Rita lee se despede da família em novo documentário

Rita Lee se despede da família em novo documentário – 07/05/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O músico Roberto de Roble segura as lágrimas enquanto lê um pedaço de papel no documentário “Rita Lee: Mania de Você”, que estreia nesta quinta (8). Três semanas antes de sua morte, em maio de 2023, a maior estrela do rock brasílico deixou uma epístola —revelada somente agora, no filme— em que se despede do marido e dos filhos de maneira emocionante, mas sem perder seu humor habitual.

“Quando ficou sabendo que estava com um problema de saúde, ela escreveu a epístola”, diz o viúvo, que deixou o papel recluso num mural na lar que dividia com Rita. “[O filme foi feito] já no momento em que ela não estava muito, não houve participação ativa dela. Mas ela sabia o que estava acontecendo e endossava que a gente continuasse gravando.”

Produzido pela Max, o documentário tomou outro rumo conforme o cancro no pulmão se agravava, diz o diretor Guido Goldberg. “Essa despedida da família, a forma porquê os filhos e o Roberto compartilharam esse momento de paixão e sensibilidade, transformou o filme num tributo muito mais íntimo do que qualquer coisa que a gente pudesse planejar.”

“Rita Lee: Mania de Você” mergulha na história da artista a partir da visão afetiva da família, incluindo imagens raras e inéditas dessa convívio, porquê um passeio na praia e a participação da cantora na vida escolar do fruto João. “Tive um projeto de escola quando eu tinha uns sete ou oito anos que era preparar um programa de TV. Tinha um conjunto de entrevistas em que ela era a convidada”, ele diz.

Além de marido e filhos —incluindo também Antônio e Beto—, o filme traz depoimentos de amigos ilustres, porquê Ney Matogrosso e Gilberto Gil, e de colaboradores musicais, porquê a guitarrista Lucinha Turnbull e o produtor Guto Perdão Mello. O jornalista Guilherme Samora, colega de Rita, faz um passeio pela discografia da cantora.

Mas entre os elogios, o documentário trata também de desavenças. Guitarrista do Tutti Frutti, filarmónica que acompanhou Rita Lee nos anos 1970, Luiz Carlini dá sua versão da separação entre grupo e cantora. “Ele é visto por alguns porquê um elemento antagônico no trajectória da Rita”, diz Roberto de Roble. “Ele dá o prova dele, e mostramos que apesar do antagonismo que existiu durante uma determinada período, houve também coisas boas feitas com ele.”

Não é o que acontece em relação aos Mutantes. Vista com evidente desdém em suas autobiografias, a filarmónica que revelou Rita Lee nos anos 1960, no caldo da tropicália, fica praticamente ausente no filme.

“O que a Rita tinha para manifestar a reverência de Mutantes, ela escreveu nos livros. Portanto não tem a ver com o que ela estava pensando”, afirma Roberto. “Isso se deve ao traje de que o [guitarrista e, hoje, líder da banda] Sérgio Dias não autorizou o uso da imagem dele e das músicas nas quais ele é parceiro no documentário. Aliás, não é nem que ele não autorizou, ele sequer respondeu ao pedido de autorização.”

No documentário, a história artística de Rita é traçada em paralelo a sua trajetória pessoal —de porquê ela virou a “ovelha negra” na relação com os pais na puerícia, passando pela dedicação porquê mãe e até os períodos de depressão. Não só as pessoas ao volta dela, mas a própria Rita surge relembrando os episódios, em trechos de entrevistas dadas por ela ao longo dos anos.

O romance com Roberto, uma relação que transbordou para a música, é narrado em detalhes. O parelha conta porquê compôs “Mania de Você” num momento florescente de paixão e originalidade músico, que rendeu diversos álbuns a partir do término dos anos 1970 e ao longo da dez seguinte. “Sempre ouvi dela que era a segmento da vida dela —de compositora, artista e cantora— de que ela mais gostava, que ela mais prezava, onde ela foi mais ela mesma”, diz o viúvo.

Por outro lado, o filme mostra porquê ela não gostava do álbum “Entradas e Bandeiras”, seu último acompanhada pelo Tutti Frutti, de 1976, com exceção da música “Coisas da Vida”. Também conta porquê Gil tirou Rita de um buraco psicológico, em seguida a prisão de ambos por porte de maconha, com a turnê conjunta “Refestança”, de 1977.

O incidente na masmorra, aliás, é tratado porquê uma perseguição da ditadura militar a Rita Lee, já que o regime teria plantado a droga porquê pretexto para encarcerá-la —pejada na idade, ela afirma que, porquê boa hippie, não teria usado zero durante a gravidez. Fica palpável o sentimento de tristeza da artista conforme ela se desculpa com o marido numa troca de cartas, direto da masmorra.

O documentário defende que a cantora teria sido retaliada por contrariar a versão da polícia sobre a morte de um fã num show dela, e fez isso a pedido da mãe do rapaz. Ou por outra, Rita já tinha atritos com a ditadura por ser uma das compositoras com mais canções censuradas pelo regime —vários desses documentos são mostrados no longa.

As batalhas da cantora no campo dos costumes, sempre contra a caretice, ganha destaque nas falas de Ney Matogrosso, mas mormente no tratamento da relação dela com as drogas. Porquê afirma em entrevista resgatada pelo filme, Rita fez suas melhores e piores músicas sob o efeito de alguma dessas substâncias, que foram combustível da originalidade e do delírio na mesma medida.

“A gente vem de uma geração hippie, em que as drogas eram usadas para expandir a consciência, ter inspiração, saber um nível mais ressaltado de percepção do mundo invisível que se sobrepunha sobre todos nós. Era uma experiência muito mais mística do que de loucura”, diz Roberto.

Mas, ele acrescenta, “o limite entre misticismo e loucura é uma risco tênue”. “Eventualmente, você transgride essa fronteira. E isso aconteceu muitas vezes, porquê sendo uma situação difícil de ser administrada, porque você está justamente na fronteira. Portanto, incorreu-se muitas vezes em loucura. E também, muitas vezes, em expansão de consciência. Essas duas —ou 2.000— coisas aconteceram.”

Folha

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