Rótulos Sobre gangstalking Podem Agravar Problema, Diz pesquisadora

Rótulos sobre gangstalking podem agravar problema, diz pesquisadora

Brasil

Brasília (DF), 07.08.2024 - Arte de gráfico para a matéria Alerta de gatilho. Arte/Agência Brasil

 

Ao longo da última dezena, um fenômeno multíplice e duvidoso ganhou espaço no envolvente do dedo quase que imperceptivelmente. Em diferentes países, pessoas que se denominam indivíduos-alvo (ou target individual) passaram a se reunir em grupos e fóruns digitais onde denunciam a ação orquestrada de pessoas e organizações para desacreditá-las, prejudicá-las e, no limite, levá-las à morte.

Brasília (DF) 06/08/2024 - Psicoterapeuta e assistente social Liz Johnston, professora da Universidade Politécnica da Califórnia. 
Foto: Gina N. Cinardo/Divulgação
Brasília (DF) 06/08/2024 - Psicoterapeuta e assistente social Liz Johnston, professora da Universidade Politécnica da Califórnia. 
Foto: Gina N. Cinardo/Divulgação

Psicoterapeuta e assistente social Liz Johnston, professora da Universidade Politécnica da Califórnia – Gina N. Cinardo/Divulgação

Com a validação de quem acredita ser vítima do mesmo tipo de assédio, algumas dessas pessoas deixaram o espaço virtual para atuar também no envolvente analógico. Criaram associações e passaram a encher assembleias estaduais e câmaras municipais de pedidos de informação e sugestões de leis de iniciativa popular para proteger as vítimas do chamado gangstalking – a crença de que se é intuito de uma perseguição organizada por um grupo ignoto de pessoas com acessos a modernos dispositivos capazes de interpretar os pensamentos e modificar o comportamento de suas vítimas.

Professora da Universidade Politécnica da Califórnia, a assistente social e psicoterapeuta Liz Johnston se interessou pelo tema ao constatar que dois de seus pacientes compartilhavam a mesma fé. “Buscando meios de ajudá-los, comecei a pesquisar”, contou Liz, que não tardou a perceber a relevância do tema e suas implicações: embora incerto, o número de pessoas que se autodeclaram indivíduos-alvo não é irrelevante.

Liz está finalizando um livro que deve ser publicado em breve, pela editora inglesa Ethics Press, com artigos inéditos escritos por pesquisadores que já publicaram trabalhos acadêmicos sobre o gangstalking. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista que a professora concedeu à Escritório Brasil, por e-mail.

Escritório Brasil: Primeiramente, o que é gangstalking? Quais suas especificidades?
Liz Johnston: Gangstalking é um noção emergente no campo das crenças persecutórias. Caracteriza-se pela crença pessoal de ser perseguido ou vigiado por um grupo difuso de pessoas. Ao contrário do que acontece nos casos de perseguição individual [stalking], as vítimas do gangstalking não identificam claramente seus perseguidores, acreditando tratar-se, na maioria das vezes, de pessoas associadas a agências governamentais ou autoridades policiais. Essas pessoas se identificam uma vez que indivíduos-alvo (TIs) e relatam invasões domiciliares, vigilância oportunidade ou encoberta, dor infligida por dispositivos remotos e controle eletrônico da mente. O noção abrange áreas uma vez que criminologia, psicologia, redes sociais e serviço social, mas, uma vez que não se encaixa perfeitamente em uma única categoria de investigação, há, ainda, uma escassez de pesquisas acadêmicas.

Apesar disso, os TIs são frequentemente considerados paranoicos. Um diagnóstico que pode fabricar mais problemas do que ajudar a resolver a questão. Há, inclusive, um debate sobre o quão ético é rotular pessoas com diagnósticos estigmatizantes uma vez que paranoia, principalmente diante da falta de tratamentos efetivamente eficazes. Outra questão moral é: por que médicos e psicólogos têm o poder e o privilégio de determinar se os clientes estão delirando? A definição de “teoria delirante” é complexa. Basta ver que muitas pessoas acreditam em fenômenos uma vez que fantasmas ou ovnis [objetos voadores não identificados] e não são taxadas de delirantes.

