Rômulo fróes faz show pelos 20 anos de seu disco

Rômulo Fróes faz show pelos 20 anos de seu disco ‘Calado’ – 04/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Romulo Fróes conta que seus amigos têm uma piada interna para se referir às suas ideias musicais fora do padrão: “é artes plásticas, né?”. Mais do que uma gracejo sobre sua formação em Belas Artes, a piada revela um pouco do processo criativo que está na origem de sua curso.

“Embatucado” —álbum de estreia do artista que plantou as bases de sua estética, lançado há 20 anos e lembrado neste sábado em show no Sesc Mansão Verdejante— nasce exatamente no envolvente e de um pensamento característico das artes plásticas.

“Eu era assistente do [artista plástico] Nuno Ramos há qualquer tempo”, lembra Romulo. “Até musiquei um texto dele, que fazia secção de uma instalação. Mas ele não me dava muita globo. Quando eu vou trabalhar no cinema, eu conheço o [artista plástico e cineasta] Clima, que propõe que a gente faça uma música juntos. Fizemos. O Nuno ouviu, gostou e me pediu uma melodia pra ele botar letra. Essa é a gênese do rolê: eu mandando músicas pro Clima e pro Nuno fazerem letra”.

Juntos, eles compuseram um punhado de sambas tristes, inspirados em compositores porquê Nelson Cavaquinho, Cartola e Batatinha. Mas o que se ouve em “Embatucado” guarda diferenças fundamentais para a sonoridade clássica das gravações desses mestres.

“Gravamos ‘Embatucado’ no mesmo estúdio onde eu havia feito um dos discos da minha orquestra Losango Cáqui”, conta Romulo. “Era um estúdio de dois caras que nunca tinham gravado um tamborim, um surdo. E, porquê eu era das artes plásticas, não tinha uma turma músico. A gente ia no bar do Cidão, onde tocavam os caras do pranto, para buscar músicos pro disco. Ali conheci Zé Fígaro [violão 7 cordas], Ruy Weber [violão], Stanley Roble [clarineta]…”, diz ele.

“A gente queria inventar uma voga. O Clima compôs uma música, ‘Agosto’, que basicamente se resume a uma cuíca imitando um cachorro. A gente pedia pro [percussionista] Pimpa imitar um cachorro na cuíca, e ele achando aquilo esquisitíssimo. Mas depois entrou na vaga. É um procedimento quase porquê o de uma elaboração de música erudita contemporânea”. A tal das “artes plásticas”, enfim.

“Embatucado” tem vários momentos porquê esse, de estranheza e provocação. Em “Suíte”, por exemplo, o contrabaixista Zé Weber, tocando com um círculo, teve dificuldade de encontrar o tom. Quando ele enfim conseguiu encaixar o instrumento, Romulo e Clima, que assinam juntos a produção do disco, já tinham deliberado que iam usar exatamente os takes “errados”.

“A música fala sobre isso, um sujeito todo fodido, todo torto”, diz Romulo. “E a gente: ‘É isso, vamos botar os baixos desafinados’. Logo esse comportamento não usual, de invenção, eu carrego até hoje comigo”. Ele nota que, nessa procura, se afina com os colegas da turma que ele encontraria depois e que ficou conhecida porquê Clube da Encruza, formada por músicos porquê Rodrigo Campo, Thiago França, Juçara Marçal, Marcelo Cabral e Kiko Dinucci.

“Vejo agora, 20 anos depois, o Rodrigo produzir o disco da Eliana Pittman do jeito que fez, e reconheço ali exatamente o que a gente estava buscando”, aponta Romulo. “Só que a gente buscava isso sem a menor experiência. O Rodrigo faz isso com conhecimento de culpa. Ele poderia fazer um disco de samba canônico, mas escolhe fazer o que fez. Isso era o que a gente perseguia desde o prelúdios”.

“Embatucado” era um corpo estranho no cenário da MPB naquele início dos anos 2000. Lançado por um selo da Bizarre, loja que era um templo indie e onde Romulo trabalhava, ele trazia sambas numa idade em que a cena indie de São Paulo não se interessava principalmente pelo gênero.

“E era um disco de samba mas com uns negócios meio errados, meio fora do tom, com uma cantora logo sexagenária, Dona Inah, com uma voz vinda lá não sei de onde, de outro tempo”, descreve o compositor.

“Chamaram de ‘samba indie’, disseram que eu era ‘sambista de agasalho Adidas’. Porque eu não me vestia porquê a turma do samba. Mas o disco também não era tropicalista. Eu não estava misturando Nelson Cavaquinho com The Cure, apesar de ambos estarem ali. Ele acaba puxando um veio dissemelhante de Firmamento, de +2, de Lucas Santtana, só pra reportar artistas que adoro. Enquanto música, ele é muito dissemelhante”.

No palco do Sesc Mansão Verdejante, o único remanescente dos músicos que tocaram em “Embatucado” é o percussionista Pimpa. A orquestra se completa com Marcelo Cabral, Rodrigo Campos e Thiago França.

“O Thiago dá conta de todos os sopros. O Cabral faz, além do ordinário, percussões. O Rodrigo também toca percussão, além do violão”, lista Romulo. “Logo, ele está razoavelmente próximo da sonoridade acústica do disco. O fã metaleiro do ‘Embatucado’ não vai se decepcionar. A aura acústica dele, aqueles andamentos lentos, aquela tristeza, aquela melancolia… Tudo isso está muito presente no show”.

Folha

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