Rupaul Fala De Drogas, Censura E Se Cala Sobre Trump

RuPaul fala de drogas, censura e se cala sobre Trump – 03/04/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

RuPaul aparece sem peruca e de rosto lavado na revestimento do seu livro “A Mansão dos Significados Ocultos”. É uma retrato em preto e branco, feita há muro de 20 anos, quando o artista cultivava bigode e cavanhaque. Em zero se parece às capas dos seus outros livros, com ele montado de drag queen, usando cabeleiras espalhafatosas, roupas femininas, lápis de olho e batom.

Alguns desavisados decerto não saberiam que a novidade obra fora escrita pelo artista drag mais famoso dos Estados Unidos —não fosse seu nome impresso em letras garrafais no topo da revestimento.

É uma vez que se agora RuPaul quisesse ser mais o pai e menos sua pessoa. “Não vivo o tempo todo montado de drag. Essa foto foi tirada quando eu tinha 40 anos. Paladar dela porque estou sério e olhando diretamente para a lente da câmera. É mal acordei nesta manhã, e é esta a pessoa que me tornei depois de permanecer sóbrio”, diz à Folha.

É a vontade de RuPaul de olhar para o pretérito e para seu eu interno que dá a tônica deste livro de memórias publicado pela Intrínseca.

Ele fala de forma minuciosa da sua puerícia pobre, das brigas com a família, da exploração da sua sexualidade e da juventude regada a álcool, maconha, LSD e até cocaína.

Sóbrio há quase 25 anos, o artista lembra das drogas com patente saudosismo. “Apaguei todo o simulação nesse livro. E tenho gratidão por essa era [de dependência] porque me diverti muito. Fumar maconha silenciou meus sentimentos até que eu aprendesse a mourejar com eles.”

Muitos dos seus traumas nasceram dentro de lar. Rebento de um conúbio fadado ao termo, RuPaul decidiu, ainda rapaz, que sua missão era tentar distrair a mãe da infelicidade.

Fazia perdão com pó no rosto e uma toalha enrolada na cabeça. A reinação de rapaz virou profissão no horizonte. “RuPaul’s Drag Race”, reality de competição entre drag queens, o transformou num nome incontornável da cultura LGBTQIA+.

Mas a relação de companheirismo não existia com o pai. RuPaul afirma que o progenitor era um subserviente nato de mulheres, só prestava atenção nas irmãs e que mal notava sua existência. O jeito, ele escreve no livro, foi se transformar na pequena mais formosa que aquele varão pudesse saber.

“Minha drag nasceu da tentativa de impressioná-lo”, ele diz. “Meu pai era raso. A maioria de nós bloqueia sentimentos desde cedo, e ele era uma destas pessoas.”

Ter desenvolvido num lar pouco funcional fez RuPaul sonhar desde garoto com a teoria de virar o que ele labareda de “alguém inteligente”. Não eram os atores de Hollywood, políticos ou qualquer pessoa famosa, disso tinha certeza. Os espertos eram pessoas anônimas, escondidas por aí, sagazes demais para revelar quem são.

Essa percepção não mudou, afirma ele, hoje aos 63 anos. “Pessoas inteligentes ainda ficam nos bastidores porque ficou mais difícil ter opiniões. Os ânimos estão muito inflamados. Essa vaga de superioridade moral que varreu o mundo não permite mais uma conversa madura. É ridículo.”

Movido por leste incômodo, RuPaul criou um ônibus matizado que vai rodar pelos Estados Unidos para partilhar livros que foram perseguidos e censurados, a maioria de temática LGBTQIA+ ou escritos por autores não brancos.

Os Estados Unidos têm vivido uma crise de exprobação e proscrição de títulos. Em 2022, grupos conservadores pediram que 2.571 títulos fossem retirados de bibliotecas, segundo levantamento de uma instituição de resguardo da liberdade de sentença. Justificam falando em proteger crianças de assuntos inapropriados.

Foram caçadas obras uma vez que “Nem Todos os Meninos são Azuis”, sobre um menino preto e LGBTQIA+, e também “Gênero Queer”, quadrinho de caráter biográfico sobre uma pessoa não binária que foi criminado de sofrear trechos com potente texto sexual.

