Rock In Rio Tenta Se Renovar Com 'playlistização' E Brasil

Rock in Rio tenta se renovar com ‘playlistização’ e Brasil – 23/09/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

No ano em que comemora quatro décadas de história, o Rock in Rio chegou ao termo de sua décima edição, neste domingo, 22, com uma desenlace —a de que perdeu a capacidade de ser, no Brasil, uma vitrine do que há de mais importante na música popular ao volta do mundo.

Se em 1985 trouxe uma modelo relevante do que havia de mais quente na música gringa, hoje virou ponto de encontro das melhores atrações de uma dezena detrás. Não é exatamente uma boa notícia, mas pode dar pistas ao festival de uma vez que prometer sua longevidade.

Esta edição teve entre os headliners Katy Perry, Shawn Mendes, Imagine Dragons e Ed Sheeran, nenhum deles em seu auge. Em 2024, o Rock in Rio só foi capaz de tomar o espírito do tempo em seus shows principais com o trapper Travis Scott —não à toa um dos melhores do evento.

É uma capacidade que vem diminuindo com o tempo. Há dois anos, o festival trouxe uma Dua Lipa em uma das turnês mais faladas do mundo na era, e um Justin Bieber com o cachê mais cimeira da história do Rock in Rio. A primeira prateleira do pop —gente uma vez que Taylor Swift, The Weeknd e Harry Styles— prefere tocar sozinha, em estádios, com domínio sobre produção, estrutura cênica e bilheteria.

São reflexos também das mudanças no consumo e comercialização da música, o que afeta diretamente o Rock in Rio. Quando o festival foi criado, praticamente qualquer show internacional já chegava no Brasil sobrecarregado de urgência e ineditismo de uma era pré-redes sociais.

Diante desse cenário, o Rock in Rio tenta se virar. Uma das apostas de renovação foi o “Dia Brasil”, no sábado, 21, o único dos sete dias a não ter os ingressos esgotados. A programação aglomerou grandes nomes da música pátrio em shows bagunçados e estendeu para todo o festival a proposta de encontros que é tradicional do palco Sunset.

Foi uma espécie de playlistização das apresentações —toca-se o que é mais espargido, corta-se o que não tem tanto apelo, criando uma fragmentação máxima.

Quando é muito ensaiado, pode dar visível. O samba atraiu uma plebe por ter sido, na prática, um show de Zeca Pagodinho e convidados. O rap teve momentos interessantes de interação entre cantores, assim uma vez que o pop.

Mas em maioria esse amontoado de artistas pareceu uma zona. Os shows de trap, MPB e rock foram truncados, com pausas que cortaram a fluidez das performances, fora o desencontro de cantores com bandas que não eram as suas. Não à toa os problemas técnicos protagonizaram o dia e todos os shows atrasaram mais de uma hora.

Ainda assim, a prioridade na música pátrio mostrou caminhos possíveis. Para quem é daqui, o chamado para tocar no Rock in Rio é tratado uma vez que uma convocação para a Seleção Brasileira. Se tornar a maior vitrine da produção do país não é pouca coisa, e é um trunfo que —se muito aproveitado— pode render bons frutos ao evento e aos artistas.

Outra aposta que se provou acertada foi o “Dia Delas”, na sexta-feira, 20, que beirou o tokenismo ao prometer escalar somente artistas mulheres, mas incluir em palcos menores três shows comandados por homens, com elas somente uma vez que convidadas —uma espécie de inclusão de frontispício.

Apesar do deslize, a obrigação de uma curadoria com recorte pareceu tirar os produtores da zona de conforto que impera há anos no festival. Bandas lideradas por homens que costumam se repetir nas edições deram lugar a apresentações vigorosas de mulheres consagradas uma vez que Cyndi Lauper e boas novidades uma vez que a colombiana Karol G.

Do lado brasílio, Ivete Sangalo manteve sua tradição de shows certeiros, criando o momento mais marcante do festival ao voar sobre a plateia enquanto cantava. A escalação feminina se refletiu no público, mais diverso e responsivo que o usual com a renovação dos ares.

O mesmo aconteceu no dia não solene do trap, que baixou drasticamente a idade média do evento reunindo atrações com capacidade de compelir multidões, uma vez que Matuê, Orochi e Cabelinho, e traduziu um dos movimentos musicais mais populares do país —e do Rio de Janeiro— no momento.

A aguardada estreia do sertanejo também foi marcante, mais pelo diagnóstico do poder que artistas do gênero têm do que pelo show em si. Tocada por Chitãozinho e Xororó, a apresentação sofreu com o cancelamento de última hora da presença de Luan Santana.

As participações de Simone Mendes e Ana Castela em hits delas e da dupla foram os momentos mais celebrados do show —ainda que breves, já que elas deixaram o festival às pressas para satisfazer suas agendas em outras cidades.

Foi o bastante para substanciar a teoria de que a introdução para ritmos populares brasileiros, uma vez que o sertanejo, o samba, o trap e o funk, é um filão que demorou a ser explorado.

O sertanejo e o samba, em peculiar, provaram que as atrações do Rock in Rio não precisam necessariamente ser recentes para serem atuais. Qualquer novidade, mesmo uma dupla sertaneja criada antes de o festival nascer, serve para oxigenar o evento e torná-lo mais interessante.

Com tudo isso, o Rock in Rio segue sendo um evento sustentado mais pela marca do que pelo lineup, o que sem dúvidas impacta em seu formato. Há dias, uma vez que os encabeçados por Imagine Dragons e Ed Sheeran, que o Parque Olímpico vira um shopping em que a música é projecto de fundo para estandes publicitários e atrações de parque de diversões, frequentado por gente que tem interesse mínimo nos palcos e que conversa durante os shows.

O Rock in Rio vira uma opção desejada de passeio também pela boa experiência em termos de estrutura. Quase não há filas, os banheiros são bons e a qualidade dos serviços se sobressai em relação a qualquer outro grande evento feito no Brasil.

Essa força da marca gera ainda um apelo curioso ao gênero que batiza o festival. Com shows prestigiados de Avenged Sevenfold, Evanescence e Deep Purple, o dia devotado ao rock mostrou que, apesar de ter espaço para renovação e variedade, as pessoas ainda buscam o estilo neste envolvente. Mesmo em plena madrugada e num show zoneado, a plateia participativa do show do rock do “Dia Brasil” foi a maior prova disso.

Entre as lições para oriente Rock in Rio em transformação, não há dúvidas de que a música brasileira pode ter mais espaço e prestígio, mas isso só vale se ela for melhor tratada. Não é só juntando nomes famosos que se faz um bom show, nem dando um banho de orquestra em ritmos tradicionais brasileiros uma vez que o sertanejo e o funk.

Se em 40 anos o Rock in Rio conseguiu estabelecer uma marca tão sólida, ao ponto de não depender da escalação músico para seguir reinando, certamente há ainda mais espaço para se aventurar na curadoria. Mais do que nunca, um horizonte que não perda de vista a tradição da qual o festival tanto se orgulha parece mais fácil de se enxergar.

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Folha

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