Esta terça-feira (4) de carnaval é também o último dia de desfile das escolas de samba do Grupo Privativo do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. Mocidade Independente de Padre Miguel, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Grande Rio e Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela ocuparão a avenida a partir das 22h.
A primeira escola a desfilar será a Mocidade Independente de Padre Miguel, às 22h.
Neste ano, a escola de samba da zona oeste do Rio traz uma reflexão sobre o porvir da humanidade para o carnaval deste ano. Com o enredo Voltando para o Horizonte – Não Há Limites pra Sonhar, a junta será uma das poucas a abordar temas sem relação com a negritude ou a africanidade. Em 2025, a maior segmento das escolas levará para a avenida enredos ligados a esses temas.
“Levante ano, optamos por uma coisa mais tensa, com teor de alerta”, afirmou à Escritório Brasil o tradutor da junta, José Paulo Ferreira Sierra. A mensagem do samba, de concordância com ele, é direta.
“É de racontar um pouco a história de onde viemos e do quanto a tecnologia pode ser importante, mas também do quanto pode prejudicar. Acho que é um samba com uma grande mensagem. A escola entendeu muito isso e consegue transportar isso em forma de quina”.
A segunda escola será Paraíso do Tuiuti, que desfila em torno das 23h30.
Com o enredo Quem Tem Temor de Xica Manicongo?, a escola contará a vida de Xica, considerada a primeira travesti do Brasil, e seus percalços. Escravizada no Congo foi levada para Salvador, na Bahia, onde foi obrigada a se vestir com roupas identificadas uma vez que masculinas, foi perseguida por suas manifestações religiosas e não podia provar o seu pensamento. Mais do que racontar a história, a intenção do carnavalesco Jack Vasconcelos é mostrar o ser humano por trás da personagem.
“Essa personagem está trazendo uma oportunidade de falar da transcestralidade, da relevância. Fala-se muito da ancestralidade hoje em dia, dos fundamentos ancestrais de várias questões, inclusive raciais, mas estamos falando de uma figura que traz essa relevância, inclusive religiosa, da figura LBGBT e das pessoas trans na história do mundo”, explicou, Vasconcelos em entrevista para divulgação do enredo da Tuiuti.
A Grande Rio será a terceira a percorrer o Sambódromo, com desfile por volta da 0h50.
O samba-enredo Pororocas Parawaras: as Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós conta uma história que foi transmitida de geração a geração nos terreiros de tambor de Mina da Amazônia paraense. Tudo começa com a chegada de três princesas turcas à Amazônia, em procura de trato. A escolha do enredo ocorre justamente no ano da realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 30, no Pará.
“É importante para a gente pensar nas questões planetárias, isso passa pela valorização das comunidades tradicionais, dos saberes de matriz verbal e, no caso específico do nosso trabalho, meu e do Gabriel, é uma continuada. A gente felizmente vem conseguindo dar perpetuidade a um pensamento maior, a uma risca de raciocínio que vem se desdobrando nos enredos que sempre olham para diferentes territórios”, disse à Escritório Brasil o carnavalesco Leonardo Bora.
A Portela irá fechar o terceiro e último dia de desfile do Grupo Privativo. O desfile ocorre por volta das 2h10.
O enredo é Trovar Será Buscar o Caminho que Vai Dar no Sol, uma homenagem a Milton Promanação. E o que se espera é muita emoção no Sambódromo da Sapucaí. O enredo foi desenvolvido pelos carnavalescos Antônio Gonzaga e André Rodrigues, que desde o ano pretérito estão adiante da azul e branco. A intenção não é mostrar a vida do cantor e compositor, mas a relação do trabalho dele com a vida do seu público e fãs.
“O que a Portela vai mostrar também são essas relações pessoais, essas relações que envolvem a música do Mílton Promanação uma vez que trilha. Por isso que no desfile a cada lado que entrar será uma vez que se um grupo de pessoas estivesse cantando essas músicas. As nossas alegorias, por sua vez, serão os andores desse desfile, uma vez que se nós, fãs de Milton Promanação, tivéssemos produzido andores para poder levar em Três Pontas para poder homenageá-lo”, diz Rodrigues.
Desfiles e resultados
Neste ano, pela primeira vez, as apresentações das 12 agremiações da escol são divididas em três dias (domingo, segunda e terça-feira). Desde a inauguração do Sambódromo, em 1984, os desfiles eram feitos em duas noites (domingo e segunda-feira).
Cada escola tem de 70 a 80 minutos para concluir o desfile e será avaliada em nove quesitos: bateria; samba-enredo; simetria; evolução; enredo; alegorias e adereços; fantasias; percentagem de frente; e mestre-sala e porta-bandeira.
Serão quatro julgadores para cada quesito, que ficarão espalhados em quatro cabines de julgamento, ao longo da Marquês de Sapucaí. Eles poderão conceder notas de 9 a 10, sendo permitidas notas com fracos decimais (uma vez que 9,7 ou 9,4, por exemplo). A menor entre as quatro notas é descartada da nota final.
A lisura dos envelopes com as notas concedidas por cada julgador será feita na tarde de quarta-feira (5). A campeã e as outras seis mais muito colocadas se apresentam novamente no Sambódromo, no desfile das campeãs, na noite de sábado (8). A última colocada é rebaixada para o grupo de chegada (Série Ouro), em 2026.