Ruth De Souza: Atriz Foi A Primeira A Representar Brasil

Ruth de Souza: Atriz foi a primeira a representar Brasil – 01/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Neste domingo, a cerimônia do Oscar pode marcar um dos momentos mais importantes para o cinema brasílio. Concorrendo em três categorias, o filme “Ainda Estou Cá”, do diretor Walter Salles, pode finalmente levar a estatueta dourada. A atriz Fernanda Torres também disputa o prêmio de melhor atriz, aumentando a expectativa do público.

Mas essa não é a primeira vez que uma brasileira é reconhecida internacionalmente em premiações desse porte. Antes mesmo da mãe Fernanda Montenegro, que também é consagrada por seus papéis e prêmios internacionais, um outro rosto da dramaturgia levou o cinema vernáculo para o exterior décadas detrás.

Em 1953, Ruth de Souza representou o Brasil no Festival de Veneza por sua atuação em “Sinhá Moça”, filme dirigido por Tom Payne e Oswaldo Sampaio que disputou o Leão de Ouro, prêmio principal do evento. Sua performance chamou tanta atenção que ela virou uma das favoritas para levar a Despensa Volpi, o prêmio do festival para os melhores atores e atrizes entre os filmes concorrentes, ao lado de estrelas uma vez que Katharine Hepburn, Michèle Morgan e Lilli Palmer.

Segundo especialistas ouvidos pela DW, a indicação teve um peso potente na estação. O Festival de Veneza, o mais vetusto do cinema mundial, é um dos que mais tem prestígio no setor.

“Cannes é o mais importante, mas Veneza é o mais vetusto, portanto, tem um ‘saborzinho’ mais privativo lucrar lá”, explica Chico Fireman, crítico de cinema e integrante da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). “O Leão de Ouro é um dos prêmios mais respeitados do cinema mundial”, complementa.

Embora tenha saído sem o troféu, Ruth de Souza deixou sua marca no festival e ajudou a colocar o Brasil no radar do cinema internacional.

Ao longo de sua curso, a atriz acumulou participações em filmes, novelas e peças teatrais, consolidando-se uma vez que uma das figuras mais importantes da dramaturgia vernáculo. Seu trabalho abriu caminho para gerações futuras, incluindo artistas uma vez que Zezé Motta e Taís Araújo, que a reconhecem uma vez que referência, reafirmando a inspiração em entrevistas e posts nas redes sociais.

Trajetória: teatro, novelas e cinema

Ruth de Souza nasceu no Rio de Janeiro em 12 de maio de 1921 e passou a puerícia em uma rancho no interno de Minas Gerais. Começou a se interessar por teatro ainda jovem, ao ver a um espetáculo no Teatro Municipal do Rio.

Mas foi no Teatro Experimental do Preto (TEN), liderado por Abdias do Promanação, que a atriz iniciou sua curso, estreando em “O Imperador Jones”, de Eugene O’Neill, em 1945.

“O TEN não foi unicamente um grupo teatral, mas também um movimento político e artístico, que visava debater a representatividade negra no Brasil e promover a paridade racial, com atividades uma vez que o jornal O Quilombo e cursos de alfabetização para trabalhadores no prédio da UNE (União Pátrio dos Estudantes])”, explica Mariana Mayor, professora do departamento de Artes Cênicas da Escola de Notícia e Artes da USP.

“Foi no TEN que Ruth foi reconhecida uma vez que atriz profissional, e ali foi uma das primeiras artistas a entrar no mercado das artes no Rio de Janeiro, a primeira atriz negra a se apresentar no palco do Teatro Municipal do Rio”, diz Mayor.

Em 1948, Ruth se lançou no cinema com “Terreno Violenta”, adaptação de obra de Jorge Estremecido. Atuou em diversas produções de grandes empresas uma vez que Atlântida, Maristela Filmes e Vera Cruz, com destaque para “Ângela”, de 1951, “Terreno é Sempre Terreno”, de 1952, e “Sinhá Moça”, de 1953, filme que lhe rendeu reconhecimento internacional.

Aliás, Ruth foi reconhecida com uma bolsa da Instauração Rockefeller, o que a levou a estudar nos Estados Unidos, onde aperfeiçoou sua formação e se preparou para desafios profissionais ainda maiores.

