A glória e o efêmero na história de Aquiles, a embriaguez evocada por Dionísio e a mística do Oráculo de Delfos serão alguns dos temas da Grécia antiga explorados na segunda temporada do podcast “Modo Helênico”, criado, desenvolvido e apresentado pelo ator Rodrigo Lopéz.
Com estreia marcada para as 14h deste sábado (19), na Rádio Cultura FM, a produção terá oito episódios semanais que também serão disponibilizados no Spotify, assim uma vez que ocorreu com sua primeira temporada.
A teoria de fazer um podcast, ele explica, surgiu a partir da avaliação de que o tema é comumente tratado uma vez que uma coisa difícil e espinhosa —ou, num outro extremo, de forma superficial e genérica.
“É uma coisa que ou você vai para o mundo acadêmico, onde há um rigor e se estuda a sério, mas, com todo o reverência, não comunica e é liso pra caramba, ou você vai para a internet, e aí seja o que Deus quiser”, diz. “Sendo ator e tendo estudado muito, senti que eu poderia gerar um bom ducto.”
Por meio do roteiro, da trilha sonora e da apresentação, “Modo Helênico” se propõe a ser um bordado que costura mitos e histórias clássicas que formaram mundo ocidental, indo do teatro à democracia.
O podcast-espetáculo traz desde a leitura trechos de livros gregos a passagens de autores que se inspiraram ou se debruçaram sobre a cultura helênica, uma vez que Fernando Pessoa e Virginia Woolf.
“O que eu tento mostrar é que transformaram a Grécia num lugar de fábula e de mito. Parece até personagem da Marvel, que tudo é uma historinha, e não é. As coisas são de verdade. O sagrado é vivido de forma real, cotidiana, e é disso o que vou falar ao longo desses novos episódios”, afirma.
O fascínio de Rodrigo pela cultura grega antiga data de seus 20 e poucos anos da idade, quando começou a cursar a Escola de Arte Dramática da USP (Universidade de São Paulo) e foi apresentado ao teatro helênico.
Tempos depois, convidado por um meio cultural para compartilhar o que sabia com outros atores, acabou despertando o interesse de outras pessoas. Em 2017, ministrou seu primeiro curso sobre Grécia antiga na Vivenda do Saber.
Rodrigo já pisou em solo helênico sete vezes. “Fui para a Grécia pela primeira vez de famoso”, brinca, ao falar sobre uma vez que conheceu o país europeu. O ano era 2008, e o ator fazia sua estreia em novelas com “Formosura Pura” (Mundo), folhetim em que interpretou o personagem Betão.
O núcleo de que fazia secção, integrado por artistas uma vez que Zezé Polessa e Isis Valverde, fez sucesso, e Rodrigo recebeu um invitação da revista Quem para embarcar em um cruzeiro com tramontana às ilhas gregas para um tentativa de fotos. A frota também incluiu os atores Ingrid Guimarães e Antonio Calloni.
“Acabei virando uma espécie de guia turístico”, relembra Rodrigo. “O Calloni brincava: ‘Qualquer merda que você disser, eu acredito'”, conta, rindo.
Calloni não foi o único a ter a sorte de ser guiado por Rodrigo. No início deste ano, em uma viagem a Londres, o fundador de “Modo Helênico” foi escoltado de seu camarada e também ator Humberto Carrão ao Museu Britânico. Antes, alertou: não se tratava de uma visitante turística, mas de trabalho. Carrão topou.
“Eu quis passar um pente-fino no museu, e a gente foi duas vezes. Ficamos mais de sete horas só vendo os gregos. E o Humberto é tão maravilhoso, tão meu companheiro, que ele estava do lado”, conta.
Além do lançamento da novidade temporada de “Modo Helênico”, o ator se prepara para estrear em novembro a Ópera María de Buenos Aires, de Astor Piazzolla, no Theatro Municipal de São Paulo. Em 2021, o espetáculo se notabilizou por levar prostitutas e travestis ao palco do Municipal.
“Eu sou o poeta que chega e conjura o nome dela [María]. Eu chamo o espírito da noite. Será um solilóquio imenso em espanhol”, antecipa ele, que terá um papel de solista na ópera.
Ainda sobre “Modo Helênico”, Rodrigo diz que, apesar de buscar um meio-termo entre o academicismo e superficialidade dos conteúdos virais da internet, o podcast não foi feito para ser ouvido de forma distraída.
“As pessoas querem que você fale desse objecto, mas que seja gostosinho, rápido e esponjoso. Eu estou propondo o contrário: sossega, senta e escuta”, afirma.
“A gente caiu nessa coisa de rede social em que vê 160 coisas por dia, de receita a varão pelado e cadeirada, mas zero fica, zero se retém. A gente não faz mais silêncio. Ninguém mais para, ouve, lê e contempla —o mundo não deixa, parece que a gente está sempre perdendo um pouco.”
Rodrigo afirma que saber mais sobre os gregos mudou muita coisa em sua vida, e diz que alguns do mitos, uma vez que o do promanação de Afrodite, renderiam semanas de conversa com seu exegeta.
“Estudar os gregos não só ajudou nesse sentido de ‘psicoanalisar-me’, mas de ver mais perdão e mais venustidade na vida, nas relações, de valorizar o que precisa ser valorizado. O mito existe para provocar, não para ser primórdio, meio e termo, com uma moral da história edificante. Ele é um susto que você toma e que mexe no teu lugar mais profundo”, diz.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH