Rock In Rio Faz We Are The World Do Brasil

Rock in Rio faz We Are the World do Brasil com 60 artistas – 29/04/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Parecia uma confraternização de Réveillon fora de era no anfiteatro da Cidade das Artes, que foi tomada na tarde desta segunda-feira por zero menos do que 60 artistas, do heavy metal ao sertanejo, para gravar uma música e um videoclipe que pregam a união perante a polarização, notadamente política, que divide o Brasil.

Aos moldes de “We Are the World”, gravada em 1985 nos Estados Unidos para receber doações contra a miséria na África, a iniciativa é de Roberto Medina, o fundador do Rock in Rio, que neste ano celebra quatro décadas. O empresário teve a teoria ao presenciar ao documentário “A Noite que Mudou o Pop”, que entrou em janeiro no catálogo da Netflix, sobre a iniciativa do U.S.A. for Africa.

A formação, assinada por Lionel Richie e Michael Jackson no exterior, no Brasil ficou a função de Zé Ricardo, vice-presidente artístico do Rock in Rio e do The Town. Ele conta que teve tapume de três meses para grafar a letra e convocar os artistas, que vão doar seus cachês às ONGs Ação da Cidadania, que já vai receber a doação de 1,5 milhão de pratos de comida, e Gerando Falcões, responsável pelo atendimento de 250 famílias em situação de vulnerabilidade social pelo país.

Participam do projeto nomes do rock pátrio, porquê Dinho Ouro Preto, do axé, caso de Ivete Sangalo, do pop, representado por figuras porquê Ludmilla, do pagode, na voz de artistas porquê Xande de Pilares, e do funk, que tem MC Livinho. Há ainda os rappers porquê Marcelo D2, os DJs porquê Pedro Sampaio e sertanejos, dos mais tradicionais, caso de Chitãozinho e Xororó, às novidades, porquê Ana Castela. A MPB também tem seu espaço com nomes porquê Ivan Lins e Roberto Menescal.

“Deixa o coração falar/ não temos tempo a perder/ a vida é convencionar e errar/ eu não quero permanecer longe de você”, diz o refrão chiclete da música, chamada “Deixe o Cora Falar”, que terá seu clipe lançado na próxima semana.

Uma secção desse elenco, somada a alguns outros nomes, vão inventar o line-up do penúltimo dia do próximo Rock in Rio, o sábado de 21 de setembro, chamado “Dia Brasil”, quando pela primeira vez o festival terá uma data dedicada somente a shows de brasileiros.

As apresentações, com duração de tapume de uma hora e meia cada uma e espalhadas por todos os palcos, serão divididas por gênero. Cada artista deve trovar uma seleção de três a cinco músicas escolhidas do melhor de seu repertório.

“A coisa que mais falta no mundo hoje é a escuta. As pessoas se julgam antes mesmo de terminarem de falar, logo a música trata de reconciliação. Espero que seja uma ponte para que as pessoas deem o primeiro passo para reencetar as conversas”, diz Zé Ricardo. “Mas é importante que entendam que não é uma campanha política.”

A preocupação é legítima. Às vésperas das eleições passadas, os palcos viraram ringues políticos, com festivais atravessados por manifestações intensas, inclusive o último Rock in Rio, que ocorreu um mês antes do pleito que levou Lula de volta ao Alvorada em roteiro para Jair Bolsonaro.

Era nítida a subdivisão, que às vezes levava não só o público, mas alguns artistas a atacarem os outros —enquanto a maioria dos sertanejos se posicionaram em prol de Bolsonaro, em rodeios e festas do peão, onde criticavam a Lei Rouanet, os artistas da MPB e do pop declaram escora a Lula, fazendo o “L”.

É também pensando nisso que o curador esclarece a privação no projeto de alguns nomes incontornáveis para a música brasileira, porquê Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Promanação.

“Recebi muitos telefonemas e mensagens emocionadas de artistas que escutaram a música, dizendo que queriam participar, mas tinham qualquer compromisso que impedia. Gil mesmo foi supercarinhoso, mas não podia. Caetano e [Maria] Bethânia estão ensaiando para uma turnê, logo nem sempre é provável reunir todo mundo”, diz Zé Ricardo.

Vice-presidente da Rock World, a empresa por trás do Rock in Rio e do The Town, Roberta Medina faz coro ao colega e diz confiar que, na Cidade do Rock, as discordâncias não importam. “Lá as pessoas se respeitam. Foi assim sempre. O Brasil estava saindo da ditadura militar na primeira edição, em 1985, e foi provado que ali toda diferença podia conviver junta.”

A executiva descarta a teoria de que a iniciativa seja uma resposta a artistas, porquê Anitta e Rita Lee, que criticaram o festival ao longo de sua história, sob a criminação de dar pouco espaço a talentos nacionais. Ela afirma que os equipamentos e as demais condições técnicas oferecidas a todos são as mesmas, independentemente de sua nacionalidade ou de seu gênero músico.

A venda de ingressos do Rock in Rio começa em tapume de um mês, no dia 23 de maio, às 19h. Para além dos artistas nacionais, haverá também nomes de peso do cenário músico estrangeiro, porquê Ed Sheeran, Travis Scott, Imagine Dragons, Katy Perry, Shawn Mendes e Mariah Carey. Do cenário pátrio, haverá ainda o retorno da filarmónica Penélope e nomes porquê Belo e Pato Fu.

As apresentações do festival estão marcadas para dois fins de semana de setembro, os dias 13, 14 e 15 e 19, 20, 21 e 22, na Cidade do Rock, na zona oeste do Rio de Janeiro.

O jornalista viajou a invitação do Rock in Rio

Folha

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