De volta ao Brasil, continuou a se realçar no cinema e na televisão, conquistando papéis importantes. Em 1969, tornou-se a primeira atriz negra a protagonizar uma romance na TV Orbe, “A Colmado do Pai Tomás”, ao lado de Sérgio Cardoso.

Ruth permaneceu relevante na cena artística brasileira por várias décadas, participando em filmes e novelas até os anos 2000. Seu último trabalho na televisão foi na série “Se Eu Fechar os Olhos Agora”, também da TV Orbe, que estreou no primeiro semestre de 2019. A atriz morreu em julho do mesmo ano, aos 98 anos.

Simbolismo para atrizes negras

A presença de Ruth de Souza em uma premiação internacional foi um marco não unicamente para o cinema brasílio, mas também para a representatividade negra nas telas. Em uma estação em que atrizes negras raramente tinham papéis de destaque, sua indicação ao prêmio em Veneza simbolizou um progresso na luta por mais espaço na indústria cinematográfica.

Para Fireman, a trajetória da atriz no Festival de Veneza se destacou porque, naquela estação, atores negros tinham ainda menos espaço do que hoje. “O indumentária dela ter chamado a atenção e ter sido considerada para uma premiação já a colocou em um rol de atrizes diferenciadas”, explica. Ele também destaca que sua atuação fez com que a questão racial ficasse em segundo projecto diante da qualidade de seu trabalho.

A professora de cinema Ana Roberta Alcântara, da FAAP, reforça que Ruth enfrentou dificuldades ao longo da curso, mas persistiu. “Ela ouviu que não haveria espaço para ela uma vez que atriz por ser negra, mas ocupou esses espaços. Foi a primeira atriz brasileira a concorrer a um prêmio internacional”, afirma.

Segundo Alcântara, a sociedade da estação tinha um padrão rígido sobre os papéis que cada um poderia ocupar, e não era geral que uma atriz negra brasileira alcançasse visibilidade em um dos festivais mais prestigiados do mundo.

Já para Mayor, da ECA-USP, a indicação de Ruth de Souza ao prêmio tem um peso simbólico por desafiar valores ideológicos presentes na própria indústria cinematográfica. “A valorização de padrões de atuação ligados a fenótipos e origem social, junto à persistência do racismo anti-negro, estavam em jogo no festival”, analisa. Ela lembra uma fala da atriz em sua biografia: “O indumentária é que não existia espaço para o ator preto. Era uma veras da estação. Hollywood também massacrava seus artistas.”

Legado pouco lembrado

Apesar de ser uma das pioneiras do teatro e cinema brasílio, Ruth de Souza enfrentou o apagamento de sua trajetória, um fenômeno geral na história das artes no país, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem.

Para Mayor, isso é revérbero dos conflitos raciais e das lacunas históricas que, embora hoje questionadas, ainda persistem no imaginário coletivo. “Até pouco tempo, Ruth de Souza era um nome raramente lembrado. E até pouco tempo, atores brancos pintavam seus rostos de preto para simbolizar personagens negros”, observa.

O esquecimento de sua história é também secção de um quadro mais espaçoso, onde o reconhecimento das conquistas de artistas brasileiros, mormente negros, é restringido. Fireman reforça essa visão, lembrando que, em muitas ocasiões, o público brasílio tem uma memória curta sobre os feitos cinematográficos do país. “Nosso foco recai sobre os prêmios de prestígio, uma vez que o Oscar e Cannes, enquanto esquecemos marcos importantes”, explica, citando uma vez que exemplo a conquista da Palma de Ouro pelo Brasil em 1962 com o filme “O Pagador de Promessas”.

A falta de uma premiação para Ruth de Souza, mormente o Leão de Ouro no Festival de Veneza, é destacada uma vez que sintoma de um problema mais profundo: o preconceito racial que permeia a história do cinema brasílio. Embora sua atuação tenha sido o grande destaque em “Sinhá Moça”, a falta de um prêmio solene tornou sua história “mais nebulosa”, segundo Fireman, contribuindo para o apagamento de sua prestígio.

Folha

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