Escritório Brasil: Fazer essa salvaguarda em relação ao diagnóstico não pode ser percebido uma vez que uma validação da crença persecutória dessas pessoas?
Liz Johnston: Oriente é um ponto-chave no meu livro. Muitos pesquisadores acreditam que os TIs são delirantes porque o controle mental, hoje, seria um tanto impossível, ou porque outras ações relatadas seriam extremamente caras. Há, todavia, um histórico de programas de vigilância governamental voltados contra cidadãos norte-americanos, uma vez que, por exemplo, o Projeto MK-Ultra [programa experimental por meio do qual a Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) financiou experimentos de controle mental sem o conhecimento das “cobaias involuntárias”] que envolveu experimentos com o uso de drogas, eletrochoques, isolamento, ataque e tortura.

Já o Departamento Federalista de Investigação [FBI] infiltrou agentes secretos em organizações políticas, conduzindo projetos secretos e ilegais de vigilância uma vez que secção do seu programa de contrainteligência. De ativistas dos direitos civis a integrantes da Ku Klux Klan foram intuito da vigilância e de ações para desacreditá-los. As informações a reverência desses fatos estão disponíveis na internet, e os TIs acabam recorrendo a elas para fundamentar a crença de que eles também estão sendo perseguidos. Minha tese é que os indivíduos-alvo têm pouco ou nenhum espeque [social]. E que, talvez, nesses casos, a teoria de que um grupo de pessoas se importa com você a ponto de persegui-lo acabe funcionando uma vez que uma espécie de comunidade de espeque. Da mesma forma uma vez que os grupos sobre gangstalking, nos quais esses indivíduos encontram outras pessoas que creem neles que não os rotulam uma vez que paranoicos ou delirantes.

Escritório Brasil: Evitar termos diagnósticos é para não estigmatizar as pessoas?
Liz Johnston: Qual o favor de rotularmos alguém com um problema de saúde mental dizendo “você é paranoico”? Creio não ser construtivo rotular pessoas sem uma teoria válida e sem um tratamento eficiente. Insisto: muitas pessoas acreditam em fantasmas. Por que não rotulamos isso uma vez que um delírio persecutório? Houve casos documentados de perseguição governamental nos EUA — e se alguns TIs estivessem realmente sendo visados pelo governo? O objetivo do livro que lançaremos em breve é revisar as discussões e os pontos de vista atuais sobre o gangstalking, destacando a falta de pesquisa, identificando aspectos desconhecidos e recomendando mais investigações acadêmicas sobre o tema.

Escritório Brasil: Em suas pesquisas, a senhora conseguiu identificar a origem dos termos gangstalking e indivíduos-alvo (TIs)? Desde quando esse tema e vem despertando o interesse de profissionais da saúde e acadêmicos?
Liz Johnston: Os termos gangstalking e indivíduos-alvo tiveram origem em grupos online, criados pelos próprios TIs para terem espaços onde descrever suas experiências. O primeiro cláusula acadêmico sobre o objecto foi publicado em 2015. Nele, a autora, a psicóloga Lorraine Sheridan, usa a sentença group-stalking (perseguição em grupo).

Escritório Brasil: Há registros de que esse fenômeno esteja ocorrendo em outros países além dos Estados Unidos e do Brasil? Há pessoas estudando o gangstalking a sério em outras partes do mundo?
Liz Johnston: Só tenho conhecimento de artigos de pesquisa publicados nos Estados Unidos e na Austrália. Mas, mesmo entre profissionais de saúde dos Estados Unidos, o tema ainda tem pouca visibilidade. Há pouco tempo, fui convidada a fazer uma apresentação sobre gangstalking em hospitais locais, e os profissionais de medicina na audiência mal tinham ouvido falar do objecto.

Escritório Brasil: O que a motivou a estudar o tema? Por que a senhora crê ser importante identificar, descrever e compreender o gangstalking quando alguns especialistas tratam o objecto uma vez que uma típica sintoma psicótica, fenômeno já bastante estudado?
Liz Johnston: Tive dois clientes que acreditavam ser alvos de perseguição organizada. Buscando meios de ajudá-los, comecei a pesquisar e concluí que a paranoia em universal ainda não é muito compreendida, que não há uma teoria harmónico sobre o tema, conforme sustento em um dos meus artigos. Hoje, acredito que o gangstalking é um tema relevante por vários motivos. Nos EUA, por exemplo, ele poder estar associado a comportamentos violentos, conforme apontou a doutora Christine M. Sarteschi. Apesar disso, há, hoje, menos de 15 artigos resultantes de pesquisa escritos em inglês. Em contraste, uma pesquisa recente no Google por gangstalking me devolveu 632 milénio resultados sobre o objecto, incluindo muitos relatos em primeira pessoa.

