Talvez a informação lhe surpreenda, mas há realmente bastante roubo em Londres. Digo “bastante” sem nenhuma sustentação estatística, exclusivamente com base na verificação entre a expectativa gerada quando se trata de um país rico porquê a Inglaterra, e a verdade encontrada quando se aterrissa por cá. Entre os meus amigos próximos, por exemplo, poucos são os que não foram assaltados desde que se mudaram para a cidade. Com base no meu próprio Data Amigos, contabilizo entre os delitos mais comuns os roubos de celular, seguidos de sege e bicicleta.
Na minha rua mesmo é geral trespassar pela manhã e encontrar pelo menos um sege estacionado com os vidros estilhaçados e cacos espalhados pelo pavimento. A cena é tão rotineira que há aqueles que adotam a tática do diálogo porquê tentativa de prevenção, apelando para a racionalidade dos bandidos, com bilhetes grudados nas janelas avisando: “não há zero de valor cá, siga em frente”.
Feliz ou infelizmente, não possuo nenhum meio de transporte para invocar de meu ou para um bandoleiro invocar de seu. Mas tenho persuasão absoluta de que o roubo de qualquer um desses outros pertences não teria me causado nem um terço do sofrimento que senti quando me dei conta de que tinham levado meu celular.
É verdade que na última vez em que tive o telefone roubado, os assaltantes nem se fizeram perceber. Simplesmente pegaram o aparelho de dentro do meu bolso sem que eu nem me desse conta. Profissionalismo puro. Mas se não houve qualquer prenúncio à minha integridade física, e sei que devo ser grata por isso, poucas coisas na vida me violentaram tanto quanto saber que o meu telefone estava nas mãos de um incógnito.
Há tempos tento em vão ressignificar a minha relação com esse objeto inanimado, reconhecendo que nos últimos anos nossa convívio se tornou um tanto tóxica. Mas é difícil negar o quão dependente nos tornamos desses pequenos aparelhos. Quando coloquei a mão no bolso e senti o vazio, instantaneamente perdi a capacidade de me localizar, de me exprimir. Me levaram de uma vez só a carteira, o relógio, o conjunto de notas, a agenda, o álbum de fotos. Levaram o telefone, mas parecia que tinham levado um pedaço do meu corpo, ou a habilidade de usar minhas mãos sem o aparelho que havia se tornado sua extensão proveniente.
De todas as coisas que o bandoleiro poderia acessar, a conta do banco me preocupava, evidente. Era dia de pagamento e o combo conta enxurro e compras por aproximação não é dos mais tranquilizadores. Mas foi a possibilidade de ter o meu álbum de fotos exposto a um incógnito que mais mexeu comigo. Saber que aquela pessoa estranha tinha aproximação aos registros mais privados da minha família, aos momentos mais preciosos dos meus filhos, foi porquê se tivessem entrado na minha vivenda e dormido na minha leito.
No Data Amigos —novamente ele, minha grande manadeira de informação— realizado pós-assalto uma reação foi geral a todos os entrevistados que já haviam pretérito pelo mesmo: a sensação de invasão. Segundo uma pesquisa, esta realizada por fontes críveis e confiáveis, murado de metade das pessoas chora ao perceber que teve seu telefone roubado. Está aí uma estatística da qual faço secção. Chorei copiosamente em ambas as ocasiões em que o mesmo aconteceu comigo. Outra pesquisa aponta o Brasil porquê o quarto país com o maior número de viciados em celulares. Dessa, sem incerteza, também faço secção (apesar de não morar mais no Brasil).
A verdade é esses pequenos aparelhos ganharam tanto protagonismo nas nossas vidas que é difícil imaginar uma hora, que dirá um dia, sem eles. Ter meu telefone roubado foi porquê ser internada à força numa clínica de restauração. E porquê viciada ainda em estado de negação do meu próprio vício, tratei de me dar subida rapidamente e saí no dia seguinte para comprar outro.
Saí da loja com um novo telefone em mãos. Mais tecnológico, com mais funções e megapixels, perfeito para ocupar ainda mais terreno na minha vida. Mas depois dessa última internação compulsória a uma vida sem celular, me prometi tentar fazer certas mudanças. E, se ainda não estou preparada para um tratamento de choque para o meu vício, pelo menos tenho tentado colocá-lo no modo avião na hora de dormir.
Porquê secção da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura do dedo gratuito
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul inferior.