Quem estiver na Cidade do Rock no domingo, 15 de setembro, o terceiro dia do Rock in Rio 2024, vai testemunhar uma troca de haste entre gerações do heavy metal. Depois os veteranos setentões do Deep Purple fecharem a programação do palco Sunset, para uma plateia menor, o Avenged Sevenfold subirá ao palco Mundo uma vez que a maior atração pesada do evento.
A filarmónica californiana, formada há 25 anos, estará em seu segundo Rock in Rio. O quinteto se apresentou na edição de 2013. Na verdade, o Avenged Sevenfold começou a visitar o Brasil em 2008, quando tocou em São Paulo. Até 2014, foram 13 shows no país.
Depois de uma dez, o público leal do grupo poderá ver no palco o baterista Brooks Wackerman, que entrou para a trupe em 2015. A bateria tem sido o ponto de mudança na formação do Avenged Sevenfold. O primeiro na função, Jimmy “The Rev” Sullivan, morreu de overdose há 15 anos. Seu substituto foi Arin Ilejay, que aparentemente nunca se enturmou com os colegas de filarmónica, saindo para a vinda de Wackerman.
O “núcleo duro” do grupo é constituído pelo vocalista M. Shadows e os guitarristas Zacky Vengeance e Synyster Gates. Os pseudônimos adotados dão o tom de um deboche metal —em português seriam “M. Sombras”, “Zacarias Vingança” e “Portões Sinistros”. E isso de talvez recrear com o protocolo das bandas de metal está também na “mascote” do grupo, uma caveira com asas de morcego. Chamado Deathbat, é um primo do Eddie, do Iron Maiden.
Avenged Sevenfold, que pode ser traduzido em português para “vingado sete vezes”, é uma referência à Bíblia. Caim é exilado depois de matar seu irmão, Abel. Deus determina que ninguém o pode matar. Quem fizer isso será penalizado sete vezes, e assim Caim seria “vingado sete vezes”.
Apesar de todo esse pacote de formato de filarmónica pesada, com pseudônimos e monstrinho de estimação, no início o Avenged Sevenfold não era um exemplo do puro metal. Seus integrantes tinham passados variados. O baterista The Rev era entusiasta de ska, tocando em algumas bandas.
Os dois primeiros álbuns, “Sounding the Seventh Trumpet”, de 2001, e “Waking the Fallen”, de 2003, eram de metalcore, esse gênero híbrido de metal extremo com punk hardcore. Foi com o terceiro lançamento, “City of Evil”, em 2005, que veio a guinada para um metal menos gritado, quase hard rock.
Mas até os fãs mais radicais desistiram de procurar um perfil mais “sólido” no grupo, porque o disco seguinte, “Avenged Sevenfold”, de 2007, bagunçou a percepção de todos, com uma balada quase country, “Dear God”, e uma enigmática música com orquestra de cordas, “A Little Piece of Heaven”.
O álbum seguinte, “Nightmare”, veio em 2010 com um clima sombrio, melancólico. A gravação do disco foi totalmente influenciada pela morte do baterista no ano anterior.
Nesse trabalho, o grupo deu a sensação de ter deixado as constantes inovações sonoras de lado, para fazer um disco que foi uma densa terapia para todos. Uma filete somente causou mais estranheza, “Save Me”, com 11 minutos de duração e um flerte com o metal progressivo.
Para o sexto álbum, “Heil to the King”, de 2013, a surpresa foi não ter surpresa. O disco, um dos melhores e mais famosos do grupo, é um álbum de heavy metal clássico. Expandiu a base de fãs para muitos que torciam o nariz para as invencionices da filarmónica.
Mas o Avenged Sevenfold não abriu mão das mudanças. “The Stage”, de 2016, veio com doses maiores de progressivo, dessa vez misturadas com guitarras de thrash metal. Depois esse disco, a filarmónica passou por seu mais longo período sem gravar. Além de discussões internas sobre o rumo do trabalho, é preciso aumentar os problemas trazidos pela pandemia. O jejum só foi quebrado no ano pretérito, com “Life Is But a Dream…”.
E, ao que parece, a ordem é mesmo se olvidar de pedir congruência ao quinteto californiano. Seu disco mais recente é caótico, com músicas de riffs rápidos ao lado de metal progressivo e outros momentos difíceis de qualificar. Nas letras, M. Shadows revelou inspiração no existencialismo do noticiarista galicismo Albert Camus.
A sátira, talvez cansada de tentar entender o som da filarmónica, apelou para um rótulo de “metal de vanguarda”, seja lá o que for. Quanto ao público, talvez os sete anos sem novos álbuns tenham contribuído para resfriar o excitação dos fãs, porque o resultado mercantil do disco é muito fraco.
Diante de tantas mudanças em seu som, é difícil prever o que o Avenged Sevenfold trará dessa vez. Por outro lado, talvez essa curiosidade seja o principal atrativo do show.