Escritório Brasil: Considerando o pequeno número de estudos sérios, é verosímil traçar um perfil das pessoas que se identificam uma vez que “vítimas” de gangstalking? A senhora crê que as principais características se mantenham, independentemente da nacionalidade ou cultura, ou tendem a variar?
Liz Johnston: Penso que ainda não há estudos suficientes para estabelecer um perfil detalhado dos chamados indivíduos-alvo. Com base na minha revisão da literatura e na reparo de postagens sobre gangstalking em redes sociais, posso tecer algumas considerações. Geralmente, eles têm mais de 40 anos. Em universal, enfrentaram situações difíceis na vida, uma vez que divórcio, racismo, pobreza, exoneração ou dificuldades para encontrar ofício, além de experiências de ataque ou traumatismo na puerícia. Costumam estar distantes dos familiares e isolados dos vizinhos. Os homens parecem mais propensos a postar sobre suas experiências do que as mulheres. Muitos descrevem sintomas físicos uma vez que dores agudas e dor de cabeça, o que me leva a questionar se esses sintomas podem indicar problemas de saúde não diagnosticados. Para eles, no entanto, não há dúvidas: os sintomas são causados por seus perseguidores.

Escritório Brasil: No Brasil, há indivíduos-alvo que manifestam a crença de que seus perseguidores são grupos a serviço de forças malignas ou diabólicas que pretendem corrompê-los e desviá-los do caminho do muito. Algumas dessas pessoas sustentam que os indivíduos-alvo são escolhidos por Deus, e daí os esforços para desacreditá-los, adoecê-los e levá-los à morte. O que a senhora pensa sobre isso? Esse paisagem religioso poderia tornar o delírio persecutório mais preocupante?
Liz Johnston: Isso também ocorre nos Estados Unidos – murado de um terço dos posts no Reddit e no Quora [redes sociais] faz referência a ideias religiosas e aconselha outros TIs a se voltarem para Deus e orarem para conseguirem mourejar com o gangstalking. Não vejo esse paisagem uma vez que um tanto tão preocupante, pois estou convencida de que as crenças religiosas são realmente úteis para alguns TIs.

Escritório Brasil: No Brasil e nos EUA, há associações legalmente constituídas para promover a crença e proteger os interesses dos indivíduos-alvo. Petições, pedido de informações e propostas de leis de iniciativa popular vêm sendo apresentadas a legisladores de diferentes cidades e estados com base na atuação dessas entidades. A senhora conhece a abrangência das organizações norte-americanas? Até que ponto elas podem propagar esse sistema de crenças persecutórias e mobilizar pessoas?
Liz Johnston: Sei que existem vários grupos nacionais nos Estados Unidos e que eles estão organizando petições para legisladores. De indumento, com base no pedido de uma dessas associações, o Juízo Municipal de Richmond (CA) aprovou, em 2015, uma solução que estabelece que o município é uma zona-segura onde cidadãos não podem ser intuito de armas espaciais (saiba mais cá).

Escritório Brasil: A senhora pode falar um pouco mais sobre seu livro?
Liz Johnston: Enviei uma proposta para a editora Ethics Press, do Reino Uno, que a aceitou. Em seguida, enviei e-mails para todos os autores que publicaram artigos sobre gangstalking e pedi que contribuíssem com capítulos para o livro. A maioria aceitou. No momento, estou editando os rascunhos de capítulos e supervisionando meus alunos de graduação e pós-graduação na escrita dos capítulos de conexão. Pretendo enviar o rascunho final para a editora até meados de setembro. Espero que o livro seja publicado no início de 2025.

É importante procurar ajuda de um profissional capacitado para mourejar com situações difíceis a termo de manter a saúde mental. O Meio de Valorização da Vida (CVV) oferece um serviço de escuta acolhedora e espeque emocional, disponível no telefone 188. Há também o Planta da Saúde Mental, utensílio que permite a procura de serviços públicos e gratuitos por localidade.

Fonte EBC

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