Salgueiro Mostrará Manifestações Culturais Para Fechar O Corpo

Salgueiro mostrará manifestações culturais para fechar o corpo

Brasil

Salgueiro de corpo fechado é o enredo que a vermelho e branco da Tijuca, zona setentrião do Rio de Janeiro, leva levante ano para a Avenida Marquês de Sapucaí. É sobretudo um resgate de uma risca de desfiles da escola que muitas vezes defendeu títulos com temas de origem africana.

O carnavalesco Jorge Silveira disse que o desfile é um retorno da escola à sua raiz afro-brasileira e “um mergulho sério e profundo na variedade das culturas religiosas do Brasil”.

De tratado com o carnavalesco, o Salgueiro se propõe a fechar o seu próprio corpo para transpor a maior encruzilhada do sambista, a Marquês de Sapucaí, e vai fazer isso recorrendo a toda sua memória afetiva, aos seus símbolos mais fortes. “É o Salgueiro descendo o Morro do Salgueiro para poder disputar o carnaval, para poder transpor aquela jornada de uma forma material e de uma forma místico. Nosso enredo consiste em trasladar na avenida todos os rituais ou grande segmento dos rituais de fechamento de corpo nas mais diferentes culturas religiosas brasileiras”, afirmou.


Brasília (DF) 24/02/2025 - Carnavalesco Jorge Silveira da escola Salgueiro.
Foto: Comunicação Salgueiro/Divulgação
Brasília (DF) 24/02/2025 - Carnavalesco Jorge Silveira da escola Salgueiro.
Foto: Comunicação Salgueiro/Divulgação

Carnavalesco Jorge Silveira, do Salgueiro – Foto: Notícia Salgueiro/Divulgação

O pesquisador do Salgueiro, Leo Antan, lembrou que o Salgueiro tem esse pioneirismo de apresentar enredos afro desde a dezena de 60 com Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, carnavalescos que marcaram a história do carnaval carioca, por traduzirem essa cultura de enredos africanos e de enredos que falam das histórias negras.

“A gente segue nessa vertente acreditando em um reencontro do Salgueiro com a identidade dele mesmo. Reafirmando essa identidade e trazendo de volta essa postura do Salgueiro”, disse Antan à Sucursal Brasil.

Enredo

Desta vez, a história começará a ser contada a partir da chegada na Bahia de africanos muçulmanos escravizados e da legado que veio, sobretudo, dos povos mandingas de Mali, no Setentrião da África. Vai passar também outros aspectos da procura da proteção.

“Essa cultura trazida para o Brasil, das chamadas bolsas de mandingas, reflete em vários rituais e elementos da cultura brasileira de maneira universal. A gente passeia desde a Bahia com a chegada desses escravizados chamados escravos malês, passamos também pelo nordeste com a cultura do cangaço, por elementos indígenas, até chegar nas umbandas e nos candomblés cariocas”, explicou.

Leo Antan revela porquê o enredo, que passeia por regiões da cultura brasileira e geográficas também, será mostrado na avenida. “A gente tem na preâmbulo um olhar para o próprio Salgueiro, o Morro do Salgueiro descendo para a avenida e fechando o seu próprio corpo. A partir disso, a gente começa a segmento mais histórica que passeia pelo Predomínio Mali, do povo mandinga. A gente fala da Bahia e de porquê esses escravos africanos chegaram ao Brasil. Da Bahia a gente continua no Nordeste para falar do cangaço que se protegia e trouxe amuletos e patuás. O quarto setor é indígena, logo, a gente passa pelo Setentrião e Nordeste com grande influência indígena, e nos dois últimos setores a gente volta para o Rio [de Janeiro] para falar da umbanda e do candomblé cariocas, da Lapa, desse universo da malandrice carioca”, descreveu.

Antan disse que o enredo foi resultado de um longo processo que desenvolveu com o carnavalesco Jorge Silveira e o enredista Igor Ricardo, ainda no pré-carnaval. “A gente teve algumas outras opções durante essa preparação, mas falou mais cumeeira o libido da direção da escola de fazer um tema que voltasse para essa religiosidade africana. Aí a gente chegou nessa teoria pesquisando a religiosidade brasileira de fazer esses rituais de fechamento do corpo”.

O libido da diretoria da escola de samba era também o dos componentes, que se identificam muito com os enredos afro. “Eles adoram. A gente percebe nos ensaios essa alegria do salgueirense poder se reencontrar e reafirmar isso de maneira muito poderoso”, observou.


Brasília (DF) 24/02/2025 - Detalhe de uma alegoria da escola Salgueiro.
Foto: Roberto Narciso/Divulgação
Brasília (DF) 24/02/2025 - Detalhe de uma alegoria da escola Salgueiro.
Foto: Roberto Narciso/Divulgação

Parábola da Escola de Samba Salgueiro – Foto: Roberto Narciso/Divulgação

Para o pesquisador, o samba também ajudou nessa identificação da comunidade salgueirense. “A gente teve também a felicidade de escolher um samba incrível, que tem um refrão muito poderoso, que labareda a comunidade. A gente tem visto essa felicidade com satisfação de se reconhecer. É muito importante uma escola de samba gerar esse reconhecimento da comunidade e eles comprarem e se sentirem pertencentes à teoria”, disse.

De tratado com Leo Antan, o público pode esperar um desfile com a identidade do Salgueiro, garantindo que, apesar de trazer temas que já foram até mostrados na avenida, a escola vai surpreender.

“Vamos ter efeitos em alegorias. A gente tem uma equipe de Parintins muito capacitada que trabalhou em todas as alegorias. É uma aposta nesse sentido de inovação e de buscar novos signos para esses elementos das religiões de matriz africanas que a gente já viu bastante nos desfiles, mas também com a identidade do Salgueiro, quanto do Jorge Silveira, que é o carnavalesco que tem o traço muito privado também”, adiantou.

Parintins

Segundo Antan, a junção das alegorias com tecnologia de Parintins e iluminação programada conforme a escola vai se apresentando é um bom enlace que tem oferecido bons resultados, e com o Salgueiro não é dissemelhante. “A gente teve já nos últimos carnavais alegorias que se destacaram com esses profissionais, o São Jorge da Vila Isabel [alegoria sensação do carnaval de 2023] e outras alegorias. Logo, a gente contratou uma equipe que ficou exclusiva do Salgueiro. São 12 profissionais que vieram do festival [de Parintins] para fazer todas as esculturas e movimentos das nossas alegorias”, revelou o pesquisador.


Brasília (DF) 24/02/2025 - Jucelino Belém Ribeiro artista de Parintins que trabalhou nas alegorias do Salgueiro.
Foto:  Jucelino Belém Ribeiro /Arquivo pessoal
Brasília (DF) 24/02/2025 - Jucelino Belém Ribeiro artista de Parintins que trabalhou nas alegorias do Salgueiro.
Foto:  Jucelino Belém Ribeiro /Arquivo pessoal

Jucelino Belém Ribeiro artista de Parintins trabalha nas alegorias do Salgueiro – Foto: Jucelino Belém Ribeiro /Registo pessoal

“Eu estava assistindo [na TV] e veio aquela peça do São Jorge e me arrepiou. Eu sabia que eram uns amigos meus que construíram. Foi um orgulho muito grande para nós. É a evolução que fica marcada. A gente quer um diferencial para deixar alí, marcado na escola ou no carnaval. São Jorge vai ser lembrado por muitos anos”, garante o artista do Boi Caprichoso Jucelino Belém Ribeiro.

Oriente ano é o primeiro que ele trabalha no Salgueiro, mas desde 2007 já pôde dividir a sua experiência em outras escolas. A primeira foi a Unidos de Vila Isabel, escola da zona setentrião do Rio de Janeiro. No início era pintor de arte, e na idade em que trabalhou com o ex-carnavalesco da Imperatriz Leopoldinense Cahê Rodrigues, entre 2014 e 2017, passou a ser ferreiro. Jucelino faz segmento de uma equipe de Parintins que veio para o Rio para desenvolver a tecnologia do Boi-bumbá no Grupo Privativo.

A imagem que via, lá em Manaus, na transmissão dos desfiles, foi o que despertou a vontade de participar desse universo.

“Agora a gente já tem mais experiência na tecnologia. É a nossa diferença, principalmente na segmento da robótica, com alegorias que se mexem. As coisas todas evoluem e vem todo mundo de lá [Parintins]. A gente faz uma maquete e começa a construção. É mal funciona”, explicou.

Nesses anos de função no Rio de Janeiro, Jucelino teve oportunidade de integrar uma equipe campeã. “Foi o ano em que a professora Rosa Magalhães foi campeã. Foi meu último ano que trabalhei lá na Vila”, lembrou.

Jucelino chegou a permanecer distante do carnaval do Rio, mas não resistiu ao contato do Salgueiro. “A diretoria foi até Parintins, a gente teve uma conversa, apresentou o projeto, e isso me interessou. Foi por isso que eu voltei para o carnaval depois de 5 anos. O Salgueiro vai surpreender e muito”.

Modista

Luciene Ferreira Moreira, 62 anos de idade, é modista do Salgueiro há 19 anos, e desde o ano pretérito coordena o setor importante para o visual da escola. Ela trabalha no barracão na produção de fantasias da comunidade, que são distribuídas pela própria escola, porquê das baianas, passistas e alas comerciais. 

“O meu sentimento é um sentimento gratificante de ser salgueirense e estar fazendo a roupa. É a minha escola de coração. Para as pessoas que trabalham na escola de coração, é mais gratificante ainda”, disse à Sucursal Brasil.

“Eu caio em pratos”, revela Luciene ao expressar a emoção que sente ao ver no desfile as fantasias que produziu no barracão. “Quando o meu camarada falou a escola está linda, a lágrima desceu e não parei mais de chorar. Só parei de chorar quando cheguei perto do Xande de Pilares. Ele é a alegria, ele é o rosto”. 

O cantor, compositor e ator Xande de Pilares, morou segmento da puerícia no Morro do Turano, na Tijuca, e passava momentos na quadra do Salgueiro.

A proximidade da modista com o artista foi fortalecida durante uma visitante dele ao barracão. “Ele fez uma melodia para mim, na hora”.

Luciene disse estar animada com a expectativa do desfile. “O samba é muito poderoso, fala de macumba mesmo, porque, graças a Deus, eu sou espírita, e só de falar ‘eu adorei as almas’, arrepia a gente e vai ouriçar na avenida com as fantasias também”, assegurou.

Fonte EBC

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