Produtores de teor e influenciadores digitais contam a partir de agora com um manual para ajudá-los a difundir informações com fontes confiáveis e verificadas em momentos de crise, uma vez que a tragédia das enchentes que atingem o Rio Grande do Sul. Pensando no aumento das notícias falsas (ou fake news) publicadas nas redes sociais, a organização não governamental Redes Cordiais, em parceria com a plataforma YouTube, lançou o Guia Responsável em Situações de Emergência – Chuvas no Rio Grande do Sul.
O ponto de partida para elaborar esse manual foi a teoria de que as redes sociais têm sido uma das principais formas de notícia para resgatar as vítimas e recepcionar doações, além de contarem com as informações em tempo real, e o trajo de que aumento da desinformação prejudica o trabalho de voluntários, das entidades sociais e do poder público.
Segundo o Redes Cordiais, há no Brasil mais de 500 milénio influenciadores com mais de 10 milénio seguidores, número superior ao verificado em outras profissões tradicionais uma vez que engenharia social, dentista e arquitetos, de convenção com dados de 2022 da consultoria Nielsen. O Brasil é o segundo país que mais segue influenciadores (44,3% dos usuários da internet), detrás unicamente das Filipinas (51,4%), segundo as agências Hootsuite e We Are Social, o que mostra o poder da disseminação de conteúdos.
De convenção com a cofundadora do Redes Cordiais, Clara Becker, há diversos fatores que propiciam o surgimento das fake news em momentos críticos ou eventos de grande repercussão pátrio. “Todos ficam muito tomados por emoções e nesse estado o ser humano perde o siso crítico, não faz boas avaliações sobre o que está acontecendo e deixa-se levar por informações sem verificar, sem pensar racional e friamente.” Outrossim, ela destaca o grande volume de informações que circulam nesses momentos, criando uma desordem informacional e impedindo as pessoas de separar o que é verdadeiro do que é falso.
“Existe ainda um labor dos influenciadores de dar aquela informação primeiro do que os outros, de falar sobre um pouco antes dos outros se antecipando nesse efeito manada que também leva a um compartilhamento irrefletido de conteúdos. Há essa pressa de querer dar a informação logo e não permanecer para trás, uma vez que se fosse uma corrida. E aí tem pessoas com más intenções que querem se aproveitar dessa situação para conseguir mais visualização, mais likes”, explicou.
Clara afirmou ainda que momentos uma vez que o que o país vive atualmente reforçam que os influenciadores têm uma responsabilidade imensa e que precisam ter ferramentas para se prepararem e exercerem essa responsabilidade com congruência e consciência. “É a questão do desvelo com a integridade da informação. Uma informação de qualidade pode salvar vidas. Temos casos de fake news que levaram até a mortes. Logo é preciso muito desvelo com a verdade e com a utilidade da informação.”
O guia lista nove dicas para os produtores de teor em momentos de crise. A primeira recomenda que o teor repostado seja de organizações confiáveis, porque dessa maneira é verosímil aumentar o engajamento e o alcance de quem está diretamente envolvido nos resgates e escora às vítimas; a segunda se refere à checagem de informações, já que, em situações de tragédia, é geral receber fotos, vídeos e áudios em grupos de mensagens, mas nem sempre esse material é verdadeiro.
O terceiro ponto alerta para que os produtores de teor exerçam a influência responsável com a sua audiência. “Agências de checagem uma vez que Lupa e Aos Fatos estão publicando checagens das postagens que estão viralizando. Vídeos, fotos e áudios descontextualizados podem exacerbar o clima de pânico e ter consequências reais. Aproveite que você tem uma grande audiência para repostar as checagens feitas por jornalistas profissionais e ajude a frear a desinformação”, diz o guia.
Segundo o manual, os influenciadores devem ainda educar seus seguidores, já que a inoculação é uma forma de gerar resistência psicológica a uma informação falsa, semelhante ao modo de funcionamento de uma vacina, assim é preciso explicar aos seguidores quais são os tipos de informações falsas que estão circulando. A quinta dica alerta para os cuidados com as teorias da conspiração, porque em casos de pânico, uma vez que a incidência de fortes chuvas, secas e queimadas, é geral ressurgirem teorias da conspiração sobre “lição divino” e “termo do mundo”, sem embasamento em fontes confiáveis.
Outra atitude que os criadores de teor podem ter, segundo o manual, é o fortalecimento de ações locais, o que significa direcionar os seguidores para iniciativas de instituições locais em vez de gerar uma novidade campanha ou vaquinha. A sétima recomendação é a de que o influenciador proteja seu aparelho e seus perfis para evitar que golpistas tentem hackeá-los para encaminhar os seguidores para campanhas e vaquinhas falsas.
De convenção com o guia, é preciso ainda ter desvelo com golpes financeiros com imagem do influenciador, porque há golpistas usando vídeos reais dessas pessoas públicas para pedir doações por meio de links suspeitos. “Inclua marcas d’chuva nos seus vídeos e evite publicações com links e chaves Pix. Avise os seus seguidores que esses golpes estão acontecendo para terem desvelo ao acessar links suspeitos de pagamentos e peça que verifiquem todos os dados da instituição de direcção antes de efetuar qualquer transferência bancária.”
Por último o manual aconselha o produtor de teor a cuidar de sua saúde mental. “A empatia e a solidariedade são importantes para superar um traumatismo coletivo, mas é preciso colocar a própria máscara de oxigênio para depois ajudar o outro.”