“Estão usando as crianças uma vez que desculpa. A verdade é que nós, pessoas não brancas, e de outras minorias, estamos ganhando o mundo”, afirma RuPaul. “O que eles estão fazendo é expressar ‘se tem gente novidade entrando no parquinho, vou pegar meus brinquedos e ir embora ou vou prometer que ninguém se divirta’. Querem estragar a sarau.”

“Em ‘O Mágico de Oz’, Dorothy diz ‘por que essa feitiçeira me odeia tanto?’. O ponto é que a feitiçeira não tem ódio, mas ciúmes da sua alegria, da sua cor e do seu espírito. É isso que acontece hoje. Pessoas tentam embatucar amantes da música, da arte, da alegria, da rima e da dança.”

Há tempos RuPaul mostra ser engajado com assuntos que tangem política e os rumos da sociedade americana. Antes das eleições para presidente dos Estados Unidos de 2016, o artista definiu Donald Trump uma vez que um “fanfarrão pomposo que não sabe zero sobre diplomacia” e chamou Hillary Clinton, também candidata à era, de “fodona que sabe fazer as coisas recta”.

Três anos depois, na 11ª temporada do programa “Drag Race”, RuPaul pediu que as competidoras apresentassem um músico que misturasse “Grease” com a vida política americana e as polêmicas de Trump, portanto presidente.

Mas agora que as eleições presidenciais se aproximam, RuPaul se cala. Diz não querer falar de política nem do procuração do atual presidente Joe Biden. Questionado sobre uma verosímil vitória de Trump, que tenta voltar ao poder, afirma exclusivamente querer que a população vá às urnas. O artista perde a paciência ao ouvir uma pergunta sobre políticas LGBTQIA+, e pede para voltar a falar do livro.

A recusa não condiz com seu histórico de pitacos políticos. Há duas semanas ele publicou um vídeo no Instagram ao lado da vice-presidente Kamala Harris pedindo que os cidadãos americanos se registrem para votar. No livro que acaba de lançar, ataca políticos conservadores, dizendo que eles se opõem ao monstruosidade, mas abrem exceção para as próprias mulheres.

Sua consciência libertária foi construída a partir das injustiças que sofreu, mormente em San Diego, cidade na qual passou a puerícia, onde ouviu que era uma bichinha —papel que se sentiu imposto a desempenhar, diz—, e onde garotos negros eram reprimidos.

Se mudou para Atlanta, cidade que lhe parecia muito mais progressista no debate racial. Mais velho, e já imerso no mundo LGBTQIA+, RuPaul se apaixonou pelo anarquismo do movimento punk. É mais ou menos nesse contexto que nasce sua drag queen.

Se virava uma vez que podia para lucrar quantia. Teve bandas que não deram patente, trabalhou uma vez que gogo boy, em restaurantes e num cinema. Também pediu para entrar no elenco do programa The American Music Show, que o encantou por razão do humor galhofa.

Migrou depois para Novidade York, cidade da qual não gostava, mas onde vislumbrava melhores oportunidades artísticas. Foi numa dessas que conheceu Madonna, de quem diz ter recebido um olhar de vaia e de ira, uma vez que se ele estivesse atrapalhando por pisar no mesmo cômodo que ela. “Madonna é uma artista incrível. Ela é reluzente”, RuPaul se limita a expressar hoje.

“A Mansão dos Significados Ocultos” tem esse título porque RuPaul se sente uma vez que um detetive do universo, que vasculha casas detrás de pistas na tentativa de desvendar uma vez que as coisas funcionam. São as dezenas de contradições, reflexões e convicções escritas nas páginas que formam o artista, considerado uma das drag queens mais importantes do mundo.

“Espera, uma das maiores?”, RuPaul interrompe leste repórter. “Travei nessa segmento. Desculpe, existem outras?”. Faz-se um silêncio constrangedor.

Até que ele irrompe numa gargalhada. “Estou brincando. Estou só fazendo uma piada.”

Folha

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