mas agora, com a enchente, o vice-prefeito acredita que ela deve trespassar do papel. “Uma vez que todas as grandes obras do país, infelizmente elas demoram em trespassar do papel. Só que agora ela ganhou, devido a essa notoriedade que deu ao Eldorado do Sul à nível vernáculo, parece que o projeto felizmente virou prioridade. Pena ter sido as duras penas da sociedade”, disse.
Segundo o vice-prefeito, a obra é estimada em R$ 460 milhões de recursos da União e gestão do governo do estado do Rio Grande do Sul (RS). Ricardo informou que falta somente o projeto de realização e que o governador Eduardo Leite (PSDB) prometeu realizar a licitação ainda esse ano.
“A gente não quer largar a cidade, a gente quer que ela continue crescendo, e a população continue apostando nela. Mas para isso, a gente precisa muito desse sistema de contenção de cheias”, disse, acrescentando que tapume de 1,5 milénio residências não vão mais poder permanecer onde estão.
Outras duas obras que a prefeitura aposta para evitar novas catástrofes é a elevação das rodovias que cortam a cidade, uma vez que elas retêm a chuva e contribuem para os alagamentos, e a dragagem dos rios que estão assoreados e não escoam porquê poderiam.
“Se pelo menos duas medidas dessas três medidas não forem executadas, Eldorado pode vir a suportar novamente no porvir e deixar uma incerteza sobre o que vai suceder com a cidade”, completou Ricardo.